Ontem estive em Viseu, mas eu devia era ter lá ficado para hoje ir de bandeirinha na mão acenar ao Cristiano. Confesso que esta pré-euforia, com nova saga de bandeiras e quinas por todo o lado, já me começa a irritar um pouco. Não dá para voltarmos aos Pai-natais a subir pelas janelas? É que nem era má ideia de todo, já que a Imperial já está a fabricar as fantasias para o próximo Natal. Esta informação vem de fonte segura, da minha Mãe que foi ontem visitar a fábrica, um destino incluído na minha lista 100-coisas-para-fazer-antes-de-morrer. Se não for essa, pode ser a fábrica da Olá.
O Bola é tão amoroso e gosta tanto de me dar provas de amor nos momentos certos, que hoje me ligou às seis e meia da manhã.
- Bom diiiiiiiiia! Hoje vou mais cedo trabalhar porque tenho que fazer isto e aquilo e bla bla bla... (nao posso ser precisa quanto a coisas ditas a horas escandalosas, i.e. antes das oito da manhã)
- Bola... tu tens noção que aqui são seis e meia, ainda nem isso...? Tu .... ACORDASTE-ME!!! Mas nem a 2800 km de distância me deixas dormir?!?!
Bom, relembrei-lhe que o nosso casamento pode depender de acidentes de percurso desta gravidade. Espero que ele não volte a repetir a proeza. É que depois já não consegui dormir em condições, porque depois os meus intestinos acordaram também a relembrar-me da quantidade também escandalosa de ovos moles que comi ontem. Mas é tão boooooooooom... o colesterol é algo inventado por pessoas, cujo hobby é destruir o prazer de comer. E pessoas dessas estão espalhadas por todo o lado. São resmas delas. São essas e aquelas que repetem dez vezes ao dia a máxima do momento isto está muito mau. Esta frase está a um triz de ser classificada oficialmente como parte da gíria portuguesa. Esta frase ameaça tornar-se mais populucha do que termos como 'fixe' e 'bué', que foram palavras com muito sucesso na última década, sob o ponto de vista da evolução semântica do português. Vocês vejam lá isso. É que isto está mesmo mau. (o tempo, diz-se)
Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca
quinta-feira, maio 29, 2008
ao engano
Os dias com o Bola na montanha foram bem passados. Tínhamos a nossa cabana no meio do prado, com uma vista fantástica para os Alpes e um ar maravilhosamente fresco. Todas as manhãs, tomávamos o pequeno-almoço na varanda, com o sol a banhar-nos os braços e o som dos passarinhos e dos sinos das vacas ruminando mesmo à nossa frente. O Bola fazia o café, ía ao pão e esperava-me sentado cá fora, a ler o jornal. Andámos muito a pé, passeámos pela zona do Tirol e no sábado fomos fazer uma caminhada que se transformou em escalada. Eu nao tinha lido convenientemente o livro que o Bola tinha comprado. Eram caminhadas NA MONTANHA. E eu escolhi a mais curta e uma da categoria FÁCIL. Quando o passeio começou, eu não queria acreditar que o Bola estava mesmo à espera que eu andasse TRÊS HORAS a subir uma montanha, ou seja, a PIQUE. Mas como eu tenho de o acompanhar nas coisas que ele gosta, para poder por exemplo, garantir a sua companhia para o cinema sempre que hajam comédias românticas e especialmente agora que o inimigo mora ao lado (a vizinha) e é um inimigo que certamente sobe montanhas, corre na lama e no fim ainda faz 346 abdominais (só com um braço), ... eu tinha uma mão cheia de motivos para subir os 600 metros que tínhamos acima de nós sem me queixar.
Mas não foi fácil. Várias vezes, achei que o meu coração me ía saltar pela boca fora. Outras vezes achei que eram apenas arritmias. Outras vezes, era a lama nas zonas mais irrgulares, a desafiar a densidade dos meus ténis. Outras vezes, sentia as minhas pernas a tremer, pedindo-me misericórdia. Mas ignorei-as. No meu delírio, eu apenas via a minha vizinha, fardada, a subir a montanha de bicicleta com o Bola enquanto conversavam alegremente montanha acima. Quando há motivações destas, eu não subo só as montanhas, sinto-me capaz de as mover!
O Zwieselgipfel foi o nosso destino. A segunda foto é da vista à medida que subíamos.
quarta-feira, maio 28, 2008
vim aqui e já volto
Ando por terras lusitanas. Vim assim de repente, sem avisar, como expliquei às minhas colegas no dia em que comprei o meu bilhete no site da TAP, para que os meus pais não tivessem tempo de ir a correr fechar as persianas ou deixar o telefone tocar, com medo de eu montar a minha tenda e tão depressa não me ir embora. Vontade não me falta.
