Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

sábado, setembro 29, 2007

náuseas e caprichos

Quando ontem eu já me estava a sentir melhor, lá para o fim do dia, liga o Bola, que foi passar o fin de semaine a Munique:
B - Olá! Estás melhor ou nem por isso?
M - Hmm...ähhhh... para me sentir melhor, só se tivesse aqui um gajo a cozinhar para mim algo exquisite, digno de cuisine asiática. E outro a massajar-me enquanto outro me lia histórias obscenas... (quando o Bola fica muito tempo em silencio, costumo calar-me depressa)
B - Comprei um casaco!!
M - Ai sim? Onde?
B - Aquele que tínhamos visto há dois meses na Wormland.
M - oohhh...

Foi aí que deixei de sentir melhoras, muito pelo contrário. Ora, que fique registado que o Bola - GAJO - comprou um casaco que custa quase tanto como a nossa renda da casa. Nao sei se rie. Nao sei se chore. Mas realmente triste e constipada já nao era divertido. Agora, para juntar ao rol das desgracas, vou passar o mes de Outubro a maizena e a pao de forma de compra.
Isto para sustentar um capricho do gajo com quem casei. E ainda falam de mulheres e sapatos... pff. Estou-me mesmo a sentir mal. E já me esquecia daquela parte em que o gajo da loja - homossexual assumido (que eu já conheco) - se fez a ele descaradamente, sugerindo um encontro depois da transaccao. O Bola nunca mais vai sozinho comprar roupa. Alias, o Bola nunca mais vai comprar roupa. Vou mandá-lo numa missao para Africa. Ou para o Tibete, para junto dos monges. Vaidade masculina em demasia é muito feio. Nao há nada que me deixe mais desinteressada do que a vaidade masculina. Mas é um casaco que dura para a vida! ---> este argumento faz-me agarrar na almofada mais próxima para abafar os meus gritos. Mas quem é que hoje em dia compra roupa prá vida??

sexta-feira, setembro 28, 2007

assim se vai

Em meu redor, temos duas chávenas de chá, um pacote de rebucados para a tosse de cereja e mel (pois, pensei... mas nao sao bons), uma caixa de lencos de papel e outros tantos usados, que entretanto foram parar ao chao. O aspecto do meu nariz podia meter-me em sarilhos perante uma acusacao de snifar cola ou coisas piores. A sorte é a probabilidade de alguem me acusar de tal coisa ser bastante reduzida. Nula quase. Pois. Fiquei em casa, hoje. Nao fui trabalhar. Ontem de manha ainda me contrariei e fui, mas passei o dia com arrepios, a espirrar e a baralhar os meus colegas que me viam de dez em dez minutos com os mamilos a apontar na direccao deles. Mas hoje, acordei um pouco pior e decidi ficar de molho. Eu e os meus olhos pequeninos, com tres mangas e tapada com outros tres cobertores. E o aquecimento.

Há quem diga que o nosso corpo se torna um alvo mais fácil a doencas e/ou infeccoes, quando nos sentimos mais para baixo. Pode ser disso. Passei a semana um pouco tristonha a colocar-me questoes como o que é que eu estou aqui a fazer quando as pessoas de quem gosto e com quem quero estar todos os dias moram longe daqui, ou (tomemos o molde frasico)
O que é que estou aqui a fazer quando estes gajos nao sabem fazer bom pao?
O que é que bla.... , longe de uma boa feijoada?
O que..... , sem ter amigos? (ok, já me estou a repetir)

