Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Para a minha prenda de Natal, nao precisas de usar roupa interior por baixo da saia

Queria agradecer à menina simpática com o seu cao salsicha, que esta manha me empurrou o carro para eu conseguir subir a rampa da garagem. É nestas alturas que fico feliz, nao por ter o meu problema resolvido, mas por gostar de ver que ainda há muitas pessoas que ajudam assim as outras, sem esperar nada de volta, num dia feio com neve e vento por todos os lados. E ainda bem que pessoas dessas trazem o cao a passear pelo bairro às oito e meia da manha. Ela podia bem ter seguido caminho, estava tao mau tempo, neve a esvoacar em todas as direccoes, o cao salsicha até a puxava para ela se ir embora. E eu ali agarrada ao travao de mao, numa rampa cheia de gelo e sem gravilha. Uma pessoa que ajuda assim outra a estas horas da manha sem esperar nada em troca, é alguem que eu respeito e de quem queria ser amiga.
Quando um dia comeca assim, com o carro a derrapar por tudo quanto é lado, a gente já sabe que o resto do dia nao vai ser muito melhor. E apercebi-me disso quando ainda antes de entrar no escritório, o meu colega Roberto me pergunta, enquanto se apressa para sair com dois casacos, tres cachecóis e óculos de mergulho:- Queres salsichas das brancas ou das outras? Sempre que me perguntam isso, sei logo infelizmente o que me espera. É porque estao a planear um get-together com o típico Bayrisches Frühstück, que consiste em duas salsichas, uma cerveja, mostarda doce e uma pretzel. E é comida que nao tem graca nenhuma. Mas os alemaes pelam-se por comer esta porcaria e ainda mais adoram quando comem uns com os outros. Ainda nem tinha tomado o pequeno-almoco e a antivisao da salsicha deu-me logo vómitos por antecipado. O mais engracado foi que depois desse get-together, o vinho quente de Natal deixou-me tao alegre que passei a tarde toda na conversa e nao fiz nenhum. Mas foi um dia muito desgastante. Especialmente a parte em que obriguei o Bolinha a descobrir a prenda de Natal dele - viagem à Escócia em Marco - fazendo primeiro umas palavras cruzadas inventadas por mim, cuja solucao era a palavra Edimburgo.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

os meus Velhos, os Velhos de todos nós

Hoje, a meio do trabalho, assim vinda do nada, ela apareceu de novo. Apanha-me sempre desprevenida, vinda do nada, quando eu menos espero. Nao sei de que forma nem porque o meu inconsciente me prega estas partidas, mas acontece-me com alguma frequência, estar numa reuniao, em frente ao computador ou estar a almocar na cantina. A minha cabeca, em poucos segundos, viaja numa cápsula do tempo e que me transporta para fases da minha vida - normalmente da minha infancia - em que eu era verdadeiramente feliz e nao sabia. Não é que hoje não o seja, porque sou, mas tenho responsabilidades, não vivo sem consequências. Sou mesmo muito feliz e até me acho uma pessoa abencoada, que vive numa grande bola de sabão. Deito-me, muito frequentemente, grata pela felicidade que me enche os dias. Mas tenho saudades das pessoas velhas que existiam enquanto eu crescia e que me fazem tanta falta agora que sou uma adulta. Penso nos problemas que os meus velhos tinham e que eu enquanto os tive em meu redor, nunca pude verdadeiramente compreender. Por ser uma criança. Há dias assim, em que estou mais sensível, e enquanto estou encostada preguicosamente na minha cadeira no trabalho e observo, no relógio do pc, a passagem do minuto das 16:41- em que a luz do dia se transforma em escuro - e, assim saído do nada, consigo vislumbrar tão vivamente o sorriso incrível do meu Avô. E os meus olhos enchem-se-me de lágrimas. Por isso, volto-me a sentar direita, comento com a minha colega Já reparaste que hoje anoiteceu ainda mais cedo do que ontem, e depois de ela assentir, continuo a trabalhar. Tenho saudades dos meus velhos. Do cheiro da casa deles, acima de tudo, do sorriso terno. Quando a saudade me apanha desprevenida e me coloca a cara deles no reflexo da janela, eles estao sempre a sorrir. Que Deus nunca permita que eu me esqueca destas imagens. A vida sem amor nao vale nada. E precisamos dele em todas as formas.

