Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

quinta-feira, janeiro 31, 2008

agridoce

Eu ainda nao caí em mim de tanta tristeza nem de tanta surpresa. Nem de tanta nao sei que. Já há muito que nao tinha estas demonstracoes de apreco por partes de terceiros. Alias, eu nunca tive uma demonstracao destas com tanta gente envolvida. Nem sei como nao chorei. Andei lá perto, o saco lacrimal estava prestes a rebentar, mas limitei-me às expressoes estúpidas que a minha cara insiste em fazer quando estou à beira das lágrimas, sendo que a minha disciplina fala mais alto. Eu andei a semana toda a preparar-me para nao chorar. Nao queria chorar. Mas apetecia-me, ainda antes de me despedir. Da mesma forma quando me despedi do Bola no ano em que o conheci e achei que nao o voltava a ver, tambem me impus nao chorar. E nao chorei. Pelo menos até ele desaparecer ao fundo da rua. Porque depois disso, a minha figura é muito fiel àquela do Ben stiller no filme Doidos por mary, na parte em que ele diz à mary pra ela ficar com o outro. Ou seja, pela rua fora de boca aberta num berreiro, com baba e ranho.
Hoje comecei a arrumar as minhas coisas à uma da tarde. Assim que os meus colegas me viram a limpar a mesa de esfregao e tudo, foi estranho, só me fazia lembrar aquele reclame da Optimus em que as pessoas comecam todas a correr na mesma direccao. Dou conta que todos os meus colegas se comecam a dirigir devagar e com ar sério na direccao da minha secretária. Ficaram ali em meu redor, a segurar numa série de coisas, todos com ar de quem está num funeral e eu sou, bom.... o caixao, pronto. Com os bracos cruzados ou as maos simplesmente estendidas em frente ao corpo, cruzando. Uma colega minha, comeca a falar e diz que eles estao todos ali para se despedirem de mim, porque me desejam tudo de bom e vao todos sentir muito a minha falta. Que desde que eu comecei a trabalhar ali, sentiram que eu levei comigo uma lufada de ar fresco e que nunca se vao esquecer de mim. Porque nao é possível alguem se esquecer de mim. Estamos a falar de trinta pessoas. Duas colegas minhas choram. Ou pestanejam assim a imitar o Bambi. Fiquei petrificada. Cada um se dirige a mim para me dar um abraco ou me apertar a mao, como se me estivessem a dar as condolencias! Depois deram-me umas prendas para aliviar a tensao. Uma torradeira florescente com sapos, já que eu andava a fazer torradas la no trabalho com a torradeira que eu levei, entretanto ferrugenta. Uma foto A4 com eles todos sentados ao pé do aquário, uma caneca com a mesma foto para eu levar para o meu novo emprego. Ainda me deram um ramo enorme de flores, um cacto e uma caixinha com dinheiro para a primeira gasolina. Fiquei sem saber o que dizer. Pouco disse. Mas ensinaram-me que a frieza dos alemaes é um rótulo. O que os meus colegas me fizeram hoje foi algo que eu acho que nunca mais me vai acontecer. Nao sei explicar como me senti. Foi... agridoce. Mais para o agri do que para o doce. Só me apetece chorar. Vou ver se choro tudo hoje, para arrumar com o assunto de vez.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

cheiram mesmo muito mal

Trabalhar quatro horas por dia é que é! Porque é que nao posso ganhar o mesmo trabalhando menos mas mais eficientemente? O dia terminou e sinto que ainda podia ir correr a maratona de Berlim. Que é como quem diz, ir a correr até à minha varanda e voltar.
Ou foi das quatro horas a menos que trabalhei ou é do excesso de betacaroteno a percorrer-me o corpo, passei o dia a comer cenoura nas mais variadas formas. Será este antioxidiante responsável pela minha energia ou é mais a adrenalina provocada pela tristeza de me despedir amanha dos meus colegas? Isto tem mexido comigo de tal forma, que acho que no momento em que fechar a porta do meu escritório, me vou desfazer em lágrimas, isto se nao fizer xixi nas calcas para acompanhar. Amanha vai ali haver uma altura a meio do dia em que vou sentir que aqueles tomates que acho que tenho, nao estao no sitio.

Entretanto, tenho outro dilema. Tenho um tupperware com couves-de-bruxelas de há 15 dias, que nao tenho coragem de abrir. Por fora, ja consigo adivinhar o bolor, (que voces, lisboetas dizem bolôr e nós do Norte, dizemos bolór*) e da última vez que deixei couves-de-bruxelas a desenvolver pequenas criaturas no frigo e depois me atrevi a abrir a caixa para deitar aquilo fora, fiquei dois dias com a cozinha a cheirar mal, porque o potente cheiro nuclear daquilo é dos mais forte que estas narinas já deixaram entrar. Por isso, tenho a caixa em cima da mesa da cozinha há quase 5 dias, porque nem eu nem o Bola temos coragem de abrir aquela porcaria, nem de deitar mais uma caixa fora por nao termos coragem de olhar para o nojo em que a comida se tornou. Falem-me de doencas, de soldados que sao abatidos no Iraque. Perante couves-de-bruxelas, nao me venham com dramas, tá bem?

* sim, poe la nos comentarios que és de lisboa e dizes bolór ou o contrário.

Minhoca a blogar de manha?!

