Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

segunda-feira, novembro 30, 2009

Gore tex: um mundo novo se abriu

No sábado passado o Bola apresentou-me um mundo que faz tanto parte da cultura do país das salsichas, que nao era o mundo da meia branca, mas sim o mundo dos TREKKING SHOES.
Quando os alemaes se fazem à estrada, já ninguem os agarra. É ve-los subir montanhas, andar como se estivessem hipnotizados, como se fossem a perseguir alguem, como se no fim do trajecto houvesse o tal tesouro que dizem haver no final do arco-íris. É dos trekking shoes!! É dos sapatos. Pois algum alemao vai correr de ténis?? Claro que nao. Os trekking shoes fazem tanto parte da vida dos alemaes como fazem as salsichas. E olhem que eu sei do que estou a falar, pois no sábado meti as minhas patinhas de Minhoca dentro de este espécimen aqui abaixo e nem queria acreditar que é possível caminhar assim, como se a minha sola fosse feita de ventosas, mas daquelas que nao colam ao chao. Ventosas bem caras, por sinal.
Eu quero trekking shoes. E Gore-tex. E lindos como estes. Para me serem fanados por um indiano mal-intencionado que nao resistiu ao brilho das minhas sapatolas abandonadas à entrada de um templo qualquer.

terça-feira, novembro 17, 2009

ir num pé e vir no outro

Pois, dei ali um saltinho a Portugal por uma semana. Fui num pé e vim no outro. A minha viagem é sempre muito emocionante e quando falo da viagem, refiro-me neste caso apenas à utilizacao dos meios de transporte. À ida é sempre uma desgraca, antes de embarcar fico vinte minutos presa no WC, tal é a forma como os meus intestinos absorvem o meu medo de andar de aviao. Especialmente sozinha. Tenho medo de nas descolagens, um destes dias agarrar no braco do meu vizinho de bordo ou desatar aos gritos, a dizer que preciso de um pára-quedas.
A viagem de ida correu sem grandes turbulencias, a uma hora boa do dia. Antes da aterragem, à medida que o aviao ia pairando sobre o Lisboa, o meu coracao emigra comecou a bater mais depressa, fechei as palmas das maos uma na outra e fui observando com uma alegria imensa o Atlantico, o Tejo, as Amoreiras, o transito que lá de cima parece tao fluido e organizado. Aterro com a mesma fome habitual, nao só da comida, mas das pessoas, do dialecto que falam, do cheiro do ar, da vida nas cidades em Portugal que é tanta comparada com a letargia do país das salsichas nesta fase do ano. Quando finalmente ponho o nariz fora do aeroporto, os meus sentidos todos despertam e sinto-me desperta e viva, pronta para comer, cheirar e ouvir todas as conversas à minha volta. E assim me deixo ir por maravilhosos sete dias.
No regresso, é tudo mais triste. Desta vez, o meu companheiro de lugar no Alfa pendular sentiu-se enjoado a viagem toda, tendo sido interpelado quatro vezes pelo revisor que tanto falava com ele, e tantas perguntas lhe fazia que eu estive perto de gritar cale-se-seu-parvalhao-que-ele-ainda-vomita-de-tanto-o-ouvir-falar-e-eu-tambem. Eu nunca enjoo de comboio, mas nem uma alminha bem artilhada de vomidrin® aguenta este cromo a falar da técnica com que se movimenta um comboio pendular e dos enjoos em pessoas com quebras de tensao, diabetes, de idade avancada, etc e se nao quer um chocolate, água com acucar ou ir morrer longe.
Chegada ao aeroporto, deparo-me com uma fila enorme de gente a passar no controlo de substancias ilícitas. Com embarque as 18:15, eram 18:30 e eu ainda nao tinha sido apalpada pela mocinha simpatica do controlo, com passagem especial pelo meu cinto e calcado, ou interpelada pela razao de levar quinhentas chouricas na mala de mao. Comecei a ficar ansiosa, com as palmas das maos húmidas e quando chegou a minha vez, já tinha tirado cinto, moedas dos bolsos, aneis, relogio e nem fiz a minha piadinha da prótese que nao tenho.
Já sentadinha no aviao e a precisar de Rexona em doses reforcadas, colei o nariz na janelinha minúscula tentando concentrar-me nas gotinhas de chuva que iam deslizando pelo vidro, levando outras gotinhas de arrasto, algo que sempre gostei de fazer quando estou triste. Acho que foi algo que me marcou num dis vídeos do Roberto Carlos dos anos oitenta, eu impressiono-me muito facilmente. O tempo lá fora combina com o meu estado de espírito e qualquer pessoa sente esta empatia da chuva, como se a Natureza e a minha alma se tivessem aliado.
A combinacao da tristeza e duma aterragem brusca - provocada por um piso alagado de água no aeroporto de Munique - fez-me comecar a pedir perdao baixinho pelos meus pecados e prometer nao voltar a andar de aviao sozinha. Chuif. De modos de que estou de volta... mas ainda triste e a afogar as mágoas em broa de milho com queijo e marmelada.

para os fans de Damien Rice

..deixo-vos a música mais bonita do ano. Nao é do Damien, mas é a mesma tendencia. Ou seja, mellow, slow...

trágico-cómica e omega 3

Ontem comprei um saco de nozes e vim toda contente para casa a pensar que me ia empanturrar de omega 3. Apenas me esqueci que nao tenho quebra-nozes e nem atirando as ditas cujas contra a parede pareceu ajudar.
Hoje muni-me de um quebra-nozes dos bons, por tres euros e meio, e cheguei a casa já devidamente artilhada para o ómega 3. De vez em quando, ainda dá jeito eu e o Bola falarmos uma ou outra coisa em ingles:
- Bola, isn't this cool? I finally have nuts for myself that I can play with and crush, other than yours.
Ele nao achou piada. Eu achei muita e ri-me desesperadamente, especialmente da cara deveras sensibilizada dele. E já lhe disse que um dia que tivermos filhos nos devemos ir pateticamente deles e com eles para nao crescerem atadinhos e sem capacidade de integracao nenhuma. Há que puxar o máximo dos genes portugueses nos desgracados, senao nada disto vale a pena.
É o que dá, vou a Portugal e quando regresso, o meu humor fantástico vem sempre tao acentuado. A típica cena trágico-cómica.