terça-feira, agosto 03, 2010

as criancas sao chatas

Hoje fiquei em casa, rodeada de rebucados para a tosse, lencos de papel e o meu próprio ranho, que há dois dias se me escorria pelas narinas, sem me dar tempo de agarrar no lenco para o capturar. Hoje, a situacao é mais viscosa. A garganta está toda desgracada, a minha voz mais viril, a ponto de quem nao me conhecer pensar que poderá estar a ouvir a voz de uma cinquentona que passa os seroes a fumar e a beber um bagaco depois do outro. Os meus olhos estao pequeninos e chorosos e estou com mau aspecto.
O problema com estes dias em que fico em casa é que tenho tendencia para a auto-comiseracao, é dizer, papo tudo o que é porcaria televisiva numa manha inteira, pois combina com o meu estado de espírito. E é aí que se levantam dilemas que eu já tinha vivido das últimas vezes que fiquei doente em casa. E estamos a falar de uma pessoa que fica no máximo dois dias por ano em casa, de baixa. Portanto, tenho muito tempo para me esquecer do teor desses programas que a nossa televisao portuguesa exibe da parte da manha, para as senhoras donas de casa acima dos 50 anos, cujo hobby número é bater palmas.
O que me apoquenta e o porque desta escrita tao cáustica? Quem é e onde está o talento desse verme televisivo, dessa parasita de sexualidade duvidosa, apelidada de Cláudio Ramos? Ainda no tema da sexualidade pouco esclarecida, o Manuel Luís Goucha e o Castelo Branco já se conheceram, terao ficado amigos? O 'Manel' veste-se à palhaco porque? O Malato terá estado a brincar com baloes e engoliu hélio, é que parece estar pronto a levitar? A Lili Canecas e a Cinha Jardim às custas das comissoes da cirurgia plástica? E porque a Cinha esta cheia de rugas e a Lili com cara de rabo de bebé? O cirurgiao gosta mais duma do que doutra? Sao as duas loiras!
Tentando o Sic Mulher e porque de facto, a constipacao me deixa num estado de alma de sofrimento, tanto físico como intelectual, deparo-me com o programa 'Mundo das Mulheres', onde se debate a fundo o tema da amemantacao, mais especificamente, a auréola dos mamilos, os mamilos gretados, os mamilos pra dentro, e os que ficam muito pra fora, os mamilos que o bebé nao consegue agarrar. Mamilos para todos os gostos, portanto. Fiquei enjoada e a renegar o instinto maternal, que eu achava existir no meu amago.
Nao sei se devia ter ficado em casa hoje. Estou muito sensível, tudo me irrita. Já estive para atirar sacos com água aos chatos dos meus vizinhos de 6 anos que brincam nos baloicos, é que já nao os posso ouvir. E agora só consigo pensar em coisas para os aterrorizar, adorava ter uma fisga. Um dia, quando tiver filhos, mando-os para um colégio interno na Suíca, logo que chegarem aos 7, 8 anos. Depois dessa idade, ninguem os aguenta.

quinta-feira, julho 15, 2010

um post sobre o tempo

Ó meus amigos, como isto vai...é preciso os termómetros comecarem a explodir no país das salsichas, para eu me dedicar de novo ao blog, coitado, tao abandonado, há meses!
O mais triste foi eu estar há dez minutos a tentar entrar aqui e já nao saber exactamente como é que é mesmo para postar, onde é que eu clico mesmo...? Triste. Muito triste. Fez-me lembrar daquela vez que olhei para a minha bicicleta , cocei a cabeca e pensei a mesma coisa, como é que se usa isto mesmo...? Passado um bocado, lá me sentei no guiador, com as maos nos pedais e pronto, lá ia eu... é como eles dizem, uma gaja nunca desaprende andar de bicicleta!
Triste é também nao ter praia. Regressar todas as tardes ao meu carro, que marca ora 37, ora 38 graus, e nao ter onde me ir refrescar, sem ser a um lago ranhoso cheio de lodo, onde os alemaes se despem e se banham. O que torna tudo perigoso, pois uma pessoa já vai para o lago contrariada e deprimida, a pensar na areia, no sal, na bola nívea, no cheirinho a protector solar. Depois ve os alemaes com o traje à Adao e Eva e é tomada por pensamentos suicidas.
Este post, é, portanto um post sobre o tempo e sobre a minha vontade de parar mais por estas bandas. Até já.

