Estamos na fila para entrar no aeroporto, cansados, sem dormir há várias horas. Temos que mostrar os passportes e as confirmacoes de reserva, só assim nos deixam entrar. Há vários indianos armados até aos dentes e do lado de fora do aeroporto o povo nao arreda pé, estao ali à porta sem eu perceber muito bem porque, é que realmente ninguem está a distruibir nada de borla. Assim sao os indianos, sabem simplesmente estar. Às minhas costas, arrasto o meu mochilao que felizmente nao tive de carregar muito tempo a fio, apenas transportando-o por breves minutos, do hotel para o carro, do carro para o aeroporto, etc. Mas estou cansada, fecho os olhos, enrolo-me no meu casaco para nao deixar que o nevoeiro se entranhe pelos meus ossos adentro e abraco a mochila mais pequena que trago à frente do corpo. E penso que há umas horas atrás tinha o sol de Kerala a bronzear-me o corpo e vários indianos a contemplar as suas/minhas curvas.
Quando abro os olhos, abro-os para uma indiana à minha frente, também ela enrolada no casaco dela, mas com os olhos a transbordar de água e o queixo trémulo. Nao deve ter mais de vinte anos, mas mesmo assim, nao ponho a mao no fogo pela idade de nenhum indiano, pois adivinhar-lhes a idade nao é muito fácil, especialmente a deles, que me enganam com os bigodes e brilhantina do cabelo. Ela olha para trás por cima do ombro, olhando quase através de mim, para trás de mim e da multidao atrás de nós, e quando os olhos dela páram de procurar e ela tenta sem sucesso esbocar um sorriso, vejo eu um rapazinho indiano também ele de olhos inundados. Ele levanta a mao, como a que dizer, está tudo bem, nao fiques assim, e ela desata aos solucos, limpando as lágrimas com as costas das maos. Quando entrega o passaporte para controlo, está toda desconcertada e aquele queixo já treme por todos os lados, sem qualquer espaco para o sorriso que ela queria tanto deixar na memória do coitado. Antes de ela passar para o lado de dentro do aeroporto, ele empurra o povao para os lados e vem-lhe dar mais um abraco, daqueles abracos que só os homens com agá grande sabem dar. Aliás, até eu lhe queria dar um abraco, de tao emocionante que a coisa estava. Queria envolver-me naquele abraco carregado de tanta emocao e tanta docura, mas a única coisa que continuei a abracar foi a minha mochila com cheiro a caril, nao há nada que me atraia mais do que emocoes fortes.
Sou uma piegas. Porque é que nao havia nenhum indiano de olhos negros ali para me dar um abraco e ali ficar longe, a dizer-me adeus, até eu desaparecer completamente sem que ele parásse de acenar?
Isto para dizer, que odeio as despedidas de aeroporto, mas tanto, que até me doem as despedidas dos outros.
Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca
segunda-feira, janeiro 25, 2010
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