Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

domingo, julho 27, 2008

O Bola está um pouco arisco desde ontem, pois diz que ultimamente ando mais difícil, ora bem, mais difícil pressupoe que eu ja seja difícil, facto que contesto vigorosamente. Eu sou uma pessoa que se contenta com pouco, de trato fácil. Contento-me em poder dormir num sábado ou num domingo até às onze da manha. Contento-me em ver um dvd enquanto como uma caixa de ben & jerrys sozinha. Contento-me com um passeio de bicicleta ao longo do rio. Isso sao pequenas coisas que fazem do meu fds um bom fim-de-semana, que me deixa contente e com vontade de enfrentar a nova semana.
Hoje pintámos o hall da entrada, melhor dizendo, o Bola pintou pois tem sido ele sempre a encarar o seu papel de self-made man que até a sua própria casa pinta. A cor tínhamos escolhido os dois e desta vez, foi uma cor para a qual nao há nome de fruta, razao pela qual eu tive de lhe atribuir outra.
- Será que te importas de parar de repetir isso em relacao à parede?
- Só se reconheceres que tenho razao.- Ok, tens razao, imagino que tenhas... mas pra mim é mais cor de mostarda.
- Para mim é cor de cocó de bebé, porque é que nao posso chamar a cor pelo nome?
- Porque eu te estou a pedir.
E assim passámos a chamar a cor da nossa parede de mostarda, ou melba, mas diarreia de cocó é muito forte para o Bola. Até porque nós gostamos da cor.

quarta-feira, julho 23, 2008

assim se vai vivendo

Comecar de novo numa cidade quase desconhecida, apesar de interessante, tem o seu que de estranho. Na primeira semana, quando chegava a casa, nao me sentia em casa. Tento pensar que isso se deve ao facto de ter de encontrar o meu caminho até à casa de banho e até à cozinha pelo meio de caixas, móveis e cadáveres. Pronto, cadáveres nao. Era só para apanhar quem vem para este blog distraído, tipo a comer. Eu por exemplo, venho para este blog para NAO comer. Como estou aqui distraída, nao penso no häagen dazs doce de leite que tenho no congelador. Nem nas barrinhas Kinder que estao 30 cm abaixo, no frigorífico. Como, portanto, uma peca de fruta, porque me faz melhor.
Regensburg é uma cidade bonita. Nao é grande. O centro da cidade é tao arranjadinho que parece o set da rua sésamo, com ruas falsas, só mesmo criadas para o Poupas passar para mais um diálogo interessante com o André, quem diria ha... que um gajo que faz um programa para criancas iria mais tarde aparecer na televisao como capitao Roby. Regensburg convida a andar de bicicleta para todo o lado. Convida a esticar-me nas margens do Danúbio a ler ou a dormir, enquanto o meu nariz procura incansavelmente o aroma da água, aroma esse que nao existe, nao cheira a nada, porque nao é o mar.
A nossa casa comecou finalmente a ganhar forma de lar. Está tudo mais ou menos no sítio, as paredes foram pintadas, agora só falta escolher o papel de parede que eu espero finalmente poder vir a ter, pois é algo que sempre adorei. Agora só ficaram por decidir as pequenas coisas, como por exemplo se colocamos no correio uma chapinha a dizer que nao queremos publicidade, ou se colocamos uma barra no chuveiro para segurar o mesmo, quais molduras penduramos onde. A questao de bloquear a publicidade é tramada, pois se há algo que faz o Bola feliz para além do meu sorriso, sao os cupoes de desconto da Subway, a melhor loja de sandes e cookies do planeta. Que fica a uns 200 metros de nossa casa. A loja da subway tem outra coisa que me desasossegou que foi os azulejos digitais. A subway aqui tem na frente azulejos revestidos com desenhos de legumes gigantes, outra coisa que eu consigo adorar mais do que o papel de parede. Mas tudo tem o seu preco e esse preco eu nao estou disposta a pagar. Chuif. Um preco que nao me importo de pagar contudo, sao cinco euros à criancada chata aqui do prédio que fica horas a brincar no parque aos gritinhos, para irem gamar os cupoes da subway das caixas de correio todas aqui da rua. Toda a crianca devia comecar por se dedicar cedo a ganhar a sua semanada. Ora saia mais um cookie de macadamia.