Contrariamente às minhas expectativas, o tempo não está como era suposto. Toda a roupa que tenho na mala vai lavadinha e engomada como está, de volta à minha gaveta, na minha casa, pois está-me a querer parecer que enquanto aqui estou só me vou servir do pijama e do casaco de malha polar. Parece Outono. E lá nas salsichas brilha o sol. E depois é uma chatice porque este tempo só é bom para ir pros centros comerciais. E depois o problema é a minha carteira, ou melhor dizendo, a minha consciencia de Minhoca pouco esbanjadora.
Sabe bem estar de volta. A comida sabe bem, o ar cheira diferente, cheira a casa. As pessoas andam com coisas bonitas, bem arranjadas. Falam porém, alto e em sítios em que se espera algum nível de customer service, falam umas com as outras sobre assuntos menos próprios. Com todas as coisas que me incomodam neste país, é aqui que me reencontro, que parece que posso ser eu novamente. Gosto de ouvir as conversas por detrás do meu ombro, no café, no comboio, no sapateiro. Gosto de constatar nas revistas cor-de-rosa que no meio social lisboeta já há mais umas dezenas de actrizes e relações públicas. Na minha ausência, tenho a certeza que a profissão relações públicas, se foi aproximando cada vez mais do seu signficado directo. Ter relações, que são públicas, portanto. Basicamente, jovem, também TU podes ser uma relações públicas! Basta chamares-te Quica ou Tita. Ou Micá. Ou Bibá. Hoje li pela primeira vez o Diário de Notícias e encontrei tantas incongruências que concluí que o mau jornalismo está em cada esquina. São pequenas coisas novas.
Tá tudo maluco com o preço dos combustíveis. Fala-se na pobreza. Na Alemanha também. Só ainda não vi filas para atestar o depósito. Mas nada me vai deprimir nestas férias. Dêm-me um galão e meia torrada e sou uma Minhoca feliz.
Contrariamente às minhas expectativas, o tempo não está como era suposto. Toda a roupa que tenho na mala vai lavadinha e engomada como está, de volta à minha gaveta, na minha casa, pois está-me a querer parecer que enquanto aqui estou só me vou servir do pijama e do casaco de malha polar. Parece Outono. E lá nas salsichas brilha o sol. E depois é uma chatice porque este tempo só é bom para ir pros centros comerciais. E depois o problema é a minha carteira, ou melhor dizendo, a minha consciencia de Minhoca pouco esbanjadora.
Sabe bem estar de volta. A comida sabe bem, o ar cheira diferente, cheira a casa. As pessoas andam com coisas bonitas, bem arranjadas. Falam porém, alto e em sítios em que se espera algum nível de customer service, falam umas com as outras sobre assuntos menos próprios. Com todas as coisas que me incomodam neste país, é aqui que me reencontro, que parece que posso ser eu novamente. Gosto de ouvir as conversas por detrás do meu ombro, no café, no comboio, no sapateiro. Gosto de constatar nas revistas cor-de-rosa que no meio social lisboeta já há mais umas dezenas de actrizes e relações públicas. Na minha ausência, tenho a certeza que a profissão relações públicas, se foi aproximando cada vez mais do seu signficado directo. Ter relações, que são públicas, portanto. Basicamente, jovem, também TU podes ser uma relações públicas! Basta chamares-te Quica ou Tita. Ou Micá. Ou Bibá. Hoje li pela primeira vez o Diário de Notícias e encontrei tantas incongruências que concluí que o mau jornalismo está em cada esquina. São pequenas coisas novas.
Tá tudo maluco com o preço dos combustíveis. Fala-se na pobreza. Na Alemanha também. Só ainda não vi filas para atestar o depósito. Mas nada me vai deprimir nestas férias. Dêm-me um galão e meia torrada e sou uma Minhoca feliz.
quarta-feira, maio 21, 2008
a última do pacote
Ontem enquanto fazia o meu clássico bolo de laranja - muito banal em Portugal, mas aqui uma iguaria quase de calibre conventual - pensava em qual teria sido a alegria da pessoa que descobriu o fermento, quando de repente se apercebeu que a reaccao química era fazer a massa crescer. Até eu, quando olho do lado de fora do forno e vou vendo o tamanho do bolo em erupcao quase, sinto uma alegria inexplicável, imagino a do gajo que descobriu o baking powder ... e acho que no que toca a ver coisas aumentar de volume e sentir alegria, é melhor ficarmos por aqui.