Onze da manha e estou em casa. Sabe bem. Já nao me lembro da última vez que me vesti com a música aos berros no quarto. Abri as janelas todas da casa e na verdade sao muitas, deve ser por serem tantas que o Bola fica com medo da tempestade que pode causar se as abrir todas e sendo assim, o conceito arejar para ele é tao bom como nulo.
Para acabar em beleza a minha estadia pelo trabalho que a partir de amanha passo a denominar por antigo, fiz uma torta de cenoura, que como já tive oportunidade de verificar, é algo que impressiona os alemaes. Pela positiva. Nao conhecem. Aliás, tudo o que envolve bater as claras em castelo parece ser novidade para eles. Por outro lado, gosto bastante dos bolos de frutas que aprendi a fazer por cá, aliás, a comer. Que sao basicamente uma massa simples que é colocada num tabuleiro daqueles grandes do forno, por cima colocam fruta e depois o toque mágico, que sao as chamada Streusel, que nao é mais do que bocadinhos de acucar batido com manteiga. 'Streuselkuchen', assim se chama, a palavra é, porém, ultilizada tambem para chatear adolescentes parvos com a cara cheia de borbulhas. Assim numa de lhes criar ainda mais complexos e ver se em vez de estarem só na fase do armário, se se escondem de facto mesmo dentro dele. Um dia destes, explico aqui porque acho que as criancas entre os 13 e os 17 anos se deviam abandonar no monte ou fechar numa arca. Com os meus filhos, planeio mandá-los para a Suíca. E nao me refiro à pastelaria.
Pois, hoje só vou trabalhar meio dia. O senhor da contabilidade ligou-me para me dar um tau-tau:
- Minhoca, explique-me lá porque é que se despediu em Dezembro, tendo ainda tres dias de ferias para 2008 e deixou um dia por tirar?!
- Hmm... deixe lá ver, dá-me tempo para pensar ou posso pedir a ajuda do público?
Pois, como nao me pagaram as oito horas desse dia, para nao confundir ninguem e porque é perigoso (há que preencher 34 requerimentos diferentes, todos carimbados e assinados), nestes dois ultimos dias, trabalho só metade. Eu ainda tive vontade de desatar aos gritos a cantar aquela parte do Listen da Beyoncé, em que ela esbraceja e diz listeeeeeen, I'm alone in a crossroads... la la la and i tried and tried to say what's in my mind, you should have known... mas confesso que com pessoas da contabilidade nao arrisco muito. As reaccoes sao sempre as mesmas. É como a minha reaccao quando oico o David Fonseca a cantar o Hold still, fico com a boca semi-aberta, olhos semi-cerrados e levanto a mao, comecando a tocar o ar assim ao de leve. Ontem, o Bola entrou aqui no quarto nesse momento e perguntou-me o que é que eu estava a fazer. Eu disse-lhe baixinho nao estás a ver? É o David aqui à minha frente!I I could hold you if you just stood still. Estas visoes dao cabo de mim. David, desde 1998 que suspiro por ti. Até a Leiria fui por tua causa, doutra forma o que é que há em Leiria?! E naquele concerto da Queima das fitas em Coimbra, em que nao arredei da primeira fila para te poder tocar na sapatilha...
Acho que vou ali pra varanda fazer qualquer coisa pra me divertir, sei lá, cuspir pra quem passa. Estou um bocado chateada. Só sinto energia negativa, sinto-me arisca. O saco lacrimal carregadinho. Vai ser hoje.

terça-feira, janeiro 29, 2008

a todos os emigras como eu

Volta e meia dou comigo a ler posts espalhados por esta maravilhosa blogosfera, que podiam ser meus mas nao sao, porque, entre outras coisas, eu nao conseguiria explicar tao bem, com tanta transparencia, situacoes como esta, por exemplo. Vao ler e depois voltem aqui para eu continuar. Nao, a sério, vao la ler e voltem no final.
Agora sim, cinco minutos depois. Eu tenho vergonha de ser portuguesa quando regresso a Portugal no Natal ou em meses de Verao. Quando fui em Agosto de 2006 com o Bola para casarmos, nem queria acreditar que pessoas que aparentemente passam o ano a trabalhar num país como a Alemanha, civilizado, possam ser tao primitivas. E manter dentes em estado de podridao avancada. Por cá só é preciso ir ao dentista duas vezes por ano, para se assegurar um bom dental care, pagando a assistencia médica mais básica (e obrigatória por lei).
Nao é preciso ser low-cost, na Tap sao aos magotes. Apanho sempre com a melhor estirpe emigra, daquela com quem eu nunca iria comer rissóis ou beber casal garcia, nem ouvir o último single da Micaela. E eu tenho geralmente uma costela muito pimba, com tendencia a agravar-se quando fico muito tempo sem ir a casa. Sao aqueles emigrantes que falam alto, muito alto e que gostam de repetir nos espacos públicos todo o repertório de ordinarices/conversa de caca que teem quando estao a trabalhar. Nao se calam. É verborreia descontrolada, reproduzem alto tudo o que é pensamento. Enao,nao estou a falar de mim, mas ando lá perto. Sempre que me preparo para embarcar, escondo o meu bilhete de identidade no bolso do casaco. Se tivesse um carapuco à mao, acho que o enfiava na cabeca, pois os meus cabelos e olhos escuros denunciam parcialmente a minha nacionalidade e se há coisa que nao me interessa de todo, é que um desses palhacos meta conversa comigo. E como eles falam com as hospedeiras como se fossem as amigas do café, daí até me perguntarem as horas e donde venho, nao é preciso muito. Costumam ser homens, mas desta vez tambem tive a sorte de viajar no regresso com um casal à minha frente muito sui generis. Ele alemao, ela portuguesa. Ele muito calmo, lia o jornal, ela falava com os filhos dez decibéis acima do necessário em portugues e os miúdos respondiam à vez, em alemao. Com o marido a mesma coisa, ela falava-lhe alto e concentrada nele, como se se fosse uma terapeuta da fala, e ele respondia-lhe desinteressado, em alemao. Confesso que isto me deixou baralhada, parecia uma batalha de idiomas, nao qual, ganhavam claramente os elementos do sexo oposto, ou seja todos, menos ela. É bom saber que a educacao bilingue nao se resuma apenas a uma tentativa. Parece funcionar, até das maneiras mais estranhas.

a favor do desporto

Uma das vantagens de trabalhar onde trabalho e vou deixar de trabalhar, sao as idas para o carro. Como nunca chego as oito, aliás, a minha hora de trabalho arrastou-se mais para perto das nove horas, já nao tenho lugar no parque de estacionamento oficial. Tenho de estacionar no parque de segunda categoria, que fica ao lado da piscina municipal. Ora, quando vou a caminho do carro, entre as cinco e as seis, por norma, tenho uma panoramica do professor de natacao que se encontra de pé, fora da piscina a dar a sua aula. De cueca preta. Peito rapado. Cara de parvo. Mas um corpo que revela anos de prática desportiva. E vou, como tenho mesmo de caminhar ao longo do edifícil encostado ao meu, aproveito e delicio-me. Mais dois dias.

chatos

Apercebo-me em que conta os meus colegas me teem quando eu, excitadissima por ouvir o time of my life na rádio, preparo-me para por mais alto e reparo que os eles se escondem, dois vao mesmo para debaixo da mesa e dizem Nao, nenhum de nós vai fazer de Patrick. Por acaso, nao me lembro de ter pedido a alguem para fazer de Patrick, já deve ter sido há algum tempo. Mas realmente, houve aí uma fase em que eu dizia todos os dias no one puts baby in the corner, fosse qual fosse a conversa. Sendo que a baby era eu, mas sem o nariz de papagaio. Na minha relacao, quem tem o nariz de papagaio é o Bola a ele fica-lhe bem. Quero ver se amanha, quando eu vier com o meu bolo de despedida, se escondem debaixo da mesa. Humpf.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

All I wanna do

It was a rainy night
When he came into sight,
Standing by the road,
No umbrella, no coat.

