Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Vende-se

bilhete para o jogo FC Bayern X Sporting, na Allianz Arena em Munique, dia 10 de Marco.
Depois dos cinco golos a zero do FCB o que é que eu vou fazer ao estádio no dia 10? Ficar rouca e rapar frio?

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

integracao

Confesso que uma vez por ano, dá-me uma vontade incontrolável de comer isto e aí ninguem me pára.
Seis salsichas acompanhadas de Sauerkraut, com mostarda. Garanto que sabe melhor do que aparenta.

nao irritem um brasileiro

Minhoca: Pois é, Maricleide, em Maio vou a Amsterdão , já te tinha dito?
M: Amsterdãoooo ?? Ai minina, voce só me faz dar risada! Amsterdão soa muito engracado. Isso só podia vir mesmo de um portugues... é Amsterdã que se fala!
Minhoca: Ah, mas antes disso ainda vou a Milã, cheguei-te a contar?
M: Mil
ã é Milão?
Minhoca: Não sei!! Diz-me tu. Queres um bocado do meu pã? Que horas sã? Entã?

A minha amiga Maricleide é um doce. Ela nao se chama Maricleide, eu apenas achei que para o post ter mais originalidade, devia ser com um nome mesmo brasileiro. Ou era esse ou Greice. Ou Wanderley. Estao no meu top 5. E com isto, arrisco-me a mais uns comentários de ódio de leitores brasileiros.

A Maricleide é a minha grande amiga no país das Salsichas. Daquelas amigas com quem rir, que nunca ficam chateadas, com quem dá vontade de estar. Quando eu quero irritar a Maricleide, comeco a falar muito rápido, a carregar nos 'ches', até que ela diz 'oi?' e eu respondo 'Oi, tudo bem?'. Em dias bons, isro repete-se umas vinte vezes.
Se a Maricleide fosse alema, nunca mais me falava.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

mail ao departamento, fresquinho

Queridos Colegas,

Ao longo de várias semanas, tenho vindo a reparar que alguns de voces (ou algum, pois um cacho inteiro pode pertencer a uma pessoa só - com alguma falta de magnésio) deixam as vossas bananas dias a fio no frigorífico. Ao fim de duas semanas estranhei; ao fim de tres contemplei esquecimento; a partir das cinco semanas passei a acreditar tratar-se de uma experiencia. Tipo o pé de feijao, que todos tivemos de acarinhar na segunda-classe, antes de nos prepararmos para treinar mais meia hora a perninha do B maiúsculo, em cadernos de duas linhas.
Por essa razao, ocorreu-me, num acto de solidariedade, escrever este email a relatar que eu própria também já fiz traquinices destas em casa, e muitas foram as bananas que sem o ser de origem (cof cof) acabaram por ser tornar pretas. Dias, semanas, meses. E a verdade é triste: de dentro da casca mole e malcheiroso nunca sai nada susceptível de emitir sons, com vida, portanto. Apenas matéria bananosa morta.
E eu nao gosto de estragar os sonhos de ninguém, muito menos quando estes se comprometem a ciencia, mas achei que talvez voces pudessem deixar as vossas bananas apodrecer em paz, longe das duas maiores prateleiras do nosso comum frigorífico. Ah, e metam a vossa loica na máquina. A vossa Mae nao trabalha aqui, pois nao?