Tou de maleta feita para quatro dias na montanha. Levo várias coisas acabadas em ... de sobrevivencia. Livros de sobrevivencia, bolachas de sobrevivencia, cobertor de sobrevivencia e acho que se tivesse um daqueles canivetes com bom aspecto, o metia enfiado na meia, esta por sua vez no meu pé e o meu pé enfiado numa bota digna de caminhadas na montanha. Já me sinto feliz por ao fim de dia ter à minha espera uma cama que nao se encontra numa tenda de campismo, mas sim num confortável apartamento kitsch. Com bibelots, como eu gosto. O importante mesmo é encontrar o meu caminho de volta para a casinha kitsch. Levo um saquinho com migalhas que pretendo ir distribuindo ao longo do meu percurso. Sei que o Bola tem intencoes de me levar, mas sobre trazer-me de volta nao foi falado nada.
Malta, estou de volta na segunda-feira e prometo ter muito para contar. Assim tipo um peixe pescado por mim e assado na fogueira ACENDIDA POR MIM.
Até lá, partilho com voces mais uma tirada desta variante tao bela que é o portugues do Brasil, pois estas coisas devem ser partilhadas, especialmente agora que tivemos de nos render ao acordo ortográfico.
Frase para nos referimos a uma pessoa convencida: Esse cara tá se achando a ultima bolacha do pacote.
Eu ainda disse à minha colega que isso nao faz muito sentido, pois a última ninguem se atreve a comer, por delicadeza. Ela disse que no Brasil isso nao existe, que toda a gente quer devorar a última bolacha, seja qual for o pacote. Pronto. Sao culturas!
Mas se me permitem um desabafo, já estou um pouco moída - eu, pessoa fina - de ter de ouvir putakipariu a cada dez minutos durante o expediente. Eu nao gosto de palavroes. Encolho-me toda como se alguem tivesse feito o giz chiar no quadro de xisto. Elas reagem com um deixa di frescura minina!
domingo, maio 18, 2008
Perigo iminente
Ouvir os gritos das andorinhas deixa-me incrivelmente feliz. Lembro-me de andar na escola e acordar com os gritos das andorinhas quando o Verao ainda estava a comecar. Lembro-me de quando era mais pequena, o meu Pai me levar a mim e aos meus irmaos para a varanda do quarto com o pacote de algodao e nos mostrar como podiamos pegar num bocado, abri-lo para que levitasse no ar morno, e depois esperar até que uma andorinha o apanhasse. Acho que é por essa razao que gosto tanto de ouvir as andorinhas, aliado ao facto de aqui nunca me ter apercebido que elas tambem chegam.
Bom, mas apesar de hoje estar um dia deprimente e chuvoso (as andorinhas lá se safam pelo meio da chuva, ou entao apercebem-se agora que se enganaram no destino e que tambem precisam de GPS), nao vou passar a tarde no tema saudades, pois esta semana o tema é os quatro dias para a montanha e tenho de me preparar fisica e psicologicamente.
Ontem tivemos churrasco cá em casa. A vizinha de baixo veio e trouxe os pais, e vieram mais 4 amigos nossos. Foi animado, se excluirmos as vezes em que a Mae dela fez observacoes muito semelhantes a esta:
(para o Bola)
- Ai gostas assim tanto de alho...! Que engracado, a minha filha também. Minhoca, tu ve la, porque onde há cheiro a alho, a minha filha vai atrás.
Durante o resto da noite, ouvi mais tres vezes comentários parecidos, aos quais sorri amarelamente, variando a parte do alho. Spare ribs foi outra. Só faltou mesmo caminhadas. Mas como ela usa farda e corre dez quilómetros por dia, nao lhe deve ser dificil subir a montanha e desce-la num dia. Alem de boa preparacao, ela tem um cabedal que no caso de isto chegar a confronto físico, garante que eu vou ficar passada assim género envelope. Durante a tarde ainda fomos buscar um grande naco de pao à padaria, pois ela faz hoje anos e a Mae dela pediu ao Bola se lhe podíamos fazer esse favor, pois a sua princesa desde tenra idade que nao pede bolo de anos, mas sim um grande naco de pao. Vai daí, à meia-noite cantámos os parabéns e comemos todos uma fatia de pao barrado com queijo creme.
Ultimamente, sinto que me tornei numa minhoca bem mais amorosa para com o Bola. Mas mais amorosa me vou tornar para com a minha nova vizinha. Mas eu juro que simpatizo com ela. Mas se o Bola voltar a grunhir de prazer depois de provar a sobremesa dela e nem sequer tocar na minha, aí agarro na vizinha e vamos lá fora resolver isto as duas.