sexta-feira, julho 18, 2008

o Baumarkt

Porque neste blog tambem se fazem algumas vénias aos alemaes, deixem-me que vos fale de mais uma faceta deste povo tao interessante. O Baumarkt. O Baumarkt é assim um grande armazém de material de construcao. Tem tudo o que se possa imaginar e nao imaginar relacionado com qualquer tarefa que se encaixe no tema bricolage. O alemao é por natureza um ser faca-voce-mesmo. Apercebi-me disto quando uma colega minha há uns anos me contava que tinha passado o fim-de-semana a por taco na casa dela, com o marido. Depois, vi a perícia com que a prima do Bola agarra na black & decker e subia para cima dos meus armários da cozinha para os fixar uns nos outros. Comecei a prestar atencao e eis que descobri o mundo maravilhoso do Baumarkt. Nao adianta pensarem em coisas que acham que nao há. Ali há tudo. Desde parafusos, passando por 40 tipos diferentes de piacaba, por armários de todos os tamanhos e para todos e gostos e indo parar a tipos de madeira para por no chao, placas de madeira para fazer o balcao da cozinha. Os alemaes pintam a própria casa, renovam a casa-de-banho e substituem as torneiras sempre que necessário. Eu diria que muitos alemaes ficam de tal forma viciados no baumarkt, que inventam coisas para reparar para ao fim-de-semana, para poderem prestar mais uma visita ao Baumarkt.
Quando na semana passada, eu dizia ao Bola assim a sonhar alto, que talvez nao fosse má ideia agarrar nos armários da cozinha que nao cabem aqui, virá-los do avesso, fixá-los uns nos outros, por-lhes pés e cobrir com uma placa de madeira por cima mais estreita, NUNCA PENSEI QUE AO CHEGAR A CASA OS MEUS OLHOS SE DEPARARIAM COM O RESULTADO DE TAL SONHO. Ele que me acusa de entrar em delírio frequentemente - como hoje, sexta-feira, em que sugeri uma ida ao Ikea - pegou numa ideia minha e tornou-a realidade. Comovi-me. Afinal ele ouve-me. É preciso ter cuidado.
Para terminar, deixem-me dizer que uma ida ao baumarkt é algo que adoro fazer, pois vou sempre atrás dum daqueles tipos de fato de macaco azul, muuuuuuito prestáveis, fazer assim uma pergunta tonta para eles me poderem despejar a sua cassete. E depois agarro em pequenas pecas, vou a correr atras deles e pergunto o que é isto. Eu gosto de fazer as pessoas felizes, tá bem?

quinta-feira, julho 17, 2008

Com gatorade voce vai mais longe

Esta foi a frase com que me deparei hoje no primeiro mail que abri de manha, vindo de um dos colegas do Brasil:
Querida Minhoca, Espero que esteja tudo ótimo com vc e te desejo dias mais maravilhosos ainda!!!!
Nao é de mandar já dois pares de estalos por email? A verdade é que enquanto o copo está meio vazio para uns, para outros está sempre um quarto cheio e um quarto parece bastar.
Bom, entretanto o Bola assumiu ao longo desta semana o seu lado mais Robialac e sempre que digo isto, vem-me à memória umas das melhores músicas de publicidade dos anos oitenta... ora vejam lá se ainda se lembram de ver aquela linha de homens em fato-macaco a marchar com baldes de tinta:
Stucomat é uma grande tinta / Stucomat é Robialac / Toda a gente pinta com Stucomat Stucomat é Robialac / É tinta muito em conta para qualquer um / É tinta com a qualidade Robialac
A unica música de publicidade de faz concorrencia a esta é da brasa, a bebida que aquece o coracao. Mas nao me quero dispersar.
O Bola tem estado desde terca-feira entregue ao seu lado robialac, que na verdade tambem podia ser Barbot. Na Alemanha, é Alpina. Ele nunca o pos em palavras, mas eu sei que ele gosta de pintar a casa. E eu gosto que ele goste de pintar a casa. Como sei que ele fica um pouco irritado por eu me referir a cores por outros nomes que nao os das cores, mas de coisas que representam a cor, tenho passado os ultimos dias a enunciar os tons, usando apenas nomes de frutas, para esticar um pouco a sua capacidade de humor praticamente inexistente. Portanto, uma parede do nosso quarto ficou em tom de ameixa e a da sala em tom de ananás assim a fugir para o baunilhado. Isto é para já, pois a fase robialac que podia ser barbot, parece durar até domingo. Tenho andado a fugir ao kiwi, pois já tive a minha dose de kiwi na casa antiga.
Mas confesso que quando chego a casa e vejo o Bola de tronco nu, com pintas de tinta e rodeado de plásticos, rolos para pintar e toda a seleccao de material necessária a tal actividade, me dá vontade de agarrar no pincel e comecar a pintar tambem. Cof.. cof...
O titulo do post é work related. Tem sido a minha semana, a tentar acertar com medidas de garrafas e rótulos gatorade. Com sabor a tangerina e maracujá, diz que há no Brasil. E o título é a frase da gatorade, que confesso me ter impressionado.

