Há quinze anos atrás, tinha eu mais ou menos metade da idade que tenho hoje. Menos um, portanto. Saí de manha para a escola, provavelmente atrasada. Encontrei-o à minha espera no local habitual, onde me esperava regularmente desde há poucas semanas, com uma mochila com um tamanho desapropriado à idade. Eu nao usava mochila, porque no oitavo ano, eu era cool e andava com os livros na mao.
Mas hoje era diferente. Hoje ele aguardava que eu lhe respondesse a uma pergunta que me havia colocado no início da semana. Chegámos ao ponto divergente da rua, em que cada um segue rumo à sua escola. Eu para a minha, ele para a dele. E foi um daqueles momentos, no qual eu na altura já sabia que volvidos 15 anos por exemplo, eu nao me iria lembrar de muita coisa. Apenas do facto de ele continuar a falar comigo, mas eu estar perdida nos meus pensamentos, nao o ouvia, só via o sorriso dele e a boca a mexer-se, a adivinhar o momento que se seguia.Mal eu sabia que o chao estava prestes a desaparecer por debaixo das minhas Allstar vermelhas. Eu disse agora mesmo que sim, que gostava de ser namorada dele, ele agora vai-me querer dar um beijo, que nojo, porque, para que lado eu tenho mesmo de me virar, na catequese nao me ensinaram isto, eu devia ler a Bravo mais vezes, porque é que as minhas pernas nao páram de tremer, e fecho os meus olhos, claro que nao, tenho de ver se ele vai olhar para mim tambem.
Recordo que fechei os olhos e foi uma sensacao indescritível, eu devo ter levitado. Foi um belo primeiro beijo, dum rapaz por quem eu estava perdida de amor e que também parecia gostar de mim, que me fazia ficar com as palmas das maos escorregadias e sonhar com músicas parecidas com esta aqui*. Um braco em torno da minha cintura, o outro a segurar-me suavamente a nuca, com o polegar perto do lóbulo da minha orelha. Foi um beijo perfeito, suave, em nada endoscópico, com a duracao perfeita. Depois disso segui para a escola na minha charrete de nuvens cor-de-rosa aos lacinhos.
Acho que nao passou até hoje um 10 de Fevereiro no qual eu nao me lembrasse daquele beijo. E a verdade é que 15 anos depois, se me disserem que o Bola é parecido com ele, eu vou sempre dizer que nao, sabendo que é uma engracada coincidencia.
Nada substitui a candura do primeiro beijo. Nichts. A sério.
* adoro a parte do I'll use my hands e swim in a deep sea of blankets. Se me cantassem isto, eu ja nao estava aqui, garanto.
Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca
terça-feira, fevereiro 10, 2009
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2 comentários:
O meu primeiro beijo foi horrível e apeteceu-me dizer "yac".
O meu primeiro beijo, não foi na onda do 'biack', mas... pronto, foi muito à descoberta, muita inexperiência e imaturidade à mistura.
http://ideiassaltitantes.blogspot.com/2009/02/miminho-2.html
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