A Índia deu-me muitas vezes vontade de rir e de chorar separadamente e às vezes em simultaneo. É um país para o qual temos de ir com a mente em estado de tábua rasa. Desistindo de procurar a lógica nas coisas. Nao acreditanto, porém, em tudo o que nos dizem. A maioria das coisas que nos acontecem e nos sao ditas lá, nao teem lógica mas ficamos muito mais felizes quando nao procuramos aquilo que acreditamos ser o seu sentido e validade.
Exemplos!A cerveja Kingfisher é servida em duas modalidades, uma em garrafa de vidro mais escuro, outra de mais claro. Porque, perguntamos nós. PORQUE É MAIS BONITO!! dizem eles. Servem a clara à noite e a mais escura durante o dia. Porque temos de procurar lógica em tudo, ha??
Queremos um bilhete para um comboio amanha à tarde. Nao ha bilhetes porque o comboio vai ser cancelado. Ai vai? Sim, por causa do nevoeiro. Claro que amanha o nevoeiro pode nem ser tao mau, mas é bom saber que com a ajuda do boletim meteorologico, já se podem tomar decisoes tao cedo. Nao lucramos todos com isso?
Quanto ao típico abanar da cabeca, ao fim de tres semanas, confesso que continuava e continuo sem saber o que significa. Tenho para mim que é um movimento que eles fazem para agitar os neurónios, para pensar. Energia cinética para acordar a massa pensante. Quando a há. E em outras situacoes estao-se a rir da nossa cara. Descaradamente e sem pudor.
A India foi para mim uma revelacao de um número infinito de cheiros que até agora nao haviam visitado as minhas narinas. Concluí uma vez mais que o incenso me perturba. Nao gosto. Descobri que sou muito menos nojentinha do que aquilo que eu achava. Sim, em muitas casas-de-banho tomei banho de chinelos, cumprindo com sucesso a missao de nao entrar em contacto com nenhuma superfície dentro da casa-de-banho. Uma vez, o Bola abriu ao porta quando eu me preparava para sair e perante a possibilidade de a porta me tocar, desatei aos gritos mas rapidamente recuperei a minha compostura. Nao examinei a inexistente limpeza das sanitas, fazia o que tinha a fazer sem olhar muito para superfícies que tivessem a ver com a minha higiene. E fui mais feliz assim. Recebi comida com pelos algumas vezes, mas nao me gregoriei. Comi de bandejas de fruta que me ofereceram nos templos. Nao dei pontapés nos testículos dos indianos que escarravam na direccao dos meus pés. Nao olhei com desdém para aqueles que nunca haviam travado encontro com o desodorizante. Cumprimentei gente que se encontrava em lazer, com uma mao num pé e a outra a escavacar o nariz. Dei um high-five ao motorista do riquexó uma vez, quando na verdade, ele levantou a mao para fazer sinal a alguem atras de mim, sem que eu percebesse. Comi com a mao. Fiz cocó de pé. Fiz cocó com o rabo a arder de malaguetas. Deixei de saber, nesta última situacao, se o meu rabo ainda estava colado ao corpo ou se as malaguetas o tinham feito descolar-se de mim, tal era o ardor. Toquei na pele rugosa dum elefante. Andei descalca em ruas cheias de lixo. Passeei no meio das vacas. Aprendi que um indiano nao se mede aos palmos, mas sim pela forca do seu arroto e da flexibilidade com que faz a ponte para as posicoes mais difíceis do Kamasutra.
E assim se passaram as minhas melhores férias até agora. Carregadas de muito romance e espírito de honeymoon.
Já contei que em Marco vou ao Quénia?
Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca
quarta-feira, janeiro 27, 2010
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3 comentários:
Interessante seu português e seus relatos sobre a India, já terei ideia de quando for lá o que encontrar. Boa viagem ao Quênia!
deve ter sido algo espectacular!!! Eu ja combinei com a minha mulher que após ir à india começamos a ter filhos, logo so la poderei ir daqui a alguns anos, mas quero algo assim parecido como tu foste
E mais fotos da India não tens?
Eu já estava com muita inveja tua mas, ainda por cima, vais ao Quénia. Não sei se mereces viver, Minhoca...
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