Um grande abraco aqui do lado A vossa Minhoca

************** este email foi patrocinado pela Chiquita*********************

me truly madly deeply loves germans

Isto de encontrar alojamento em Amsterdão (ou já dizemos também Amsterdã?) nao está fácil. O meu limite dos 75€ por quarto já foi há muito esquecido. Por esse preco, só dava para dormir na rua, com direito a um jornal e um chá quente para me aquecer. Sem charrinho incluído.
Milão é mais fácil, é assim mais pró baratinho. Deve ser para a malta depois ter mais de sobra para gastar nos óculos de sol e nas Balenciagas.
Entretanto, vivi ontem um momento de grande polimento ao meu ego. Os meus alunos fizeram um discurso lindo de levar qualquer minhoca à beira-lágrima. Que gostam muito de mim, que sentiram que comigo aprenderam muito, gostam do meu estilo*, que teem muita pena que eu nao possa continuar a leccionar o nível deles e que é uma pena, mas que eu telefone, mande mail ou o pombo-correio, que faca até fumo mas que os avise quando eles poderem voltar a correr para os meus bracos. E um grande abraco me deram, e uma garrafa de champanhe para eu me embebedar um dia destes sozinha ao frio, lá fora, com este tempo de se me fazer enregelar o rabo. Para rematar tao belo momento, ofereceram-me algo que eu acho que sem fotografia nao vou conseguir descrever. Uma mini-lápide, portanto. Uma placa em vidro com uma frase bonita, com uma rosa gravada do lado. Em baixo duas velinhas coladas. A minha cara de tacho ao ver a prenda mais kitsch do mundo foi do mais falso que desta boca já saiu. E depois, os meus nervos em estar desperada por gritar aos risos histéricos ena pa, a minha lápide em maquete, quando eu ainda nao morri. Obrigada!
Acreditem. Custou a valer. Cheguei a casa e nem conseguia falar. Eles foram tao queridos e eu sem conseguir ver a beleza da prenda deles. Uma lágrima pediu para sair, nao de alegria, nao de tristeza, mas de histeria. Eu estava a viver um momento hilariante, mas tinha de me manter controlada. Tipo em funerais nao nos podermos rir.
Daqui a dois dias temos foto no blog, que isto assim escrito apenas, nao chega. Entretanto, o mote do blog continua. O meu amor pelos alemaes, porque eles sao queridos para mim.

* po-los a cantar o If I were a boy da Beyoncé para aprenderem as If-clauses, foi de mestre.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

e as férias

Depois de planear umas escapadelas curtas, patrocinadas pela generosidade mentirosa da Lufthansa no dia dos namorados, estou à caca de hotel simpático, em Milãao e Amsterdão*, até 75€ por quarto duplo. Alguém tem sugestoes? Nao estou interessada em hosteis povoados de gente com metade da minha idade que partilham o seu ar, puns e roncos numa camarata com 30 camas.

* só podiam ser destinos terminados em 'ão'.

sexta-feira 13

A neve voltou em forca, depois de nos ter dado uns largos dias de tréguas. E sai a Minhoca feliz e contente na sexta-feira para o trabalho, tentando fintar os semáforos, sem se lembrar que conduzir num solo com neve e gelo implica esquecer usar tanto os travoes, mesmo a 30km/h. E vai daí, naquela de fintar o semáforo, meto por atalho que coincide com a entrada dum mcdonalds, mas cujo chao esta literalmente escondido de gelo. E pronto. Ao fazer a curva, carro foge e antes que Minhoca pudesse abrir o vidro e gritar aos quatro ventos, ALGUEM QUE ME AJUDE QUE ESTOU A TER UM ACIDENTE, o acidente já tinha acontecido. A roda e a jante um pouco destruídas e o coracao a bater desalmadamente. Deixo o carro deslizar e saio, hesitante, para ver o resultado da minha azelhice. Grito algumas asneiradas em portugues, dou vários saltos no chao de fúria e mando um chuto no muro onde o carro acabou por bater. Depois apanho um táxi para ir ao encontro do Bola, para lhe arrancar o carro dele das maos. E a palavra arrancar foi mesmo a palavra verificada. A lógica do Bola é deste cabo to teu carro, agora vais esborrachar o meu.
Se fosse agora, talvez me tivesse sentado no Mcdonalds a tomar um café e a comer um cheeseburger primeiro. Mesmo antes das nove da manha. Humpf.

quem me manda um queijo?

Acabou-se a comida conforto, que é como dizer que acabou o queijo portugues. Cinco semanas (só?) após o meu regresso. Chuif. Ontem abocanhei com carinho pela última vez o ultimo mimo que preparei com Roggenbrot (pao de centeio), marmelada e queijo. Saboreei cada dentada. No final, o Bola viu-me tao triste, que me perguntou naquele tom bruto e à homem O QUÉ Q' S'PASSA. Ao que eu respondi, muito emocionada, Posso escolher agora o segundo nome do nosso filho que algum dia podemos vir a ter?
O Bola disse que sim, eu disse-lhe com o melhor sorriso de domingo: LIMIANO!!!!! Ou preferes
Rabaçal?