Quando vim para cá, era o Bola. Agora é o Bola e o emprego. O Bola é quase portátil, nao fosse o seu speech impediment, no que toca à língua portuguesa. Estas férias, a dada altura deixei de ser a esposa querida e amorosa, sempre a traduzir tudo para ele nao perder pitada. Para que facilitar tanto? Para, de todas as vezes que lá vamos, falar um bocadinho de ingles com este e tal, e depois afinal, nem ser mesmo preciso falar ingles, porque há sempre uma pacovia (eu) que lhe traduz tudo? Há que lidar com a dificuldade. Esta é a minha nova divisa. Desta vez apercebi-me que nao vou querer morar aqui o resto dos meus dias. A dada altura, quero regressar. E é urgente que ele se comece a dedicar a sério ao portugues. O meu humor fantástico ultrapassa-me hoje. Alias, é o meu humor e o ranho, vou é afastar o teclado daqui e aterrar no sofá a sonhar que vivo em Beverly Hills e sou cheerleader.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Alexandermannsblog - em alemao

Um alemao a viver em Lisboa. Um post sobre os contrastes Lisboa - Munique.

em fase de negacao

Ontem aterrei em Munique às tres da tarde. Bastou entrar nas instalacoes do aeroporto para me dar conta que estava outra vez no País das Salsichas. Indicadores de que já nao estou em Portugal:
- quando vamos recolher as malas, muitas vezes, elas já lá chegaram antes de nós.
- ninguém desata a falar ao telemovel, muito menos a ligá-lo logo quando o aviao ainda nao estacionou.
- o silencio em meu redor é sepulcral.
Tudo se desenrola muito smooth, demasiado ordenado, demasiado metódico. Sem confusao. Sem a confusao que me faz tanta falta, apesar de me baralhar tanto no primeiro dia em que entro nela. Na Alemanha, as pessoas falam menos. Nao falam por tudo e por nada. Nao encetam conversa com a pessoa que se encontra na mesma paragem de autocarro, depois de perguntar as horas. Nao perguntam as horas, sequer. Nao dao um abraco de felicidade ao senhor do quiosque quando veem que a Planeta Agostini lancou finalmente os DVDS da Ana dos Cabelos Ruivos (outra alegria destas ferias). Se calhar nem os portugueses fazem isto, pronto. Mas eu emocionei-me.

Sempre que regresso de Portugal, passo uns dias em negacao. A fazer-me as perguntas do costume. Se é pra aqui que fico, porque nao desisto, porque e porque e porque... portanto, para nao pensar tanto, pelo menos por agora, vou ver o primeiro episódio da Ana.

somos como os cogumelos

Desta vez, precavi-me e depois de chegada das férias, só fui trabalhar de tarde neste primeiro dia tao violento. O que, claro, torna o impacto muito menos doloroso, pois quando olhamos para o relógio, já é tempo de voltar para casa. Felizmente e para grande surpresa minha, está um óptimo tempo por cá. Que consta que acaba hoje. Ontem quando cheguei, estavam 21 graus à noite. Hoje o sol brilhou o dia todo. Conto com mais um belo Outono.
Cheguei ao trabalho e as minhas coisas estavam no lugar onde me sento a partir de agora. À janela, como eu queria. Com os colegas fixes do meu escritório. Bastou abrir o mail para me esquecer depressa do lugar maravilhoso onde agora está a minha secretária. Mas também nao me chateei muito, já há algum tempo que perdi aquela urgencia em querer resolver tudo no momento. Fiquei até às seis da tarde e depois vim buscar o Bola para irmos às compras, pois estávamos com o frigorífico vazio.
O momento alto do dia foi quando eu estava na seccao dos desodorizantes, no supermercado, e a certa altura, comeco a ouvir vozes. O que é de facto, uma surpresa enorme num supermercado. As vozes que eu ouvi falavam em portugues. Estou a viver aqui há mais de tres anos e NUNCA até à data me apercebi da existencia de portugueses aqui, que nao aqueles que me veem visitar. Hoje foi o abencoado dia. Especialmente num dia em que ainda estou de ressaca sentimental, com aquela tristeza da emigrante que deixou para trás a sua terra do galo de Barcelos, esse ícono piroso do nosso kitsch. Claro que os dois desgracados que andavam às compras nao escaparam. Agarrei no meu nivea roll on for men e devagarinho, como quem se movimenta sem ser vista, fui atrás dos dois, examinando o carrinho de compras, caras e pinta. Dez decibéis acima, pergunto, estridente:
- VOCES SAO PORTUGUESES?
Até deram um salto, pois nao sabiam que eu estava atrás deles. Depois de me contarem a sua breve história e de eu quase me ter oferecido para ir fazer o resto das compras com eles, apontei o meu número de telefone e o meu email numa folha do bloquinho da Barbie e disse-lhes para me telefonarem, se tiverem algum problema. Ajudar é a minha divisa. E fiquei tao contente por ter conhecido portugueses aqui no supermercado... parece que me apagou parte da tristeza. O Bola é que insiste que quando eu disse telefonem-me!! num tom quase assustador, ele conseguiu ver medo nas caras deles. Mas vou esperar pelo telefonema. Sentada, mas à espera.

