Nós, povos latinos, precisamos de paixao para sobreviver. Precisamos de algo que nos faca ferver o sangue, que nos acelere o ritmo do coracao, que nos faca falar alto e atirar com os punhos para o tampo da mesa. Tempo de antena. Discussao. Há uns anos, era a Tieta do Agreste
(e aquela irma dela que guardava uma pila numa caixa de cartao debaixo da cama?) e as criancinhas a verem aquilo em horário em nobre. Ou seria o filme
Império dos Sentidos, cujo acesso todos os pais deviam, a todo o gosto, barrar aos seus filhos nao fossem ficar uns
perbertidos quando chegassem ao liceu. Uma ou duas vezes por ano.
Ai o meu Emanuel a ver aquela que anda ali sem cuecas e de cócoras a limpar o pó. Ai este filme, porque é que poem estas coisas com os miúdos ainda a fazerem os deveres... era tudo tao melhor antes da televisao, ó se era.Recentemente tivemos a Gripe das aves, antes disso o escandalo da casa Pia,
ai o Carlos Cruz, aquele senhor respeitável, parece que ainda o estou a ver no 123 diga la outra vez ao lado da bota Botilda; no Verao temos os fogos e tal. Há uns meses foi o Dino dos Morangos com Acucar (
marca registada) que se enfaixou contra uma arvore. Há uns anos foi a ponte de Entre-os-rios que caiu. Há outros tantos anos foi o caso Pedro Caldeira, aquele guloso. Há outros foi o caso Camarate (sempre actual). Há muitos séculos foi o rei D. Sebastiao que desapareceu por esse nevoeiro fora e nunca mais se viu. Na altura, nao havia Tvi pra cobrir o acontecimento, o que é pena, pois isto com um inquérito de rua resolvia-se depressa.
Há acontecimentos que no contexto de um povo latino como nós, sao verdadeiras minas. Ou fontes inesgotáveis de opinioes, temas, ideias, sugestoes, you name it.
Agora é o Aborto. Podia ser e vai ser (brevemente) outra coisa qualquer. Vamos esperar. Porque nao outra vaga de corridas às farmacias a comprar Tamiflu? (ou vacina da gripe) Ainda ha uns dias em Inglaterra se registou um surto de que tanto se fala agora. Nao queremos mudar? Em vez de aborto, voltamos à Gripe das Aves, tipo
Será que Portugal está preparado? Haverá vacinas para todos?Tudo isto para dizer que no fundo, todos queremos opinar, todos queremos levar o assunto à exaustao para um dia depois do referendo, ja ninguem falar mais nele. No fundo, pensamos todos da mesma maneira. Durante os restantes dias do ano, usamos a palavra aborto, mas como adjectivo. E nao este fenómeno. Nao conseguimos por o que pensamos na resposta à pergunta feita, pergunta essa que é tudo menos transparente, e tentamos procurar a nossa tendencia que na maioria dos casos, vai claramente dar em
nim. O que nós gostamos mesmo é da paixao, do calor da discussao. Do tentar convencer o outro, porque nós, povos latinos, temos uma mini ally mcbeal em todos nós, quem diz ally mcbeal diz um daqueles advogados dos filmes americanos tipo law & order, que faz sempre um brilharete quando deixa os jurados de boca aberta.
Esta necessidade de ter permanentemente um assunto que nos ponha em brasa, é típica de nós, povos latinos. Em caso da nao existencia dum tema controverso (muito difícil, quanto mais nao seja por uma senhora de 60 anos que descobriu um pepino de tres metros na sua horta e todos vamos dar a nossa opiniao), viramo-nos para o futebol ou prás novelas. No UK até ha uns dias atrás, andava tudo doido com o Big Brother,
é Racismo é Racismo, chamem o Parlamento! mas lá está, temática salva pela Gripe das Aves! Uma salva de palmas para as Aves.
Seleccione por favor com cruzinha, o tema que mais faz vibrar o seu coracao:
a. Aborto
b. A novela Paginas da vida/tematica das freiras
c. Gripe das Aves
d. os incendios no Verao
e. a costa portuguesa pode desaparecer em 124 anos
Obrigada! Porque a sua opiniao conta!
Eu adoro, adoro, adoro opinar e adoro ler os contra-ataques daqueles que defendem ideologias diferentes. É viciante. E acima de tudo, um fenómeno natural. Adoro ser latina!