Digam-me por favor se uma música que comeca com esta quadra, nao merece um espaco de destaque nos blogs de todos nós?? É que uma rádio alema que eu costumo ouvir, decidiu repescar este tema polémico de 1990. E como tenho ido e vindo do trabalho a cantar esta musica cheia de forca, achei que isto era bom demais para ser se cantar sozinha no carro. Deixem-me partilhar com voces. Deem-me pelo menos o benefício da dúvida. Estamos perante um grande tema. E um grande vídeo. Mudei a minha postura perante a questao de dar boleia a estranhos.
Ah, e chega de pregar truques à fertilidade e mandar um gajo para uma cabine duma clínica de copinho na mao. Vejam bem estes intensos lyrics e vejam como é que nos nineties se sugeria a fertilizacao 'artificial'.

domingo, janeiro 27, 2008

my blueberry nights

Esta foto saiu no jornal local de Weiden a anunciar o filme My Blueberry nights, e gostei tanto da fotografia que imprimi. É uma fotografia emocional, que nao captaria a atencao de nenhum jornalista da National geographic, mas captou a minha. Nao sei explicar porque. Gosto muito das cores juntas. Verde e roxo. Podia ser eu. Fico com vontade de fazer correr os meus dedos por entre os caracóis do Jude, sem que isto tenha qualquer coisa de sexual. Hoje nao estamos para aí virados. Nunca vos aconteceu os vossos olhos reconhecerem algo que as vossas maos querem tocar? A mim acontece-me com a malha polar. Tenho de tocar. Sempre. Anyway, algo me diz que o filme nao vai valer nada.

venha a próxima caixa

Devo dizer que depois de passar uma semana a comer ovos moles Aveiro, devo dizer que agora que já se foram, me sinto só. Chegar a casa, depois de um dia de trabalho e embalar dois de seguida, qual foca a quem se atira o seu merecido peixe depois de uma acrobacia daquelas bem feitas, é um verdadeiro prémio de emulacao. Eu estava a gostar tanto. A minha cabeca nao aceita que já nao há mais, pelo que mantenho a caixa na mesa da cozinha e abro todos os dias, nunca se sabe se a fada dos dentes ou sabe-se lá quem aparece e me dá essa alegria. O último comi muito devagar mesmo, até fechei os olhos. Era um peixinho. Os meus intestinos cooperaram, acho que até estavam a gostar. A meio da semana passada tive que fazer análises outra vez. Enquanto esperava que o médico as prescrevesse,
- Olhe, desta vez nao ponha o colesterol. Nao é boa ideia.. alem disso, da outra vez estava bonzinho.
- Entao porque?
- Porque está cá o meu Pai, e ele trouxe-me de Portugal uns doces bombásticos, que sao o suficiente para me alterarem os valores.
- Agora tou curioso. Isso é feito de que?
- Ovos e acucar, eu sei que parece nojento, mas é maravilhoso, mas nao prove, porque nao vai gostar. Disto só gosta quem sempre comeu. Experimentar isto na sua idade nao adianta. O meu marido provou uma vez e fez uma cara de quem se queria gregoriar. Depois desapareceu e só foi encontrado uma hora depois, meio pálido.
Claro que quando lhe disse em alemao a traducao (directíssima) para ovos moles, ele riu-se e quem souber alemao, percebe logo porque.
A comida portuguesa faz-me tanta falta. Tento nao pensar tanto na comida, pois afinal nós comemos para viver e nao o contrário. Mas há dias em que era capaz de vender a alma ao diabo por uma feijoada ou qualquer outra coisa feita com um belo refogado, coisa que para estas bandas nao existe. A cozinha alema tem dias em que me dá vontade de chorar. Estar cheia de fome - vulgo apetite - e a unica coisa disponivel é salsichas. Nao me enche o estomago. Continuo com fome, mas nao no corpo. É a alma que quer comer. E dói. Entre outras coisas de carácter afectivo, a falta da comida é outra daquelas coisas que me custa mesmo muito. Ainda. Se o Bola soubesse o quanto, talvez desse mais valor ao meu abandono da pátria. Chuif.

terça-feira, janeiro 22, 2008

faltam 6 dias

Hoje limpei as minhas gavetas. Lembrei-me quando há menos de um ano, fiz a mesma coisa, tao contente. Aliás, limpei a gaveta vária semanas antes de me ir embora. E até teve piada, especialmente na parte em que encontrei fruta podre. Hoje limpei-a mais devagar, mas de forma mais organizada. Coloquei os meus catálogos e todas as coisas que me ajudaram com o meu trabalho ao longo destes nove meses. Para ser amiga da minha substituta. Retirei a etiqueta que diz 'minhoca' das minhas canetas, agrafador, furador, caixa de chiclas, teclado, rato, monitor, cadeira, mesa. Se sou uma pessoa possessiva? Nao, acho que nao. Redescobri uma faceta minha da qual confesso nao gostar muito. Guardar tudo. Post-its, saquinhos de chá que parecem ter sido espremidos e alvos de pugilismo. Rebucados para a tosse. Brincos. Aspirinas. Casos antigos de clientes que arrumei na gaveta e nunca mais me lembrei (neste momento mandam beijinhos do lixo, ninguem precisa de saber deste feliz paradeiro).
No meio da tralha, encontrei algumas to-do lists feitas por mim no Verao, por exemplo. Encontrei os dossiers - impossível nao os encontrar, sao tantos - com todas as coisas que tive que traduzir aos clientes brasileiros no Verao durante duas semanas em Agosto. Nao acho que me vá esquecer algum dia de como o cartao é feito, da funcao de cada máquina. Das pecas que sao material hazardous, de quanto custa um dia de trabalho mecanico e electrico por homem. Nao me vou esquecer que a TNT é mais barata que a DHL e que o Fedex nunca entrega no dia seguinte no Brasil. Nao me vou esquecer que as licencas de software sao sempre mais caras do que o proprio software. Nao me vou esquecer de quantos peixes há no aquário, subtraindo o que cometeu suicidio hoje (descansa em paz, Jacinto), nem das mensagens escritas com as minhas colegas no papel da porta da casa-de-banho, nem das brincadeiras estúpidas com os carimbos pela testa, pescoco e bracos, ou das músicas cantadas em playback com o rádio.
Algo me diz que na semana que vem, vou sair de cabeca erguida e risonha e quando chegar ao carro, desfaco-me em lágrimas. E as lágrimas de minhoca sao daquelas mais difíceis de secar. Como nem tudo sao tristezas hoje, pelo menos, habemus carro.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