tudo que é bom acaba depressa









terça-feira, setembro 18, 2007

assim se vai, de férias

Se pensarmos que já passa da meia-noite e ando de t-shirt pela rua, podemos dizer sim que ainda está calor em Portugal. Não está demasiado calor, está bom. No sábado estive sentada no areal da Praia Grande. Ainda vi alguns regos do rabo dos surfistas exibicionistas que comecam a despir o fato ali à minha frente e eu, enquanto o Bola apanha conchinhas e faz mais um castelo com a sua pazinha, aproveito para olhar. Rabos branquinhos como a farinha, não é todos os dias, não é... tinha tantas saudades do cheiro do mar. Não tinha saudades era de ficar com os cabelos em palha de aço com o ar da praia, mas quem é que se preocupa com isso?
Já tomei vários cafés e tenho comido a comida saudável do nosso país, refiro-me claro aos ovos moles, travesseiros e tudo o que me encaminhe mais depressa para as doenças cardio-vasculares. Cardio-vascular é uma daquelas palavras feias, que só foi inventada para nos criar problemas. Sim, tá bem, nós vamos todos barrar o pão com Becel e beber um Danacol por dia. Chatos, pá.

Como boa emigrante que sou, guardo visitas ao dentista e à cabeleireira aqui para a minha terra. Amanhã vou, portanto, mostrar o meu corta-palha ao dentista, para depois passar 45 minutos firme e hirta que nem uma barra de ferro na cadeira do consultório, enquanto ele me esburaca a boca. O resto da tarde vai ser para sofrer enquanto mordo o lábio e não sinto nada, enquanto não passa a anestesia.
O Bola está a curtir Portugal. Especialmente as estradas portuguesas. Acho que neste fim-de-semana, em que estivemos num encontro de família que se realiza de dois em em dois anos, ele viu pela primeira vez as vantagens de não perceber português.
Quarta-feira vamos a Aveiro, depois Coimbra, depois praia, depois Lisboa. E depois voltamos à nossa simple life nas salsichas, após um inadiável encontro com o kispo de penas.

