Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Para a minha prenda de Natal, nao precisas de usar roupa interior por baixo da saia

Queria agradecer à menina simpática com o seu cao salsicha, que esta manha me empurrou o carro para eu conseguir subir a rampa da garagem. É nestas alturas que fico feliz, nao por ter o meu problema resolvido, mas por gostar de ver que ainda há muitas pessoas que ajudam assim as outras, sem esperar nada de volta, num dia feio com neve e vento por todos os lados. E ainda bem que pessoas dessas trazem o cao a passear pelo bairro às oito e meia da manha. Ela podia bem ter seguido caminho, estava tao mau tempo, neve a esvoacar em todas as direccoes, o cao salsicha até a puxava para ela se ir embora. E eu ali agarrada ao travao de mao, numa rampa cheia de gelo e sem gravilha. Uma pessoa que ajuda assim outra a estas horas da manha sem esperar nada em troca, é alguem que eu respeito e de quem queria ser amiga.
Quando um dia comeca assim, com o carro a derrapar por tudo quanto é lado, a gente já sabe que o resto do dia nao vai ser muito melhor. E apercebi-me disso quando ainda antes de entrar no escritório, o meu colega Roberto me pergunta, enquanto se apressa para sair com dois casacos, tres cachecóis e óculos de mergulho:- Queres salsichas das brancas ou das outras? Sempre que me perguntam isso, sei logo infelizmente o que me espera. É porque estao a planear um get-together com o típico Bayrisches Frühstück, que consiste em duas salsichas, uma cerveja, mostarda doce e uma pretzel. E é comida que nao tem graca nenhuma. Mas os alemaes pelam-se por comer esta porcaria e ainda mais adoram quando comem uns com os outros. Ainda nem tinha tomado o pequeno-almoco e a antivisao da salsicha deu-me logo vómitos por antecipado. O mais engracado foi que depois desse get-together, o vinho quente de Natal deixou-me tao alegre que passei a tarde toda na conversa e nao fiz nenhum. Mas foi um dia muito desgastante. Especialmente a parte em que obriguei o Bolinha a descobrir a prenda de Natal dele - viagem à Escócia em Marco - fazendo primeiro umas palavras cruzadas inventadas por mim, cuja solucao era a palavra Edimburgo.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

os meus Velhos, os Velhos de todos nós

Hoje, a meio do trabalho, assim vinda do nada, ela apareceu de novo. Apanha-me sempre desprevenida, vinda do nada, quando eu menos espero. Nao sei de que forma nem porque o meu inconsciente me prega estas partidas, mas acontece-me com alguma frequência, estar numa reuniao, em frente ao computador ou estar a almocar na cantina. A minha cabeca, em poucos segundos, viaja numa cápsula do tempo e que me transporta para fases da minha vida - normalmente da minha infancia - em que eu era verdadeiramente feliz e nao sabia. Não é que hoje não o seja, porque sou, mas tenho responsabilidades, não vivo sem consequências. Sou mesmo muito feliz e até me acho uma pessoa abencoada, que vive numa grande bola de sabão. Deito-me, muito frequentemente, grata pela felicidade que me enche os dias. Mas tenho saudades das pessoas velhas que existiam enquanto eu crescia e que me fazem tanta falta agora que sou uma adulta. Penso nos problemas que os meus velhos tinham e que eu enquanto os tive em meu redor, nunca pude verdadeiramente compreender. Por ser uma criança. Há dias assim, em que estou mais sensível, e enquanto estou encostada preguicosamente na minha cadeira no trabalho e observo, no relógio do pc, a passagem do minuto das 16:41- em que a luz do dia se transforma em escuro - e, assim saído do nada, consigo vislumbrar tão vivamente o sorriso incrível do meu Avô. E os meus olhos enchem-se-me de lágrimas. Por isso, volto-me a sentar direita, comento com a minha colega Já reparaste que hoje anoiteceu ainda mais cedo do que ontem, e depois de ela assentir, continuo a trabalhar. Tenho saudades dos meus velhos. Do cheiro da casa deles, acima de tudo, do sorriso terno. Quando a saudade me apanha desprevenida e me coloca a cara deles no reflexo da janela, eles estao sempre a sorrir. Que Deus nunca permita que eu me esqueca destas imagens. A vida sem amor nao vale nada. E precisamos dele em todas as formas.