sexta-feira, maio 28, 2010

hoje por ela, amanha por ti

Todos os dias acordo com os olhos colados, arrasto-me para a casa-de-banho, revoltada porque dormi pouco, porque está frio lá fora, porque nao vejo o sol há duas semanas, porque os alemaes me irritam, porque nao me apetece ir trabalhar, porque nao tenho mais férias. Depois, no trabalho nao me apetece aturar mexicanos que me mandam 5 emails com o mesmo assunto e ainda me ligam 14 vezes seguidas, sendo que nao atendi nenhuma delas e preparam-se para ligar a 15a vez. Ao fim dia dia queixo-me que o passo o dia inteiro no trabalho, que em casa nao tenho tempo para nada, embora o tempo em casa seja sempre dedicado a inutilidades. Uma ou outra vez, mas queixo-me que os meus ossos estalam, que fico com os músculos todos rebentados, especialmente aqueles adormecidos nos últimos 15 anos. E que macada que é ir ao ginásio.
E como seria se numa destas manhas em que acordo chateada com a vida, em vez de acordar na minha cama, acordasse numa cama de hospital, de onde nao vou sair nas próximas semanas, meses? E se de um dia para o outro, um orgao nos falha e ficamos impedidos de viver a nossa vida que apesar de rotineira, me oferece dias tao felizes e desassossegados? De repente, essa vida enfadonha já nao me parece assim tao triste. Desde há algumas semanas que tenho uma prima minha no hospital de S. Joao no Porto a precisar de um transplante de medula. Pergunto-me porque é que até ao dia de hoje, nunca me ocorreu registar-me como doadora de medula. E é exactamente por nunca ter parado para pensar que sei que quando ninguem nos pede, dificilmente acordamos um dia e decidimos espontaneamente que podemos salvar a vida de alguém. Daí o meu apelo: sejam doadores de medula. Hoje pela minha prima, amanha pela vossa mulher, Mae, irma. Porque como o meu Pai tao bem diz, quando menos esperamos Deus puxa-nos o tapete. E ali ficamos, sem firmamento.


QUEM se pode tornar dador de medula óssea e COMO o pode fazer?
DAR CÉLULAS PARA POSSIBILITAR O TRANSPLANTE DE MEDULA É MUITO PARECIDO COM DAR SANGUE

PRINCIPAIS CONDIÇÕES PARA SE INSCREVER COMO DADOR:

- ter entre 18 e 45 anos
- peso mínimo de 50kg
- ser saudável
- nunca ter recebido transfusões

(Não precisa de estar em jejum)

COMO FAZER SE PREENCHER OS REQUISITOS ACIMA E SE QUISER TORNAR-SE DADOR?

- É necessário apresentar o BI/cartão de cidadão quando se vai inscrever como dador;

- Preenche-se o formulário disponível nos locais de recolha móvel ( Ver nota APCL "Brigadas móveis" ), nos centros de histocompatibilidade ou nos locais de recolha fixa (Ver nota APCL "Locais onde se poderá tornar sempre dador a nível nacional" ). Nota: Também pode fazer o download do impresso aqui: http://chsul.pt/web/inscri

cao_CEDACE.pdf ;

- Caso não possa deslocar-se a um dos locais de recolha, pode enviar por correio para o CEDACE - Centro de Histocompatibilidade do Sul o questionário devidamente preenchido. Nesta caso, será posteriormente contactado pelo CEDACE para combinarem a recolha da amostra de sangue;

- Se se for inscrever directamente a um local de recolha, é-lhe retirada uma pequena amostra de sangue (12 ml) que posteriormente é analisada;

- Feita a recolha de sangue e caso não exista nenhum motivo para excusão, passa automaticamente a integrar a Base Nacional de Dadores de Medula;

- Se eventualmente tiver algum problema que não lhe permita ser dador, será rapidamente contactado pelo CEDACE;

- Em qualquer altura poderá ser contactado pelo CEDACE para teste adicionais, caso seja compatível com algum doente que necessite de transplante, em Portugal ou no estarngeiro.