quarta-feira, setembro 12, 2007

era samsonite mas ja nao é

Bastou o tempo ter ficado frio, para a minha rotina se alterar e me ter tornado ainda mais preguicosa. Talvez seja difícil imaginar que dois países mais para a direita já está um frio de rachar. Mas é verdade. Neste momento tenho tres mangas, sendo que a ultima é de malha polar. Ao meu colo tenho uma manta onde escondo a minha foca, com o saco de agua quente por dentro. As maos estao frias. O Bola convenceu-me a ligarmos o aquecimento depois de regressarmos de Portugal, razao pela qual nestas ultimas duas semanas, ainda nao sao nove e meia da noite e eu ja estou na cama. A ler, ao telefone, fazer to-do lists, unhas, sobrancelhas, etc. Quando o frio chega e os dias parecem muito mais curtos, sinto mesmo que a rotina inclui demasiadas horas de trabalho. Passo o dia sentada à minha secretária. É tanto o tempo que lá passo que nao posso deixar de pensar naquele episódio do Nip Tuck, em que aquele médico bonzinho (o sentimental) foi tentar safar uma senhora que estava há tres anos sentada no mesmo sofa sem nunca mais se ter levantado. As bactérias eram tantas devido às fibras do sofá, necessidades e restos de comida que se foram acumulando por baixo dela e em seu redor, que ela ficou literalmente colada ao sofa. Foi um episódio um bocado nojento. Com medo que isto me aconteca, tento levantar-me todas as horas e ir fazer um chá de ervas. É que na série, a gaja morre.
Hoje fui comprar uma mala. Nem todas somos lindas de suza, que fazemos uma de cartao. A minha mala enorme, preta e muito dura estragou-se. Enorme... preta... e dura... pois, a mala. Como foi o meu Pai que ma comprou antes de eu vir de vez para cá, claro que me custou que ela se tivesse partido exactamente naquela parte onde fecha com o código, tornando-a inutilizável.
É incrível como estas pessoas que trabalham nestas loja de carteiras e malas teem um ar incrivelmente secante. Tao secante que fico com medo de as fitar nos olhos, nao vá eu ficar entendiante também. O tipo contou-nos basicamente a história da Samsonite desde os primórdios, depois passou para os novos materiais com que se fazem as malas hoje em dia e da passagem samsonite-american tourister, que é uma história que nos pode mesmo por a dormir, num dia de semana, depois de várias horas de trabalho. O Bola que costuma ser muito delicado, hoje nem esbocou o seu sorriso diplomático habitual, mas interrompeu a história da samsonite várias vezes, nao deixando o homem embarcar em mais um delírio com malas. Nao há nada mais bonito do que se fazer e falar daquilo de que se gosta tanto. Embora tanto entusiasmo possa meter medo. Meter medo mete o facto de ele me fazer lembrar o personagem da noiva do Tim Burton. Sim, eu própria tambem me espanto com as minhas analogias, mas aquele ar de magrinho assustado era mesmo igual. Estou a pensar passar lá na loja daqui a uns dias e perguntar-lhe como corre a vendas das mochilas. Eu gosto de dar uma alegria a estas pessoas. Fui escuteira.
Já tenho mala, bilhetes de aviao e passaporte. Portugal, me aguarda, vai. Sexta-feira espero aterrar no calorzinho. Já engomei a roupa de Verao com amor.

Pergunta para reflexao: Porque malas american tourister? Nao é um nome incrivelmente parvo?