danke

Obrigada pelos vossos mails e mensagens de parabens. Senti-me e sinto-me uma minhoca acarinhada. Se vos faco rir de borla, acho que realmente o minimo que voces, leitores assiduos, podem fazer é mesmo desejar-me tudo de bom.
O meu Pai chegou ontem, com o pacote de emigrante que eu tinha pedido à minha Mae (obrigada, Mae) para me mandar, sumol, queijo, pudim boca doce, pao, chocolates Regina e compal de manga. Para rematar em beleza e porque a minha irma me quer ver o mais rápido possível diabética, recebi tambem meio kilo de ovos moles de Aveiro. Para a próxima, manda um saco bonito, daqueles tipo de viagem, para eu carregar pra todo o lado com a minha seringa e a insulina! Papel higiénico há bastante cá em casa e felizmente também há toalhetes húmidos. Os próximos dias prometem, quase que posso fazer uma encomenda grande na amazon para as horas que vou passar na próxima semana na casa-de-banho.
O pequeno-almoco bávaro foi um sucesso. Acabou tudo em poucos minutos. Comer assim à bruta às dez da manha, rematando com uma Weissbier devia deixar-me com energia para o resto do dia. Teve, contudo, desta vez, o efeito contrário. Para a próxima bebo mesmo até me sentir embrigada q.b. para me sentar ao colo dum dos meus colegas enquanto lhe imploro com bafo alcoolizado para cantarmos juntos o tema da Abelha Maia. Sempre era mais divertido.
A minha torta de chocolate também desapareceu em poucos minutos. Tive inveja dela. Se eu pudesse, também tinha desaparecido para casa ou pra qualquer outro sítio, onde pudesse puxar pela minha memória, procurando registos de quando me expulsaram para fora do caldo de líquido amniótico. Sempre acreditei que esta sensacao de recusa para tanta coisa encontra a explicacao no dia do meu nascimento.

terça-feira, janeiro 15, 2008

bayerisches Frühstück

Já que estamos no pais das salsichas e concretamente em Bayern, porque nao salsichas para o pequeno-almoco? Quinta-feira faco anos e é costume os aniversariantes trazerem bolo. Mas eu achei mais giro trazer um pequeno-almoco bávaro, uma daquelas tradicoes que nos provoca aquele refluxo no esófago, com vontade de irmos chamar o Greg. Entao vai daí, encomendei 16 pares de salsichas brancas, 25 pretzels e ainda vou comprar mostarda doce. Cerveja ainda estou a pensar se posso, devo e tal. Teoricamente é proibido. Mas eu ja me despedi, portanto, quem poderia levar uma estalada seriam aqueles que a bebessem. Um pequeno-almoco bávaro vai ser a minha forma de festejar os anos!
E como hoje ando numa de comidas esquisitas, trouxe na minha saca do almoco um pimento vermelho. Cru. Cortei-o em fatias e já comi mais de metade. Isto tudo para provar que sou uma emigra que tem todo o gosto na integracao, que nao luta contra a cultura do país onde está. Como salsichas (argh) ao pequeno-almoco, pepino cru às fatias, bebo Weissbier antes do almoco e sinto-me (?) fantástica. Isto tem o seu que de assustador, especialmente se comecarmos a temer pelo dia em que vou aparecer de sandalias e meias brancas por baixo.

p.s. para amanha temos fatias de aipo e rodelas de cenoura. mnham.

domingo, janeiro 13, 2008

o timing perfeito

- Bola, sabias que já há um livro novo do Mike Gayle? - grito eu do quarto do computador.
Quando o Bola está com o nosso vizinho a ver futebol, posso-lhe pedir o mundo. Até que arraste a casa um pouco para o outro lado da rua, ele diz quase sim a tudo. É um momento sagrado, durante o qual sao produzidos arrotos de alto calibre (os mais sonoros da rua. há quem testemunhe para alem de mim), trocados esgares de dor e comentários sobre detalhes técnicos desse mundo interessantíssimo do futebol, seja ele europeu ou americano. Tudo entre eles os dois, claro. O Bola papa tudo na televisao, desde que haja gajos transpirados e uma bola envolvidos. E agora vem aí o Superbowl e ele tá a pensar meter um dia de férias, para poder ficar a dormir na manha seguinte. Perder o Superbowl era o equivalente à minha tristeza de ir a Portugal e nao poder ir a um shopping. Acho que isto já mostra que estamos perante um animal, potencial assinante da Sport Tv, se ele soubesse que é possivel assinar (nao, Bolinha, a Sport Tv nao funciona porque estamos na Alemanha, há canais só para os assinantes que moram em Portugal. É esse e a Playboy, por exemplo - expliquei eu com a minha melhor cara de boa mentirosa, no ano passado)
Mas dizia eu, se há coisa que nestes momentos do desporto, o Bola nao gosta sou interrupcoes da minha parte, especialmente com assuntos que nao implicam emergencias. Vai daí, devido à rapidez com que as minhas maos chegam ao cartao visa dele nestes momentos, mas também porque faco anos na quinta-feira, achei que o livro do Mike Gayle estava mesmo a pedir para ser lido por mim. Religiosamente.

parece que vai a votos

Amigos, digam lá com qual destes meninos eu me divirto mais na auto-estrada a partir do dia 1 de Fevereiro. Pela ordem,Volkswagen Golf Plus, Mazda 3 Sport ou Hyundai i30.