No caso de ser chamado, pode ter o privilégio de SALVAR UMA VIDA!

Fonte: Associacao Portuguesa contra a Leucemia

sexta-feira, abril 30, 2010

quarta-feira, abril 21, 2010

Update

Minhoca alive and kicking, promete regressar antes do fim-de-semana com algumas fotos da sua viagem ao Quénia.

Isto de trabalhar com malta que entende portugues destruiu o meu conceito de blogar no local de trabalho, desde entao, a minha vida nunca mais foi a mesma...

quarta-feira, março 10, 2010

shepherd's pie é empadao

Sao seis da tarde e estou sentada no escritório a saborear o cantar da senhora da limpeza, que chegou aqui hoje muito feliz e de mp3 nos ouvidos. Canta em russo. Ou alguem tem ilusoes que senhoras da limpeza na Alemanha seriam alemas? Ah, cuidado com isso.
Estou a morrer de sono, mas o trabalho vai amontoando. É uma luta diária para reduzir a quantidade de emails por ler para menos de 100. Há várias semanas que tento, mas está difícil. Especialmente se considerarmos que estive 4 semanas de férias e ninguém me substituiu. Preciso de dormir mais. Ontem cheguei a casa quase à meia-noite com um Bola rouco e embriagado. Fomos ao irish pub ver os quartos de final da liga dos campeoes, FC Bayern contra Florenca e o regresso a casa foi algo tumultoso porque o Bola - apesar do sucesso e da quase vitória - nao consegue reprimir os típicos impropérios que lhe saltam da boca em catadupa sempre que a equipa a desafiar é italiana. E a situacao nao muda muito se há vitória ou nao. E na Alemanha nao é nada aconselhável falar alto no meio da rua depois das dez da noite.
E crime. Portanto foi difícil arrastá-lo pela rua fora, tentanto que ele falasse baixo e parásse de repetir que no dia seguinte - hoje - ia ligar para todos os restaurantes italianos a pedir uma pizza florenca (que nao existe) de borla, para à pergunta 'de borla porque?', ele poder responder 'porque voces sao todos uns idiotas'. Vejam bem como anda a minha vida. Ao que eu cheguei. Uma pessoa investe num bom sofá, num receptor da tv-cabo e numa cama confortável para depois de 10 horas de trabalho, seguidas de aulas e uma caminhada pelo gelo com uns saltos assassinos, ter de se ir enfiar num pub a embalar uma shepherd's pie que nem dá para saborear, por a cada dois minutos os fans bávaros desaterem aos gritos...! A minha vida perdeu qualidade. E de que maneira.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

atrás da broa até encontrar

Qual nao foi a minha emocao quando hoje, na Makro de cá, me chapo com queijo palhais! Eu que acho que nunca comi nem como queijo Palhais sempre que vou a Portugal. Agarrei logo num pacotinho, acabando por o substituir mais tarde por um saloio gourmet. A Makro ter queijos portugueses foi a surpresa do dia. Nao há nada melhor para acalmar um coracao e um estomago dum emigrante do que o gourmet nacional.
Será que tambem teem ovos moles?? E broa?

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Nigella


O sex appel da Nigella na cozinha deixa-me petrified. Também eu quero ser como ela. As curvas já as tenho, falta-me o ar perverso, o push-up e umas unhas de jeito para agarrar nos legumes como deve ser. Esta poe o Jamie Oliver com o seu jeito sopinha-de-massa a um canto.
A cozinha britanica nao vale nada, para além do sunday roast e do yorkshire pudding, mas o UK consegue projectar para a ribalta esta malta que junta tres ingredientes exóticos e, como que por magia, resulta numa receita brilhante. Curioso...
De qualquer forma, um obrigada à sic mulher pelo Nigella bites. Fico de boca aberta a olhar para a televisao. E para os seios dela.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