domingo, setembro 09, 2007

sábado, setembro 08, 2007

é dos óculos

Entao diz que a gripe das aves chegou à Oberpfalz - onde eu moro. Yupie?? Yupie!!!
Eu bem que há umas duas semanas atrás vi um pássaro caído lá num canteiro ao pé do sítio onde eu trabalho e comentei com alguem, que talvez fosse boa ideia remover e verificar. Estava com um ar de quem podia ter gripe das aves, eu até percebo do assunto e tal. Pronto.
Mas claro que hoje no jornal local essa notícia foi completamente abafada pela da mae da Maddie. Ora a Sic e a Tvi já teem mais novidades para mastigar. Ontem tive oportunidade de ver a mae da Maddie a entrar e sair da Policia Judiciária umas 75 vezes. (eu estava a engomar e nao sabia do comando)
Hoje tá de chuva. Já anda tudo de botas altas na rua e cachecol. Diz que em Portugal tá quente e recomenda-se. E ainda bem que assim é, pois sexta-feira também lá vou estar. Eu com a carteira cheia de pastéis de nata e bacalhau. Pronto, bacalhau talvez nao.
Este fds é um fds de Outono, mas mesmo assim ainda vamos passear às terras do Wagner, o compositor. Antes de sair, tenho de enfiar a roupa do meu cunhado na máquina, coisa que convém ser eu a fazer, pois da última vez que ele decidiu lavar a roupa dele aqui, retirou da máquina tudo o que eu já lá tinha posto, que por acaso era a minha roupa interior de uma semana. E eu gosto muito do meu cunhado, mas a ideia de ele andar a mexer nas minhas cuecas nao é propriamente hilariante.
Tenho um look novo, pois enquanto as minhas lentes de contacto nao chegam, ando com os meus óculos novos violeta, que me dao aquele ar de secretária marota. Já agora, verifiquem se as lentes também vos ficam mais baratas aqui do que na loja, a mim ficam. Tenho de por aqui uma foto, assim com o meu dedo indicador no queixo e a morder um lápis, para ter o ar maroto a 100%. Tenho andado, portanto, de óculos para todo o lado. Sinto-me outra, agora até já vejo as caras das pessoas como elas sao. Tenho colegas tao bonitos! E por falar em colegas bonitos, fiz um amigo checo lá no trabalho. Ele fez formacao comigo há umas semanas e nao fala alemao. O ingles dele é fraco e eu tento ajudá-lo, sem lhe olhar para os biceps. Ele tem um óptimo coracao, parece demasiado inocente para a idade , e para além destes atributos, tambem tem um bom six-pack (adivinho). É mais jeitoso que os palhacos dos manos Guedes. E as minhas colegas de departamento ficam em pulgas quando o veem aparecer junto da minha secretária. Ele arranja-me filmes e eu explico-lhe a gramática de ingles. Mando-lhe emails sobre o tempo, sobre o que fiz no fds.
Querido Penfriend,
Entao hoje vais sair para alguma intervencao ou ficas cá? Estás bom?
Até logo,
Minhoca
E ele responde, coisas como:
tudo bem. Eu hoje ficar cá, nao ter intervencao. Eu hoje ficar no costume, debaixo de ti.
Pois, as minhas colegas ficaram aos gritinhos com um email tao inocente. Debaixo de mim é no piso imediatamente debaixo do meu, na direccao da minha secretária. As minhas colegas nao se absteem de comentarios maliciosos quando ele passa, perante os quais ele se ri pois nao percebe. Se o checo tem malícia (tem de ter), esconde-a bem e isso é o mais precioso (para alem dos filmes que me arranja) nele. Ser jeitoso mas inseguro e extremameeeeeente prestável. E bonzinho, sempre a sorrir, a expor a sua fila colgate e a causar suspiros por onde passa. Assim tipo aquele Jered Smith, namorado da Samantha Jones do Sexo e cidade. A minha amizade com o checo é boazinha, sem intencoes, eu sou mesmo amiga dele. Nao posso ser amiga dum gajo onde todas querem fazer umas festinhas? Se elas querem fotos dele em roupa interior, nao vou ser eu a arranjar. Mas gostava de ver. A minha marotice é só dos óculos, sou assim uma variante de Clark Kent, sendo que a mim os óculos me poem a marotice.

terça-feira, setembro 04, 2007

oficial: chegou o frio

Dou conta do frio quando entro na casa-de-banho e fico mais tempo do que o necessário debaixo da água quente. Tipo hoje. Tenho de convencer o Bola que vamos precisar de aquecimento antes do final de Outubro, como ele dizia ontem. Ou será que estava a gozar, com o seu humor alemao...? Acabaram-se sandálias, sapatos sem meias e as mangas curtas. Já posso arrumar tudo no fundo do armario até ao ano que quem.
Bonito por cá costuma ser o Outono, quando nao chove muito. É a estacao mais bonita na Alemanha. Da primeira vez que cá cheguei era Outubro e fiquei encantada com a paisagem. Na altura, tinha o pé em gesso e chegava a casa sempre com o pé enrolado em folhas. A certa altura, tive de passar a dormir com um saco plastico amarrado no pé. O gesso era inviável, pois nao dava para tirar sempre que me apetecia, tendo que me deitar na cama com algo que ja nem era bem gesso mas uma mistura nojenta de qualquer coisa. Nunca mais me esqueco da quantidade de gente que veio ver o meu pé lá na clínica universitária, quando me retiraram aquela porcaria. Nao consegui perceber bem se o fascínio era pela minha perna nao depilada há tres meses, ou se pelo gesso que, segundo um deles já nao viamos disso desde os anos setenta. Na altura, os meus conhecimento de alemao nao eram vastos, pelo que nao entendi a importancia da fisioterapia, que nao fiz. No dia em que vi o meu pé novamente como eu o sempre conhecera, o que eu quis foi andar até nao poder mais. Devo ter corrido mais que o Forrest Gump. As sequelas de tal comportamento sinto-as ainda hoje. Por essa razao, é que passo os sacos das compras para o Bola, para nao me cansar, por exemplo.
Hoje passei o dia com sono, apareceu-me uma borbulha feia no queixo e tive um bad hair day. Vou-me sentar no sofá com uma taca de iogurte natural, nozes picadas e mel. Para me animar. Como só a comida consegue fazer.