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Your bubblegum tongue

Há quinze anos atrás, tinha eu mais ou menos metade da idade que tenho hoje. Menos um, portanto. Saí de manha para a escola, provavelmente atrasada. Encontrei-o à minha espera no local habitual, onde me esperava regularmente desde há poucas semanas, com uma mochila com um tamanho desapropriado à idade. Eu nao usava mochila, porque no oitavo ano, eu era cool e andava com os livros na mao.
Mas hoje era diferente. Hoje ele aguardava que eu lhe respondesse a uma pergunta que me havia colocado no início da semana. Chegámos ao ponto divergente da rua, em que cada um segue rumo à sua escola. Eu para a minha, ele para a dele. E foi um daqueles momentos, no qual eu na altura já sabia que volvidos 15 anos por exemplo, eu nao me iria lembrar de muita coisa. Apenas do facto de ele continuar a falar comigo, mas eu estar perdida nos meus pensamentos, nao o ouvia, só via o sorriso dele e a boca a mexer-se, a adivinhar o momento que se seguia.Mal eu sabia que o chao estava prestes a desaparecer por debaixo das minhas Allstar vermelhas. Eu disse agora mesmo que sim, que gostava de ser namorada dele, ele agora vai-me querer dar um beijo, que nojo, porque, para que lado eu tenho mesmo de me virar, na catequese nao me ensinaram isto, eu devia ler a Bravo mais vezes, porque é que as minhas pernas nao páram de tremer, e fecho os meus olhos, claro que nao, tenho de ver se ele vai olhar para mim tambem.
Recordo que fechei os olhos e foi uma sensacao indescritível, eu devo ter levitado. Foi um belo primeiro beijo, dum rapaz por quem eu estava perdida de amor e que também parecia gostar de mim, que me fazia ficar com as palmas das maos escorregadias e sonhar com músicas parecidas com esta aqui*. Um braco em torno da minha cintura, o outro a segurar-me suavamente a nuca, com o polegar perto do lóbulo da minha orelha. Foi um beijo perfeito, suave, em nada endoscópico, com a duracao perfeita. Depois disso segui para a escola na minha charrete de nuvens cor-de-rosa aos lacinhos.

Acho que nao passou até hoje um 10 de Fevereiro no qual eu nao me lembrasse daquele beijo. E a verdade é que 15 anos depois, se me disserem que o Bola é parecido com ele, eu vou sempre dizer que nao, sabendo que é uma engracada coincidencia.
Nada substitui a candura do primeiro beijo. Nichts. A sério.

* adoro a parte do I'll use my hands e swim in a deep sea of blankets. Se me cantassem isto, eu ja nao estava aqui, garanto.

marmelada com queijo

Já havia vários factores que determinavam o meu triste destino todos os dias ao fim da tarde, em casa. Era o futebol, o sofá novo, o televisor novo. Enfim, o Bola tem tido o seu tao perfeitinho traseiro colado no sofá, estilo lapa. Entao, quando coloca ao seu alcance, comida, o telemóvel, a sua cerveja e o comando, aí o efeito lapa é desvastador. Ele nao sai dali. Um dia destes simulei um ataque epiléptico na cozinha e ele nao veio em meu socorro.
Mas quando a gente acha que a coisa nao pode piorar, é porque nao temos imaginacao suficiente, já assim diz o outro. E vai daí, depois de na semana passada, me ter mandado um mail assim:

- Nao achas um desperdício ter um Porsche e só poder andar com ele numa zona de 30km/h?

...Bolinha apareceu em casa , nao com um Porsche, mas sim com um leitor blu-ray debaixo do braco. Lá está, porque existe um documento por escrito, anexado à nossa papelada do cartório, que o proíbe de comprar uma playstation no seio deste casamento. Este email nao deixaria em nada adivinhar que tal situacao aconteceria, ou seja, a compra do leitor blu-ray. Além de que metáforas nao sao o forte do Bola. Nem metáforas nem outro tipo de recursos de estilo. Uma gaja costuma gostar duns eufemismos de vez em quando, da repeticao, da parábola e da elipse. Nada. Dali nao sai nada, só metáforas foleiras.
Portanto, companheiros, com o blu-ray player, ele comprou os dvds do PLANET EARTH da BBC, tambem blu-ray, que sao realmente maravilhosos, a imagem é um espanto e ele fica vidrado no televisor como se acreditasse por um momento que estivesse a nadar no meio dos peixinhos, a cacar com os crocodilos ou mesmo a rebolar neve abaixo com os ursos polares baby.
Eu é que me lixo. Como só consigo ver documentários ao fim de semana, faco o meu pao integral com marmelada e queijo (guloseima do momento) e venho-me aqui sentar a ler. A mensalidade da Tvcabo que vá pelo cano.