Bom, mas apesar de hoje estar um dia deprimente e chuvoso (as andorinhas lá se safam pelo meio da chuva, ou entao apercebem-se agora que se enganaram no destino e que tambem precisam de GPS), nao vou passar a tarde no tema saudades, pois esta semana o tema é os quatro dias para a montanha e tenho de me preparar fisica e psicologicamente.
Ontem tivemos churrasco cá em casa. A vizinha de baixo veio e trouxe os pais, e vieram mais 4 amigos nossos. Foi animado, se excluirmos as vezes em que a Mae dela fez observacoes muito semelhantes a esta:
(para o Bola)
- Ai gostas assim tanto de alho...! Que engracado, a minha filha também. Minhoca, tu ve la, porque onde há cheiro a alho, a minha filha vai atrás.
Durante o resto da noite, ouvi mais tres vezes comentários parecidos, aos quais sorri amarelamente, variando a parte do alho. Spare ribs foi outra. Só faltou mesmo caminhadas. Mas como ela usa farda e corre dez quilómetros por dia, nao lhe deve ser dificil subir a montanha e desce-la num dia. Alem de boa preparacao, ela tem um cabedal que no caso de isto chegar a confronto físico, garante que eu vou ficar passada assim género envelope. Durante a tarde ainda fomos buscar um grande naco de pao à padaria, pois ela faz hoje anos e a Mae dela pediu ao Bola se lhe podíamos fazer esse favor, pois a sua princesa desde tenra idade que nao pede bolo de anos, mas sim um grande naco de pao. Vai daí, à meia-noite cantámos os parabéns e comemos todos uma fatia de pao barrado com queijo creme.
Ultimamente, sinto que me tornei numa minhoca bem mais amorosa para com o Bola. Mas mais amorosa me vou tornar para com a minha nova vizinha. Mas eu juro que simpatizo com ela. Mas se o Bola voltar a grunhir de prazer depois de provar a sobremesa dela e nem sequer tocar na minha, aí agarro na vizinha e vamos lá fora resolver isto as duas.
sexta-feira, maio 16, 2008
abaixo de nós, voltou a haver movimento
Ter vizinhos é bom. Especialmente quando sao daqueles com piada, simpáticos, com quem se pode passar um bom bocado. E levar um cao emprestado. Ter vizinhAs tambem é bom. Mas deixa de ter tanta graca quando o nosso companheiro - sim, aquele a quem damos o nosso amor - lhes acha piada. A minha nova vizinha é de facto muito simpática. Dois dias depois de nos ter conhecido e entrado de pé descalco pela nossa casa adentro para ver a cor das paredes e a nossa varanda, colocou-nos na porta da casa um saquinho com guloseimas americanas. Desde bolachas daquelas tipo subway, passando pelos famosos reeses e toda uma gama de coisas à base de manteiga de amendoim, que encaixam perfeitamente nesta minha tentativa de dieta número 134. Além de a vizinha americana ter os doces de que o Bola gosta, ela possui algo com que eu nao posso competir. Ela usa farda, ela é militar. E isso, sabemos nós, faz parte da fantasia de qualquer representante do sexo oposto, embora muitos morrerao sem nunca o ter admitido. Quando eu já tinha razao suficiente para fanzir a sobrancelha sempre que o Bola me falava na nossa vizinha, eis que hoje, quando ela aqui veio jantar com os pais dela, descobri que alem destes dois factores existentes e de grande peso - farda e guloseimas - existe um outro que juntanto aos anteriores a torna num potencial perigo, especialmente se o Bola achar que eu sou frequentemente chata. Ela apareceu com um decote tao fundo, que a certa altura eu quase que lancava as maos para o prato dela, nao fossem a sua prateleira cair em cima da comida. Eu gosto da minha vizinha, quanto ao Bola, vou ter de arranjar motivos para ele deixar de gostar tanto.
O Verao por cá
Nao sei em que botoes é que controlar os estores automáticos, pelo que tenho o sol a bater no meu monitor e com isso, nem sequer me apercebo onde foi parar o cursor. Enfim, nao interessa. Desde quando é que os génios precisam de reler o que escrevem? Eu precisava.
Depois de uma semana de oito dias consecutivos com sol, ceu azul e as temperaturas a rondar os trinta graus, chegou a altura da habitual punicao. Nao sei se nas diversas consideracoes que tenho feito sobre o tempo no País das Salsichas, já me referi a esta questao, que nao deixa de ser interessante. Nunca passa uma semana banhada de sol no País das Salsichas sem que imediatamente após oito dias, no máximo, chova torrencialmente. E o dia em que chove torrencialmente é hoje, parece. Fica abafado, comeco a sentir a pele a colar-se à roupa e a transpirar por todos os poros, que desde que descobri que a minha tiróide é lenta, uso como desculpa para todo o meu muito ou pouco suor.