ondas de romance

Ora bem, para terminar este domingo em beleza, do que é que eu gostava? Pois bem, se nao fosse pedir muito, o David Fonseca em cueca preta só e apenas, com a sua guitarra ao peito, a tocar-me o hold still. Eu já desde 1998 que tenho uma fixacao pelo David. Eu e mais dez mil portuguesas. Acima de tudo, quando olho para ele, concentro-me em duas coisas fantásticas que ele tem, a boca e o cabelo. E juntando isso ao facto de ele cantar uma musica de amor, é o suficiente para eu comecar aos gritinhos no meu quarto, histérica. Apesar da forma como ele pronuncia 'superstar'. Ainda por cima, ele tem uma coisa que o Bola também tem quando está a falar, que é o arquear constante da sobrancelha direita. Quando o conheci, achei incrivelmente sexy. Aliás, a sobrancelha dele valeu-me o primeiro beijo, no Inverno de 2001. Foi exactamente dois segundos depois de, a meio de qualquer coisa que ele estava a contar, eu ter posto o meu polegar na sobrancelha para ele parar com aquilo, com uma cara séria provoncando nele o desconforto, tendo-me desatado a rir se seguida. Antes disso, eu ainda nao lhe tinha tocado, daí o estranhamento dele, alemao, pouco habituado ao toque por parte de qualquer pessoa assim por dá cá aquela sobrancelha. Assim sem me dar tempo para pensar, ainda nao me tinha eu acabado de rir (costumo despachar as gargalhadas em 11 minutos), ele agarra-me a cara com aquela suavidade que costuma ser um clássico no cinema, como que se a minha cara fosse a pintura e as maos dele a moldura, e dá-me um daqueles beijos proibidos que nos fazem perder o equilibro e ter de nos agarrar à cadeira mais próxima.

deixar a festa

Sao cinco da tarde e estou no trabalho. Posso observar o fenómeno sexta-feira alemao, que é fantástico, ou seja, em poucas palavras, esse fenómeno explica o porque de no meu andar, onde trabalham cerca de 20 pessoas, eu ser a unica que ainda aqui está hoje. Do lado de fora da janela, o céu assumiu uns tons espectaculares, desliguei as luzes todas e pude contemplar os raios de azul forte e laranja na linha do horizonte, que chegavam para iluminar o aquário dos peixes, fazendo com as algas que nele se encontram crecam um pouco mais. Dá para ver que os dias já sao maiores. Ou melhor, já anoitece mais tarde. Os dias teem sempre o mesmo tamanho. Pelo menos, parece.
Acho que ainda nao caí em mim, que me vou embora. Parece que sim, está tudo emcaminhado e tal, mas daqui a duas semanas continuo a vir para cá, nao sou eu a pessoa que vai embora. Todas as manhas, ultimamente, dou comigo a sentir o coracao apertado quando venho desde o parque de estacionamento até ao meu edifício. Ao longo de 5 minutos, venho a caminhar a olhar para o grande logotipo para o qual olhava intensamente das primeiras vezes que vim até cá, e este emprego nao era meu. Lembro-me de olhar com persistencia e querer acreditar que depressa iria dirigir-me para aqui diariamente, porque o emprego ia ser meu. No espaco dum ano, muda mesmo muita coisa. Costuma-se dizer que se deve deixar uma festa quando esta está ao rubro. Entao, este é sem dúvida, o momento ideal para sair.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

aneis é coisa de gaja

Estava eu feliz da vida a fazer zapping pelos canais alemaes, que apesar de serem horrorosos, às quintas-feiras ainda vao mostrando uns filmes menos maus, quando me deparo com o Sr. dos Aneis, parte III, que certamente deve ter um nome fantástico e nao parte 3. O Bola levanta os olhos do seu livro e faz-me um gesto com a mao a assinalar para eu nao mudar de canal e fica com aquela cara séria como se estivesse a presenciar o milagre de Fátima. Olho para ele e faco gestos com a mao como que a testar a sua capacidade de reconhecer objectos que me movimentam do lado de fora da televisao (neste caso, azinheira), dentro do seu campo de visao. Nao há reaccao. Ele nao tira os olhos do Gandalf e dá-se mais uma vez este efeito horroroso, que é o efeito lord of the rings nos gajos. Eu tenho que dizer que acho o Senhor dos Aneis uma seca. Pronto, já disse. Quero lá saber dos efeitos especiais, da história.
Podem cair-me em cima todos os cinéfilos chatos, daqueles que gostam de opinar muito e incansavelmente sobre cinema, que acham que estamos perante a maior proeza cinamatográfica desde o Macgyver (ai nao era um filme?), o que é facto é que eu adormeci nos filmes todos. A cara do Frodo dá-me sono, pá. E Frodo é lá nome de gajo? Ah, tá bem, ele nao é um gajo, é um Hobbit. Meus amigos, pra que exagerarmos com a fantasia. Se queremos fantasia, fiquemo-nos pelos estrumfes, os duendes azuis fofinhos que viviam no meio da floresta em casas em forma de cogumelo. Isso sim, isso é que eram historias. Para que gastar tanto dinheiro numa história onde nem sequer ha um gajo que se apaixona por uma gaja, a beija e sao felizes pra sempre?
Pronto, e gracas ao filme, eu que até merecia um serao relaxado em frente da telly, nao posso ficar tipo vegetal a ver a Anatomia de grey. Realmente, o dia estava a correr bem demais, aula de ingles sem o gajo das perguntas chatas, temperaturas assim pró suave, banho tomado e até me estava a sentir fofinha no meu pijama novo almofadado da pantera cor-de-rosa. Só faltava mesmo ter um lugar no sofá, para lá aterrar depois da minha lasanha vegetariana e da minha tacinha de vienetta encontrada escondida no congelador desde o Verao.
Sendo assim, hoje é mais coser meias. Pois.

p.s. se és gaja e vais comentar que gostas do Sr dos Aneis, nao gosto de ti.

a zelar por todos nós

Ao fim de ano e meio de casamento, venho trabalhar sem o meu pequeno rótulo dourado, que deixei esquecido perto da pia na cozinha. Estou, portanto, com o meu dedo despido, já posso fazer um sorriso malandro aos colegas que encontrar na zona das impressoras. Despido está também, o meu cadastro nas financas. Ou melhor, nas bases de dados da instituicao que previne os endividamentos desenfreados. Há uns 3 anos, quando quis comprar um computador portátil, que foi mais ou menos quando comecei a trabalhar, tentei pagá-lo a prestacoes. Nao pude. Depois de inseridas as informacoes acerca da minha pessoa na base de dados da loja, veio a resposta negativa, de que nao, nao podia ser. Fiquei a saber que existe uma instituicao no País das salsichas, denominada Schufa, que zela para que nós, comuns mortais, nao nos endividemos como se isto fosse os estados unidos. Contém informacoes acerca de milhoes de pessoas, se pagam as contas, se sao pessoas dignas de confianca para pedir empréstimos, por exemplo. Dizem que nao sabem quanto ganhamos. Tá bem. Assunto que me interessa mais do que nunca, agora que estou para comprar (tentar) um carro novo. Como sou curiosa e quero saber se posso contar ou nao com um empréstimo, caso venha a precisar, decidi ir ao site deles e pedir um relatório dos registos que eles teem da minha pessoa. Esta informacao custa € 7,80 + iva. Recebi ontem a carta deles com a informacao de que sobre mim, só teem informacoes positivas, que sou uma pessoa que paga as suas contas e que se precisar de um empréstimo, terei em princípio condicoes para tal. Quase dez euros para saber que eu sou uma pessoa honesta, que paga as suas contas. Sim, porque realmente eu nao sabia. Neste país, há coisas que me irritam duma forma visceral. A perseguicao constante. A mudanca de cidade implica um registo na camara municipal, para nos poderem bombardear com as cartas que obrigam ao pagamento de taxas para utilizacao/usufruto de televisao e rádio, tanto uma como outra, uma bela porcaria. Se nao fosse o bola, recusava-me a pagar isto, pois tenho tvcabo. Ter um vencimento médio nao chega para poder pedir um empréstimo. E agora estou-me a preparar psicologica e fisicamente para a multa com que vou levar por já estar casada há um ano e meio e o estado alemao nao ter conhecimento disso. Há que castigar. Se calhar, até fico sem carta de conducao e mudam-me a classe dos impostos, para eu aprender. É que mil euros de impostos realmente nao é assim tanto.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