estilo que veio pra ficar

Os meus alunos curtem-me. Recebi um mail da coordenadora de cursos de línguas, a dar-me os parabens, por os meus alunos, tao fieis e preocupados por nao me poderem ter no próximo semestre, terem ligado para a escola na semana passada, a perguntar o que era preciso acontecer para que eles continuassem a ser meus alunos.
Realmente, há que dizer que tenho tido sorte com os grupos que me calham. Entendo-me muito bem com a malta toda, faco-os rir e eles já acham que sem mim nao podem mais viver. Mesmo tendo eu os meus ataques de riso incontroláveis de vez em quando, com a pronúncia deles.
O Bola tambem se tem portado bem. Nao tem comunicado comigo durante as manhas, pelo que posso depreender que ele assimilou cada palavra do meu discurso de tal forma, que quase fizemos história e transformámos isto num reflexo pavloviano.
Entretanto, esta semana está a ser difícil. A mesma colega parolona que nao sabe interpretar smileys, apareceu ontem com pestanas posticas. Ora, quando algo deste género acontece só num dia, a gente nao se pode precipitar. Estamos quase no Carnaval, quem sabe nao vai haver uma festa e ela decidiu vir mascarada de sevilhana malandra, ou algum dress code do qual ninguem me avisou? Mas hoje, terca-feira, tendo-me deparado com o equipamento dela digno de hipnose para quem a olha nos olhos, concluí que ela nao tem a nocao do ridículo. Mas o pior foi eu nao conseguir falar com ela sem pestanejar com forca. Entao, sempre que a dita cuja falava comigo, os meus olhos comecavam a pestanajar feitos doidos, assim com forca, como se eu fosse a Emília do Sítio do Picacau Amarelo. Foi superior a mim. Eu bem queria parar, mas nao consegui.Agora estou indecisa do que será mais piroso, se as pestanas ou os apliques de cabelo loiro. E acreditem, ainda a procissao vai no adro. Isto é a ponta dum grande e piroso iceberg. Tenho medo.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

not-a-morning person

- Bola, tenho de te dizer uma Coisa. (com C grande) Como já deves ter percebido, ao longo dos últimos cinco anos, eu nao sou uma pessoa muito feliz de manha cedo. Digo-te mais, porque imagino que ainda nao tenhas dado conta, quando me levanto, ainda nao abri os olhos, sou como um recém-nascido que se recusa a despedir do útero materno após o parto. Entao, dirijo-me para a casa-de-banho, de olhos fechados, faco xixi, lavo as maos, vou à cozinha tomar o meu Euthyrox e regresso para tomar banho, tudo de olhos fechados. Se tiver de abrir uma garrafa de água, ou seja, desenroscar a tampa, há dias em que nao consigo, pois de manha nunca tenho forca nem nas maos, nem nas pernas, nem em nada. Toda a minha forca está na cama. Tipo o Sansao e o cabelo antes de a Dalila lho ter cortado, sabes? Sinto-me doente por ter de acordar. Custa-me, pronto. Portanto, eu peco-te, ou melhor, eu ordeno-te que desistas de qualquer tentativa de comunicacao comigo durante essa fase difícil do meu dia. Isso significa que a partir de hoje, nao irás, jamais, enfiar a tua mao pelo meu edredon adentro em busca de calor humano. Nao vais falar comigo, vais ignorar que partilhamos a mesma cama. Vais-me deixar dormir até ao meu limite. Nao vais invadir o lado de dentro do meu pijama, nem mesmo se tiver caído qualquer coisa lá para dentro, moedas, lencos de papel ou migalhas do pao. Vais aceitar se eu comecar aos gritos e a insultar-te e nao irás questionar nada, muito menos o porque de eu nao cumprir as minhas obrigacoes matrimoniais. Porque de manha eu sou um vegetal, quero continuar a se-lo e nao havera sentimentos de culpa a pairar no ar. Porque a esta hora matutina, a única coisa forte suficiente para pairar no ar sao gases.
Podes ir em paz. Amen.

Hoje foi o dia. Já vinha a ameacar há várias semanas, para nao dizer meses.
Sem abrir os olhos e deitada de barriga para cima, às sete da manha, sai-me o seguinte belo e muito aplaudido (por mim mesma) discurso. Destes, nao faz o Obama (discursos, entenda-se... cof cof)