Ontem passei a noite no meu quartinho do cemitério e agora que se sente a Primavera por todo o lado, é ainda mais agradável ficar por lá, pois o ar cheira a flores e acordo com as galinhas, um pouco contrariada, mas elas nao se calam mesmo. Quando fui buscar a chave à tia Ingrid, reparei pela primeira vez que ela deve ser mesmo surda. Eu estou ali em frente dela e ela fala comigo aos gritos, como se eu estivesse duas ruas abaixo. Ainda olhei em meu redor, nao fosse ela estar a falar com outra pessoa qualquer, mas nao, era mesmo comigo. Portanto, calculo que todos os vizinhos tenham ouvido aquela parte do 'esqueca lá o euro que falta, que eu ofereco'.
Aproximam-se uns dias animados, para os quais era bom que o tempo ajudasse. Eu e o Bola temos uns dias a sós planeados agora para a semana que vem. Dia 22 de Maio é feriado e decidimos fazer ponte e ir 4 dias para a montanha, melhor dizendo Starnberg, que é uma zona maravilhosa, a sul de Munique, com um lago fantástico. Ah, e as montanhas. Ele está muito entusiasmado, especialmente desde que comprou um livro com a descricao de todos os caminhos que podemos fazer a pé em torno das montanhas. O nosso entusiasmo é, pois claro, indirectamente proporcional. Se sao dias de férias, porque é que eu os iria querer passar de língua de fora, a transpirar que nem um porco, a incomodar músculos que há muito que deixei de ter?! Nos meus sonhos, idealizei estes dias acordando de manha por volta das dez, tomando o pequeno-almoco na varanda do nosso quarto, com uma vista suprema. Depois via-me esticada numa toalha de pic-nic no meio do prado, a ler e a apanhar sol. Ao meu lado, o Bola preparava o nosso pic-nic, barrando fatias de pao com manteiga. Num destes sonhos, ele espremia sumo dumas laranjas, com o espremedor manual que tinha levado para o efeito, mas pronto, nao precisamos chegar a tanto. Num dos dias faríamos um passeio de barco pelo lago e noutro iríamos ver o gado a pastar. Será que era pedir muito? Para que as caminhadas? Eu até gosto de andar a pé, mas a direito, nao , a ideia de subir uma montanha nao me apraz. Por isso, procura-se menina simpática e com interesse pelo desporto para me substituir em todas estas ideias que o Bola tem, nas quais o meu corpo se recusa a acompanhá-lo. Com interesse pelo desporto, mas assim pro gorda e feia, se possível.
Depois de uma semana de oito dias consecutivos com sol, ceu azul e as temperaturas a rondar os trinta graus, chegou a altura da habitual punicao. Nao sei se nas diversas consideracoes que tenho feito sobre o tempo no País das Salsichas, já me referi a esta questao, que nao deixa de ser interessante. Nunca passa uma semana banhada de sol no País das Salsichas sem que imediatamente após oito dias, no máximo, chova torrencialmente. E o dia em que chove torrencialmente é hoje, parece. Fica abafado, comeco a sentir a pele a colar-se à roupa e a transpirar por todos os poros, que desde que descobri que a minha tiróide é lenta, uso como desculpa para todo o meu muito ou pouco suor.
Ontem passei a noite no meu quartinho do cemitério e agora que se sente a Primavera por todo o lado, é ainda mais agradável ficar por lá, pois o ar cheira a flores e acordo com as galinhas, um pouco contrariada, mas elas nao se calam mesmo. Quando fui buscar a chave à tia Ingrid, reparei pela primeira vez que ela deve ser mesmo surda. Eu estou ali em frente dela e ela fala comigo aos gritos, como se eu estivesse duas ruas abaixo. Ainda olhei em meu redor, nao fosse ela estar a falar com outra pessoa qualquer, mas nao, era mesmo comigo. Portanto, calculo que todos os vizinhos tenham ouvido aquela parte do 'esqueca lá o euro que falta, que eu ofereco'.