uma questao de equilibrio

Acho que me devo sentir grata ao destino, por hoje, no parque do estacionamento do trabalho, nao ter aparecido ninguem a dirigir-se para a sua viatura à mesma hora do que eu. Foi um espectáculo que deve ter divertido aquelas pessoas que estao a controlar as camaras de seguranca. O piso estava com uma camada muito fina e escorregadia de gelo. Quando me fiz ao caminho dos últimos 50 metros, dei-me conta que de saltos e já a patinar um pouco, ia repetir aquele triste episódio de quando tinha 7 anos e caí de patins mesmo em cima do osso do rabo, designado em várias ciencias que nao a popular, por cóccix. Volvidos 20 anos, ainda recordo a dor com um abanar de cabeca sério e compenetrado. Patinei que nem uma triste, acabando por cair numa posicao menos feliz, que muitos descreveriam como uma clássica espargata. Com a diferenca que eu nao tenho as pernas da Beyoncé. Em momentos destes, quando algo corre mesmo como eu nao queria, tenho tendencia para vociferar todos o calao hardcore da minha língua-mae ou em holandes, por ter mais charme.
Pois entao que hoje decidi que nao, as minhas 10 filhas nao irao para o ballet, para facilitar estas quedas muito inconvenientes, pois uma queda de vez em quando faz bem a todos. E nunca as podemos prevenir todas. Quando caímos liberta-se energia, adrenalina e estranhamente, acaba por revelar-se necessário. Nao queria terminar sem antes dizer que quando vejo na televisao ou ao vivo aquelas classes de frous-frous com fatinhos de ballet e o cabelo apanhado no cimo da cabeca, se me dao arrepios. Um horror. Antes de mandar uma filha minha para o ballet, mando-a para a apanha da batata, para ela aprender tudo o que precisa sobre postura e equilíbrio, sem o fatinho maricas.

terça-feira, janeiro 08, 2008

deixa la dormir no teu lado

Nao fui ao curso de espanhol. Se eu me deitar à duas da manha e me levantar as seis e meia, nao posso garantir que durante o resto do dia nao terei comportamentos violentos. Mas, como se costuma dizer em bom portugues popular, foi pior a emenda que o soneto. Acordei às sete e meia com o Bola a dizer impropérios como vais apanhar uma multa no carro, nao foste à aula de espanhol, porque é que vieste dormir tao tarde. Olhei para ele com um olho aberto e outro cemi-cerrado (é o possível, dadas as horas) e perguntei-lhe se ele nao gostava de um dia destes arranjar um quarto só para ele. Com cortinas rosinha e uma aparelhagem com cds de funk para ouvir antes de adormecer. Sozinho e gelado. Há dias em que me apetecia ter um quarto só para mim, por muito amor que haja. Era muito mais giro, por exemplo perguntar-lhe num dia em que ele se tenha portado bem entao, e hoje queres aparecer e fazer uma visita à minha cama?E a mim, ja agora...


Estas coisas de ter de se partilhar sempre a mesma cama, ter de se passar os natais sempre juntos, torna-me, de vez em quando, numa revoltada. Mas quem é que disse que tem? É crime eu saborear uma cama vazia só para mim? Qual é a razao que explica o facto de um casal ter sempre que dormir cada um no seu lado? É algo bíblico? Mas porque é que hoje, para variar, nao posso dormir no lado direito? Nao é o meu lado. Parece que o lado da cama é tao pessoal como a roupa interior. Como se quebram estes tabus?

combatendo o stress

Aqui. Só com som.

este é didáctico



Puxar até 3:40.

este é pras depressoes/masoquismo/tristeza passageira



Posologia: Ouvir duas vezes por dia no mínimo, sendo que uma delas à noite. Nao chegar perto de janelas, banheira nem gaveta dos talheres, bloco de facas, etc.

Os melhores cheiros do mundo

Gerais, aqueles sem relacao afectiva. Aqueles que nao sao do nosso amor, dos nossos bebés, daqueles de quem gostamos.
Mostrem-me os vossos. Hmmm... digam. Nao mostrem. É melhor.


1. mar
2. iogurte natural 3. pao quente 3. oldspice 4. livros novos, com páginas virgens 5. tangerinas caseiras 6. folhas de figueira 7. colónia de bebé da johnson 8. terra depois da chuva 9. tinta, verniz, cola e afins (nao sou agarrada) 10. ponta do lápis afiado de fresco 11. A madrugada na Primavera 12. café