sábado, setembro 01, 2007

cabines telefonicas?

O meu irmao está por uns meses em Madrid em trabalho e para além dos restaurantes que diz que sao óptimos, ele nao recomenda por exemplo o museu do prado, mas algumas lojas que diz serem MUITO ENGRACADAS. E como este blog nao se centra apenas na minha melancólica e mundana vida, acho que devo aproveitar dicas úteis e dar-lhes continuidade. Afinal, Madrid é já ali e quando menos esperamos, estamos a passar por lá.

Sao umas lojas onde diz que ele entrou há uns dias, pra ser mais precisa, uns compartimentos na loja, onde ele pos uma moeda de um euro e assim do nada, aparece uma jovem a despir-se MUITO DEPRESSA, sorrindo para ele. Sao apenas 60 segundos de euforia, mas uma experiencia muito engracada, nao é normal ver-se uma mulher a despir-se tao depressa e ainda para cima a sorrir para nós como se fossemos mesmo uns borrachos. (citar é mais fácil) Consta que lá ao lado tem um baldinho, que eu presumo ser para quem quiser vomitar. Deve haver muita gente que nao sabe ao que vai e depois apanha um valente susto. E se for depois do jantar, é natural que o estomago resmungue.

chá, manta e sorna

Pois bem. Outono, que sejas bem-vindo. Com tardes destas, de chuva sem fim, quase que dá para arrastar o Bola para o sofá, de manta e urso de peluche debaixo do braco pra irmos ver um filme. Em portugues, nao há palavra que exprima o maravilhoso KUSCHELN em alemao ou o CUDDLE em ingles. Que é que a malta faz quando esta no sofa de manta, esteja alguem connosco ou nao.
Depois um de nós levanta-se e vai à cozinha fazer uns miminhos para comermos. Normalmente tudo coisas muito saudáveis, o Bola é assim, sempre preocupado em comer todos os nutrientes essenciais, evitando acucares e gordura. Ele é mais folhas de alface e copo de água. E quando eu lhe digo que quero uns cubos de queijo com as minhas uvas seedless, ele olha-me com desdém e diz-me que o meu plano Weight Watchers nao contempla queijo com mais de 40% de gordura.
E aproveita para perguntar É engracado, mas porque é que os portugueses, quando vao visitar alguem ou quando veem de Portugal, trazem sempre um queijo? Ou queijo ou aquele peixe esquisito, cinzento e seco... porque? Esse peixe tem tanto de saboroso como de aspecto?
Tao querido, o meu Bola. Ainda nao o mergulhei a sério na cultura gastronómica da minha pátria, coisa que tenciono fazer agora daqui a duas semanas. Aliás, quero lá eu saber das pessoas. Desta vez, vou mais pela comida. Ando decontrolada. Só penso em comida. Em ovos moles, travesseiros, feijoada, pastéis de Belém, bola de vinha d'alhos, queijadas de Coimbra, pastéis de Tentúgal, you name it. Estou praticamente em greve de fome. Sendo que nao em protesto. Deixa de ser greve por isso?
Hoje pretendo passar o serao a ver o The Contract, que é um filme que só trouxe pelos actores. Nao sei nada da história. Gosto tanto dum como do outro. Depois vou engomar, dormir, procurar coisas que perdi pela casa fora e que preciso de encontrar. O bom-senso, esse, nao encontro jamais.