Aproximam-se uns dias animados, para os quais era bom que o tempo ajudasse. Eu e o Bola temos uns dias a sós planeados agora para a semana que vem. Dia 22 de Maio é feriado e decidimos fazer ponte e ir 4 dias para a montanha, melhor dizendo Starnberg, que é uma zona maravilhosa, a sul de Munique, com um lago fantástico. Ah, e as montanhas. Ele está muito entusiasmado, especialmente desde que comprou um livro com a descricao de todos os caminhos que podemos fazer a pé em torno das montanhas. O nosso entusiasmo é, pois claro, indirectamente proporcional. Se sao dias de férias, porque é que eu os iria querer passar de língua de fora, a transpirar que nem um porco, a incomodar músculos que há muito que deixei de ter?! Nos meus sonhos, idealizei estes dias acordando de manha por volta das dez, tomando o pequeno-almoco na varanda do nosso quarto, com uma vista suprema. Depois via-me esticada numa toalha de pic-nic no meio do prado, a ler e a apanhar sol. Ao meu lado, o Bola preparava o nosso pic-nic, barrando fatias de pao com manteiga. Num destes sonhos, ele espremia sumo dumas laranjas, com o espremedor manual que tinha levado para o efeito, mas pronto, nao precisamos chegar a tanto. Num dos dias faríamos um passeio de barco pelo lago e noutro iríamos ver o gado a pastar. Será que era pedir muito? Para que as caminhadas? Eu até gosto de andar a pé, mas a direito, nao , a ideia de subir uma montanha nao me apraz. Por isso, procura-se menina simpática e com interesse pelo desporto para me substituir em todas estas ideias que o Bola tem, nas quais o meu corpo se recusa a acompanhá-lo. Com interesse pelo desporto, mas assim pro gorda e feia, se possível.
segunda-feira, maio 12, 2008
Nao tenho pedal pra eles.
Ora mais um fim-de-semana com a família do Bola, que é aliás também a minha. O avo do Bola festejou os seus 85 anos e foi uma grande festa. Aqui no País das Salsichas - sim, com letra maiúscula - é comum, quando se festejam idades redondas e se mora na mesma aldeia onde se nasceu e se é conhecido por todos, toda a gente ir a casa da pessoa dar os parabéns. E assim foi, foram os amigos dele, o padre, o coro e a banda. Eu entretive-me a maior parte do tempo a fazer sandes em tempo record e a observar quantos litros os velhotes amigos do avo conseguiam mandar abaixo num espaco de dez minutos, sem se perderem na conversa que estavam a ter. Claro que sempre pronta, caso fosse preciso, a agarrar num velhinho e prestar primeiros-socorros, pois quando a média dos convidados passa dos oitenta anos há que tomar precaucoes, a gente nunca sabe. No dia seguinte, quando estávamos em família a plantar uma árvore no jardim, até me saiu uma piada fantástica da qual nem todos se riram (timidez) que foi mais ou menos uma referencia às fotos que alguém estaria a tirar com alguns de nós de pá e enxada na mao. Mais tarde, quando ja ninguem se lembrasse do que estaríamos a fazer na foto, se podia sugerir que estávamos a enterrar alguns dos convidados que nao sobreviveram. O humor negro nem sempre é mal motivado.
A alegria de ontem foi quando depois de mais um dia sem fazer nenhum, chegados a casa, o Pai e Avo do Bola encontram no meio das prendas de aniversário uma garrafa de Schnapps de cereja de 1990. Posso jurar que o Bola até ficou com os olhos em água de tanta emocao. Ninguem conseguiu explicar de onde a garrafa tinha vindo, mas menos misterioso seria explicar para onde a garrafa foi.
Pela primeira vez, admiti perante os alemaes todos la em casa que nao tenho o estofo deles para a bebida, que eles bebem até cair pro lado, sendo que nunca caem e eu sou uma menina do coro, que até tusso ao segundo gole de cerveja. Nao tenho pedal pra eles. Desisto.
A alegria de ontem foi quando depois de mais um dia sem fazer nenhum, chegados a casa, o Pai e Avo do Bola encontram no meio das prendas de aniversário uma garrafa de Schnapps de cereja de 1990. Posso jurar que o Bola até ficou com os olhos em água de tanta emocao. Ninguem conseguiu explicar de onde a garrafa tinha vindo, mas menos misterioso seria explicar para onde a garrafa foi.
Pela primeira vez, admiti perante os alemaes todos la em casa que nao tenho o estofo deles para a bebida, que eles bebem até cair pro lado, sendo que nunca caem e eu sou uma menina do coro, que até tusso ao segundo gole de cerveja. Nao tenho pedal pra eles. Desisto.
quarta-feira, maio 07, 2008
saia mais um chorizo por favor
ePorque há mais umas músicas de Verao do que outras, aqui fica mais uma. Esta combina melhor se tiverem um carro velhinho, onde o botao do ar condicionado é a alavanca de abrir a janela. A minha prima mandou-me um chourico pela minha tia simplesmente M A R A V I L H O S O !!! Estive a cortá-lo aos bocados para a congelar e o cheiro entranhou-se-me nas maos que isto nem levando sai, e ainda bem, porque é um cheiro divinal. Se houvesse esta fragrancia Chourico em frasco, confesso que comprava um vaporizador.