bom para rebolar


segunda-feira, janeiro 07, 2008

momento coca-cola man, talvez

Estou aqui sem sono, a pensar se me está apetecer acordar amanha as seis e meia para ter hora e meia de Espanhol - talvez fosse mais refinado/correcto dizer castelhano, no? - antes de o meu dia de trabalho ter propriamente comecado. Hmmm... difícil. Por acaso, nao me apetece muito. Mas depois, levo com os meus mails das minhas colegas a dizerem que sentiram a minha falta - a falta dos meus disparates, entenda-se - e já que sou palhaco de servico, entao devo se-lo sempre e o maior numero possivel de vezes, já que daqui a duas semanas e meia digo adeus aufwiedersehen goodbye. Hoje veio ter comigo aquela que me vai substituir, que foi contratada internamente, e como se há matéria em que eu sou boa, é linguagem corporal, especialmente a dos olhos, topei-a logo, ainda antes de ela se ter apresentado. Perguntou-me se eu achava que para cumprir bem os requisitos, eu achava que ela devia se inscrever num curso de espanhol ou mesmo portugues. Em vez de me desatar a rir, respondi-lh que num raio de 100 km ela nao se ia poder inscrever em curso de portugues nenhum, o que nos leva quase à razao do meu despedimento.
Enquanto lhe expliquei por alto como era a comunicacao com o sul da América, com as pessoas com quem comunico diariamente, ela entreteve-se a olhar para a minha secretária e com muito mais interesse, para o lado de fora da janela. Quando me pareceu que ela nao estava a prestar muita atencao, foi aí que ela se encarregou de esclarecer.
- Tás a ver aquela janela do outro lado? É onde trabalha o meu namorado. Agora vou poder ver tudo o que ele faz durante o dia. Se aparecer ali alguma gaja a meter conversa com ele, pego logo no telefone para o ameacar!
Isto é um bom exemplo da situacao escolher empregos pelas razoes erradas. Tentei gostar dela, mas nao consegui. Ela vai ficar na minha secretária, vai-me substituir. É ela que vai cantar o Mr. Sandman com uma banana a fazer de microfone. Será que ela sabe? E eu nao sei se quero ir. Mas vou.

pra ouvir em repeat



Com o apoio da Nat e do Pai do Cosme Damiao.

Kinderhasserin

Poderá uma manha comecada a esburacar a planta do meu pé com a tesoura das unhas, ser razao para a semana já estar condenada? É que realmente nao foi propriamente um bom início, ali sentada na tampa da sanita, de olhos cemi-cerrados, a rocar a cara no meu ombro à procura do toque da minha almofada polar.
Hoje é um dia importante, eu e o Bola vamos fazer o test drive e nao dá jeito nenhum ter calos na planta do pé a impedirem-me de acelerar como deve ser. Testdrive, imagino eu que inclua todas as coisas importantes a testar num carro. Airbags dos dois lados, ABS, velocidade e, para rematar, uma verificacao pormenorizada relativamente ao factor 'confortável', o que implica rebolar com o Bola para os assentos de trás. E para rebolar estou sempre pronta.
Quando fomos ver o carro no sábado, eu experimentei os assentos todos. Pois, às tercas-feiras gosto de me sentar atrás. Quando lhe disse a ele anda aqui atrás ver se os assentos sao fofinhos, ele nao veio e disse que nunca iria viajar atrás naquele carro. Daqui a uns meses, quando o for buscar a algum bar a meio da noite, vou-lhe relembrar estas palavras tao sábias.

- Bola, o nosso carro vai ter cruise control (pra me armar que percebo de carros)?
B- Nao
- E vai ter GPS?
B- Nao.
- E vai ter aquele pi-pi-pi-pi quando estamos a estacionar e quase a bater no gajo detrás?
B- Nao.
- Vai ter a portinhola com os ferrero rochers?
B- Nao.

Bola, entao o nosso carro nao vai ter nada de jeito? (silencio)
Como podem ver, eu tenho todas as razoes para viver um casamento alegre e feliz. Quando eu disse alto, para ser ouvida em todo o lado, que nao há nada mais sexy e que eu queira mais do que um gajo que me faca rir, acho que o Bola devia tar com o os fónes enfiados nos tímpanos.
No sábado ainda fiz algumas perguntas importantes, tais como em que cores há o carro, em que padroes ha os estofos e se podiamos fazer uma simulacao para saber em que valor nos fica o seguro do carro. Quando eu achava que o Bola se preparava para colocar o seu rol de perguntas, a unica coisa que sai daquela garganta esganicada (constipado) foi nesta mala cabe um carrinho de bebé? Até os meus ovários se encolheram. Era só o que me faltava. As minhas colegas falam tanto de bebés que há dias em que passo por elas e posso jurar que me cheira a leite azedo e a fraldas, de tantas vezes que elas libertam o instinto maternal. Prefiro esperar pelas fraldas electrónicas.
No trabalho, fiquei com o rótulo anti-bebés. As raparigas chegam a uma idade em que ficam possessas com o relógio biológico, eu tambem tenho um caramba, gosto é de fazer com ele exactamente o contrário que faco com os do pulso. Atraso-o. Ainda nao plantei a árvore nem escrevi o livro. Humpf. Bolsado, só se for pra voces.

domingo, janeiro 06, 2008

disco pedido pra minhoca

Facam-me aí um favor, se forem queridos, ignorem este video, mas vao la ver e digam-me qual é a musica que toca a partir dos tres minutos e cinco. De certeza que conhecem. Eu conheco, mas esta numa zona da minha memória onde já nao chego. Mas traz-me memórias bonitas.
Come back to see the day you've lost your heart and all your hope... la la la la...

despedidas e despedimentos


Vou ter de comecar as esvaziar os meus dois armários e a trazer todas as coisas que fui adquirindo ao longo destes felizes oito meses. Fruta bolorenta, bolachas, garrafas vazias de coca cola zero, dossiers com todos os segredos da producao de cartao ondulado, dois casacos para quando tenho frio, canetas com a etiqueta 'minhoca', pois nao ha nada que eu goste mais do que a POSSE, guloseimas, bandeirinhas de publicidade, baloes e todos os freebies das companhias tipo DHL, Gls, etc. Será que me deixam levar a minha cadeira? Apeguei-me tanto a ela. Até tem a forma do meu rabo...

sexta-feira, janeiro 04, 2008

comam laranjas

Felizmente hoje é sexta-feira e as sextas tendem a ser dias mais relaxados. À hora do almoco pude ler um bom bocado da revista Time que comecei a ler no voo de regresso na segunda-feira. Ainda nao percebi muito bem o porque de o Putin ser eleito a personalidade do ano. Deve ser por conseguir eliminar vozes da oposicao da forma mais mágica, aliás, é por isso que logo a seguir a ele, a outra person of the year é a J.K. Rowling. A magia, os maus, varinhas de condao e tal. Há, sem dúvida, pontos comuns. Nota-se uma certa tristeza na entrevista à Rowling. Custa-lhe que o Harry tenha crescido. Como a todos os pais custa, nao é verdade? Até a mim me custa crescer e nem mae sou.
O Bola sentiu a minha falta estes dias que estivémos separados. Passou os dois dias após o meu regresso pespegado a mim, como se tivesse caído numa poca de supercola 3 e, sem querer, tocado em mim. Espero que tenham gostado desta piada com a supercola 3, já há muito que eu queria escrever algo giro relacionado com esta cola, mas nao sabia bem como fazer. Depois de me ter ido buscar, o Bola agarrava-se a mim no metro, como se eu pudesse ser raptada a qualquer momento. Nas doze badaladas, agarrou-me mais ou menos da mesma forma, mas até gostei, pois se ha momentos em que uma gaja deve ser agarrada e é bem, é nestes. E nos elevadores. Vao das escadas. E no supermercado na seccao dos iogurtes tambem gostaria que ele me agarrasse. Costumo ter frio. Depois ainda me perguntou se eu nao queria lancar um foguete e eu, apesar de estar mortinha por gamar uns foguetes à malta e lanca-los no gelo, o que eu estava a precisar era mesmo de largar os meus próprios, aqueles tao meus, sem cores, mas nao por isso menos divertidos. Mas esses só se largam quando estamos sozinhos ou há pessoas a dormir. Culpa da comida do aviao. Ou seja, larguei em 2008 foguetes ainda de 2007, nao sei até que ponto isto me pode afectar no futuro ou pior ainda, afectar as minhas resolucoes de ano novo. E boas que elas sao.
Bom fim-de-semana e comam citrinos por causa da vitamina C e tal. A gente substima a importancia dos citrinos e só se lembra deles assim tipo hoje, só porque é dia mundial da Laranja.