quarta-feira, julho 16, 2008

meio

Os últimos dias teem sido passados com alguma frustracao. Torci o pé que ja havia partido há alguns anos e desde esse dia que me desloco assim a modos que com grande deficiencia física, para além da mental que já me era característica. Vantagens em andar assim torta, bom, tirando o facto de estacionar o parque privativo da empresa, nao as há. Tenho a casa numa bagunca e quando olho para o caos, nem sei por onde comecar. O meu sistema nervoso ficou um pouco mais debilitado e dou comigo recentemente a comportar-me de forma pouco normal, descarregando a minha fúria em objectos inanimados, dos quais estou ciente vir a precisar no futuro na sua forma original e nao destruídos pelos meus pontapés. Nao sei se é do tempo ou se o meu corpo reage mal à mudanca. Ou se o facto de andar a mancar desde a semana passada me provoca um sentimento de inferioridade tao grande que me apetece bater na parede. E nos meus colegas de trabalho. E no tampo da sanita.
Há tanta coisa para fazer na casa nova que se eu nao explicar bem a quem nao sabe, podem bem pensar que eu estou a construir uma em vez de alugar. Tem sido uma semana sensível, na qual tudo me irrita. As janelas que sao estreitas, a cozinha que é pequena, o Bola que pos silicone nos sítios errados (na cozinha, nao no corpo), os armários que nao se podem encaixar nos furos de origem, a casa de banho que nao tem janela e a cor para pintar a sala que ainda nao consegui escolher. Ando de mau-humor, sao dias daqueles, em que o copo só está até meio.

quarta-feira, julho 09, 2008

cidade nova, vida nova

Companheiros desta vida difícil, nao, nao morri. Sobrevivi às mudancas com bastantes nódoas negras e o corpo a pedir misericórida. O Bola antes da mudanca deve ter metido umas pilhas duracell, pois ninguem o parava. E nao pára.Ele é montar a cozinha, ele é pegar nos móveis sozinho e subir dois andares com eles e com outra mao ainda segura noutra coisa igualmente pesada, qual Pipi das meias altas, mas sem as meias. O resto é mais ou menos parecido. Desde o dia 2 de Julho, desde o momento em que aterrámos no aeroporto Franz Joseph Strauss em Munique, vindos da Costa Blanca, que o Bola parece que snifou qualquer coisa que me escapou. O que é pena, pois eu podia ter snifado tambem. Como nao foi esse o caso, o meu débil corpo que nao tem porte para estas cavalgadas, comecou logo a dar mostras de fraqueza quando o Bola me pediu para eu comecar pelas coisas mais leves e me pos na mao um candeeiro de halogeneo, que acabou por se partir ao meio nas minhas delicadas maos. Sim, nem tudo chegou à casa de chegada, como saiu da casa de partida, mas o que importa nao é como se chega, mas que se chegue, ou nao? Nao é esse o espírito das maratonas? Ontem, depois de uma sessao de gata borralheira de casa antiga, estiquei-me no chao da sala na alcatifa, com a cabeca no regaco do Bola:
- Bola, fomos tao felizes aqui, nao vais ter saudades desta casa?
Como ele respondeu que nao, concluo que tenho de deixar de ser tao emocional em relacao a coisas inanimadas. Aquela casa sem as nossas coisas nem a nossa presenca, nem tem alma. Foi alias algo que tive de aprender quando me deparei com coisas que fui guardando ao longo dos últimos quatro anos, perante a hipótese - que se adivinhava remota - de um dia vir a precisar. Tornei-me desprendida demais nestes últimos quatro dias, tao desprendida que um dia destes meto o Bola num daqueles sacos amarelos que dao para estes lados, para os plásticos. Assim para dar a quem precisa. Como dou roupa. Há coisas que acontecem e nos deixam a pensar na sua ironia. Como o meu pé, por exemplo, que parti faz uns sete anos e hoje voltou a relembrar-me que ainda está pra ali qualquer coisa desaparafusada. Ando manca. A sorte é que o Bola depois de ter passado a tarde armado em homem das obras a montar a cozinha, ainda tem folego para agarrar em mim e me levar da garagem até à porta de casa. Ele vale ouro e só eu sei quanto.