Bom, adiante para outros temas. Estive a ver na televisao imagens e entrevistas deprimentes com alguns estudantes da Queima das Fitas no Porto. Deixem-me que vos diga, a Queima das Fitas é em Coimbra e ponto final. No Porto, é uma imitacao barata, nao tem tradicao. A própria cidade do Porto é grande demais para ter um ambiente próprio de Queima das Fitas. O mais engracado foi que desta vez ver na televisao nao me deixou triste. Já nao me disse nada. É uma fase mesmo que ficou para trás. A Queima só tem mesmo graca quando ainda se é estudante. Quando ainda se está à espera do desemprego, portanto.
Bom, adiante para outros temas. Estive a ver na televisao imagens e entrevistas deprimentes com alguns estudantes da Queima das Fitas no Porto. Deixem-me que vos diga, a Queima das Fitas é em Coimbra e ponto final. No Porto, é uma imitacao barata, nao tem tradicao. A própria cidade do Porto é grande demais para ter um ambiente próprio de Queima das Fitas. O mais engracado foi que desta vez ver na televisao nao me deixou triste. Já nao me disse nada. É uma fase mesmo que ficou para trás. A Queima só tem mesmo graca quando ainda se é estudante. Quando ainda se está à espera do desemprego, portanto.
cinco minutos de fama
A tentacao para postar durante o trabalho tem sido muita, mas nao posso ceder. É a desvantagem de trabalhar no departamento da América Latina.
O fim-de-semana foi sempre em movimento, pois em 48 horas era preciso mostrar às nossas visitas todos os locais bonitos em Bayern, contando com aquele em que eu moro. Os dias foram bonitos, mas só hoje é que as temperaturas atingiram aquilo que eu considero ser mesmo quente, ali à volta dos 25 graus. Cheguei a casa há coisa de meia hora, e só depois de estar como vim ao mundo na banheira, de bóia e patinho amarelo, é que me apercebo que a água havia sido cortada. Estou portanto privada de água, do Bola e de comida. Irei sobreviver? Tambem nos privaram do aquecimento desde sábado, mas algo me diz que foi automaticamente, pois este país é frio, mas nao se espera que em Maio os radiadores estejam ligados. Até pelo aquecimento global e tal.
Até ao fim-de-semana em que mudamos de casa, temos - eu e o Bola - os fins de semana todos ocupados, algo que me deixa um pouco inquieta, pois saber que nao tenho um sábado e um domingo para nao fazer nenhum ao longo de várias semanas, é algo perturbador. Amanha vamos para casa do avo dele, que vai festejar 85 anos. E como nunca estive em nenhuma festa - no verdadeiro sentido da palavra - em que o menino dos anos celebrasse tao madura idade, estou expectante. Acima de tudo, porque as média das idades dos convidados ronda exactamente a idade que ele vai fazer. Algo me diz que vai ser um fim-de-semana recheado de histórias da Segunda Guerra Mundial. E de Pai-Natais.
É com muita pena que vou ter de recusar a oportunidade de aparecer n'As tardes da Júlia, na Tvi. Uma simpática jornalista deixou um comentário num post meu de 2007, no qual eu dizia que detestava o meu trabalho - temática do programa da próxima semana, no dia 12, para ser mais precisa. Vai daí, deixou-me um comentárioa modos que a aliciar-me para ir ao programa contar a minha história, esta triste história que uns de voces saberao melhor que outros. Portanto, como eu sou amiga e este blog tambem foi pensado para divulgar, aprender e partilhar, se alguem quiser cinco minutos de fama ao lado da Julia Pinheiro e tiver a certeza que consegue suportar a voz dela, procurem um post meu de Marco de 2007 com o título 'reciclando'. O contacto está aí. No dia 12 prometo seguir atentamente. Mandem um beijinho que eu apanho.
O fim-de-semana foi sempre em movimento, pois em 48 horas era preciso mostrar às nossas visitas todos os locais bonitos em Bayern, contando com aquele em que eu moro. Os dias foram bonitos, mas só hoje é que as temperaturas atingiram aquilo que eu considero ser mesmo quente, ali à volta dos 25 graus. Cheguei a casa há coisa de meia hora, e só depois de estar como vim ao mundo na banheira, de bóia e patinho amarelo, é que me apercebo que a água havia sido cortada. Estou portanto privada de água, do Bola e de comida. Irei sobreviver? Tambem nos privaram do aquecimento desde sábado, mas algo me diz que foi automaticamente, pois este país é frio, mas nao se espera que em Maio os radiadores estejam ligados. Até pelo aquecimento global e tal.