foguetes pra todos

Há lá coisa mais bela do que comecar o dia a ouvir o Mr. Sandman na rádio? Desde que descobri a emissora Bayern 1, que oico todo o kitsch alemao dos anos 80, mas tambem muito Elvis Presley e maravilhas como o Oh Carol ou o Mr. Sandman, que me despertou hoje. Pom pom pom pom, conhecem? Desde que cheguei que os dias teem sido dum céu azul maravilhoso e dum sol que só se nota olhando e nao sentindo, pois de quente nao tem nada. No entanto, basta olhar lá pra fora aqui do cantinho da janela, para sentir logo uma aragem fria, totalmente psicologica, a percorrer-me a espinha. Ontem foram encontrados dois cadáveres de dois jovens que haviam desaparecido na noite de fim de ano, depois de uma noitada de pub em pub. Foram encontrados mergulhados num rio, debaixo da camada de gelo que existe neste momento em todos os lagos, um pouco por todo o lado. Espero que nao estejam chateados com estas minhas histórias dignas de Correio da Manha, ou pássaro Avelar das fábulas da floresta verde. Realmente os lagos congelaram parcialmente, parecem ter uma camada forte q.b. para se ir pra lá patinar, mas nao era a mim que me apanhavam em cima do gelo. Na noite de fim de ano, estive em Munique também numa ponte onde se concentraram imensas pessoas a atirar foguetes. Muitas saltaram para cima do gelo e foram lá colocar os foguetes. Eu nao conseguia deixar de pensar que o pior ainda podia acontecer e nao havia quem me convencesse a salvar quem quer que fosse naquela água gelada. Só se fosse o Bola. E só se ele gritasse muito.
Por falar no fim de ano, deixem-me que vos diga que para a primeira vez que passei na Alemanha, nao foi má. Descobri que os alemaes ficam todos malucos com os foguetes. Descobri que os alemaes PODEM lancar foguetes de todos os tamanhos e feitios. Quando vi o pessoal a concentrar-se todo ali num sítio e cada um artilhado com o seu equipamento, senti-me num parque de diversoes sem poder andar em nada. Porque é que ninguem me avisou que se podia brincar aos foguetes? Para o ano, já sei ao que vou. Levo a minha carrinha com foguetes daqueles que duram até de manha e que nao saem dos meus intestinos. Já tenho o cenário perfeito, eu com a minha carrinha de foguetes de todos os feitios e de todas as cores e o Bola com a nossa cesta de palha, garrafa de champanhe e dois copos para festejarmos à meia-noite. E depois vou mostrar a estes gajos quem é que sabe mandar foguetes.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

um traje dos descobrimentos só pra mim

Apesar de o regresso me deixar sempre com os olhos brilhantes demais, sabe bem estar de volta. Sentir o cheiro da minha casa, ver as coisas como as deixei, como que a lembrarem-me que é aqui que eu pertenco. Se gosto assim muito de aqui pertencer, isso é conversa para outros dias, pois na primeira semana após o regresso tenho sempre tendencia a ter pena de mim mesma. Nada que a rotina nao se encarregue de limpar da minha cabeca dentro de uns dias. O país das Salsichas até nao é mau de todo. Nao ha pasteis de nata nem feijoada nem colo da mae, mas isso também sao coisas que nao se pode ter todos os dias.
A minha rotina dura mais umas tres semanas. A partir de dia 1 de Fevereiro, passa a ser outra com a mudanca de emprego. Novidade por mais uns seis meses e depois espero ambientar-me e gostar tanto ou mais como gosto do meu actual trabalho.

Vamos ao essencial, pois nao há nada mais deprimente do que comecar o novo ano com posts cinzentos. Aqui impera o frio. O ar é tao gelado que me corta a voz quando por acaso, calhou ir a falar ao mesmo tempo quando saio do quente para o frio. Ainda há restos de neve um pouco por todo o lado, mas nao parece que vá nevar nos próximos dias. Mas sempre que vou a caminho do carro ou saio dele, vou a tiritar de frio e a pensar que se me cruzasse com um esquimó lhe dava um abraco de pena por terem de viver nos iglos e tal.
Ir passar o Natal a Portugal nao estava planeado desde assim há muito. Foi o Bola, que querido como só ele é e desesperado por umas férias da minha pessoa, me convenceu a ir passar o Natal com a minha família. Com a ajuda da mana, apareci em casa dos meus pais dentro duma caixa de cartao embrulhada. Apesar de estas surpresas terem muito de divertido e um factor sensacao bem elevado, talvez fosse melhor ideia parar por aqui. Isto de aparecer assim sem avisar pode acelerar coracoes mais fracos e digo isto porque a ida a Moscovo será em Abril, para o 60o aniversário da minha sogra. Também é suposto ser surpresa. Esperemos que seja uma das boas.
Sempre que viajo na Tap, fico com vontade de tentar arranjar um daqueles casacos compridos que as hospedeiras teem. Bom, o chapeu dos Descobrimentos nao faco questao de ter, mas aquele casaco assim tipo sobretudo, comprido, azul, de botoes dourados, é algo que eu gostaria de ver pendurado no meu armário. E este é o meu capricho de início de hoje, num dia cinzento e frio, com síndroma pré-menstrual, lábios rebentados de cieiro e uma grande vontade de hibernar. Já me podem dar o casaco?

(é o que nao está vestido, mas na mao dela, para me entregar)