Ainda nao eram nove da manha e já estava eu, com o cabelo desgrenhado e de pijama do sapo Cocas, a carregar a máquina da roupa. O meu corpo ainda estava quente dos cobertores, e o meu hálito tinha nuances de rosas, como é costume. Depois, peguei nos tapetes todos e fui sacudi-los à janela, deixando-os ficar lá a arejar. Fiz um café e sentei-me no sofá a escolher os papéis, jornais, revistas que sao para deitar fora, pensando ao mesmo tempo se algum dia, eu adivinhava que me casaria com um gajo que às oito da manha de sábado comeca a dialogar comigo. Ainda sem filhos a quem mandar ir ver televisao e encher o bucho de Chocapic. O Bola nao sabe acordar sozinho ao sábado. Sem me comecar a perguntar coisas chatas que teem sempre a ver com coisas que temos de fazer. Ao longo do dia, daqui a uma semana, daqui a um mes. Eu bem tapo a cabeca com a almofada, mas ele continua em género monólogo, e li numa revista que o nosso cérebro nao consegue fugir àquela entoacao do ponto de interrogacao.
Eu portei-me mal na minha vida anterior. Eu sei que portei. Eu devia ser um ourico-cacheiro, (pois tinha de ser um animal que nao faz nenhum, inútil, que hiberna) e um dia, numa estrada secundária, coloquei-me estrategicamente de forma a que alguem parasse para me evacuar do perigo. Pronto, alguem parou e como foi logo após uma curva perigosa, essa pessoa levou com um camiao TIR nos cornos e bateu a bota. E por isso, agora, eu tenho esta vida. Um marido que me acorda às oito da manha de sábado, ao fim duma convivencia de oito anos, na qual lhe foi sempre dado a conhecer a minha necessidade e simpatia por nao abandonar o leito antes do meio-dia. Ele nao entende. Comeca-me a repetir os factos que nao sao factos, ou que nao teem importancia. Que interessa se eu ontem adormeci às nove? Já dormi 10 horas. Ok, e entao? Nao é fisiologicamente aceitável que eu passe das dez horas? Ele diz-me que eu dormi dez horas com uma cara de espanto que podia igualmente traduzir que eu comi dez frangos inteiros, vivos, com penas, e sem fazer uma pausa pelo meio.
Bom, vou-me fazer à estrada porque o Avo dele hoje faz 86 anos e nao podemos deixar passar a data sem nos emborracharmos todos em Schnapps com ele. Nao há nada que o faca mais feliz. Aliás, há. Que é falar da roupa interior das jovens que conheceu em Franca nos anos 30, mas esse assunto costuma deixar o Bola nervoso. É um castrador da felicidade alheia.
Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca
sábado, maio 09, 2009
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