Até ao fim-de-semana em que mudamos de casa, temos - eu e o Bola - os fins de semana todos ocupados, algo que me deixa um pouco inquieta, pois saber que nao tenho um sábado e um domingo para nao fazer nenhum ao longo de várias semanas, é algo perturbador. Amanha vamos para casa do avo dele, que vai festejar 85 anos. E como nunca estive em nenhuma festa - no verdadeiro sentido da palavra - em que o menino dos anos celebrasse tao madura idade, estou expectante. Acima de tudo, porque as média das idades dos convidados ronda exactamente a idade que ele vai fazer. Algo me diz que vai ser um fim-de-semana recheado de histórias da Segunda Guerra Mundial. E de Pai-Natais.
É com muita pena que vou ter de recusar a oportunidade de aparecer n'As tardes da Júlia, na Tvi. Uma simpática jornalista deixou um comentário num post meu de 2007, no qual eu dizia que detestava o meu trabalho - temática do programa da próxima semana, no dia 12, para ser mais precisa. Vai daí, deixou-me um comentárioa modos que a aliciar-me para ir ao programa contar a minha história, esta triste história que uns de voces saberao melhor que outros. Portanto, como eu sou amiga e este blog tambem foi pensado para divulgar, aprender e partilhar, se alguem quiser cinco minutos de fama ao lado da Julia Pinheiro e tiver a certeza que consegue suportar a voz dela, procurem um post meu de Marco de 2007 com o título 'reciclando'. O contacto está aí. No dia 12 prometo seguir atentamente. Mandem um beijinho que eu apanho.
quinta-feira, maio 01, 2008
a velocidade dos dias
Ter visitas empurra-me para algo que normalmente vou adiando e adiando e nao faco. Até porque chove. Limpar janelas. Detesto. Vou repetir às minhas visitas dez vezes ao dia que só limpei as janelas (sete no total, sendo que tres sao de dois metros e meio de altura) por causa deles. Nao se faz.
Hoje a minha irma mais nova faz dezoito anos. Algo que me faz sentir um pouco velha, nao deixando de rir um bocado com a lembranca do dia em que o meu Pai me disse a mim e aos meus irmaos que iamos todos ter um bebé. Nós os tres estávamos a jogar ao monopólio infantil - que era bem fixe - , era um daqueles jogos que uma crianca dos dias de hoje nao sabe o que é, pois tinha tabuleiro, pinos e dados. O meu Pai tinha acabado de chegar com a minha Mae e assim, sem qualquer preparacao, diz-nos que a minha Mae estava grávida, com a mesma naturalidade com que se comenta que o carteiro acabou de tocar à campaínha. Afinal as histórias da cegonha teem que objectivo? Na inocencia dos meus nove anos, desato numa choradeira e a minha primeira questao foi se a minha mae iria sobreviver à operacao. O resultado da operacao tem hoje em dia músculo em sítios nos quais eu só tenho tecido flácido, já mora fora de casa há vários meses e joga voleibol no estrangeiro, a representar Portugal.
Murtinha, como tu cresceste! Que saudades tenho das vezes que te fechas(vas?) na casa de banho para chorar baba e ranho por o mundo nao funcionar como tu gostarias. Que os teus 18 sejam tao felizes como os meus foram.
Hoje a minha irma mais nova faz dezoito anos. Algo que me faz sentir um pouco velha, nao deixando de rir um bocado com a lembranca do dia em que o meu Pai me disse a mim e aos meus irmaos que iamos todos ter um bebé. Nós os tres estávamos a jogar ao monopólio infantil - que era bem fixe - , era um daqueles jogos que uma crianca dos dias de hoje nao sabe o que é, pois tinha tabuleiro, pinos e dados. O meu Pai tinha acabado de chegar com a minha Mae e assim, sem qualquer preparacao, diz-nos que a minha Mae estava grávida, com a mesma naturalidade com que se comenta que o carteiro acabou de tocar à campaínha. Afinal as histórias da cegonha teem que objectivo? Na inocencia dos meus nove anos, desato numa choradeira e a minha primeira questao foi se a minha mae iria sobreviver à operacao. O resultado da operacao tem hoje em dia músculo em sítios nos quais eu só tenho tecido flácido, já mora fora de casa há vários meses e joga voleibol no estrangeiro, a representar Portugal.
Murtinha, como tu cresceste! Que saudades tenho das vezes que te fechas(vas?) na casa de banho para chorar baba e ranho por o mundo nao funcionar como tu gostarias. Que os teus 18 sejam tao felizes como os meus foram.
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