A Índia em cinco minutos

A Índia deu-me muitas vezes vontade de rir e de chorar separadamente e às vezes em simultaneo. É um país para o qual temos de ir com a mente em estado de tábua rasa. Desistindo de procurar a lógica nas coisas. Nao acreditanto, porém, em tudo o que nos dizem. A maioria das coisas que nos acontecem e nos sao ditas lá, nao teem lógica mas ficamos muito mais felizes quando nao procuramos aquilo que acreditamos ser o seu sentido e validade.
Exemplos!A cerveja Kingfisher é servida em duas modalidades, uma em garrafa de vidro mais escuro, outra de mais claro. Porque, perguntamos nós. PORQUE É MAIS BONITO!! dizem eles. Servem a clara à noite e a mais escura durante o dia. Porque temos de procurar lógica em tudo, ha??
Queremos um bilhete para um comboio amanha à tarde. Nao ha bilhetes porque o comboio vai ser cancelado. Ai vai? Sim, por causa do nevoeiro. Claro que amanha o nevoeiro pode nem ser tao mau, mas é bom saber que com a ajuda do boletim meteorologico, já se podem tomar decisoes tao cedo. Nao lucramos todos com isso?
Quanto ao típico abanar da cabeca, ao fim de tres semanas, confesso que continuava e continuo sem saber o que significa. Tenho para mim que é um movimento que eles fazem para agitar os neurónios, para pensar. Energia cinética para acordar a massa pensante. Quando a há. E em outras situacoes estao-se a rir da nossa cara. Descaradamente e sem pudor.
A India foi para mim uma revelacao de um número infinito de cheiros que até agora nao haviam visitado as minhas narinas. Concluí uma vez mais que o incenso me perturba. Nao gosto. Descobri que sou muito menos nojentinha do que aquilo que eu achava. Sim, em muitas casas-de-banho tomei banho de chinelos, cumprindo com sucesso a missao de nao entrar em contacto com nenhuma superfície dentro da casa-de-banho. Uma vez, o Bola abriu ao porta quando eu me preparava para sair e perante a possibilidade de a porta me tocar, desatei aos gritos mas rapidamente recuperei a minha compostura. Nao examinei a inexistente limpeza das sanitas, fazia o que tinha a fazer sem olhar muito para superfícies que tivessem a ver com a minha higiene. E fui mais feliz assim. Recebi comida com pelos algumas vezes, mas nao me gregoriei. Comi de bandejas de fruta que me ofereceram nos templos. Nao dei pontapés nos testículos dos indianos que escarravam na direccao dos meus pés. Nao olhei com desdém para aqueles que nunca haviam travado encontro com o desodorizante. Cumprimentei gente que se encontrava em lazer, com uma mao num pé e a outra a escavacar o nariz. Dei um high-five ao motorista do riquexó uma vez, quando na verdade, ele levantou a mao para fazer sinal a alguem atras de mim, sem que eu percebesse. Comi com a mao. Fiz cocó de pé. Fiz cocó com o rabo a arder de malaguetas. Deixei de saber, nesta última situacao, se o meu rabo ainda estava colado ao corpo ou se as malaguetas o tinham feito descolar-se de mim, tal era o ardor. Toquei na pele rugosa dum elefante. Andei descalca em ruas cheias de lixo. Passeei no meio das vacas. Aprendi que um indiano nao se mede aos palmos, mas sim pela forca do seu arroto e da flexibilidade com que faz a ponte para as posicoes mais difíceis do Kamasutra.
E assim se passaram as minhas melhores férias até agora. Carregadas de muito romance e espírito de honeymoon.

Já contei que em Marco vou ao Quénia?

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Varkala, Kerala



Jodhpur





Jaipur



Amritsar, Punjab



Agra


Aeroporto de Nova Deli 02:52 am, 21 de Jan.

Estamos na fila para entrar no aeroporto, cansados, sem dormir há várias horas. Temos que mostrar os passportes e as confirmacoes de reserva, só assim nos deixam entrar. Há vários indianos armados até aos dentes e do lado de fora do aeroporto o povo nao arreda pé, estao ali à porta sem eu perceber muito bem porque, é que realmente ninguem está a distruibir nada de borla. Assim sao os indianos, sabem simplesmente estar. Às minhas costas, arrasto o meu mochilao que felizmente nao tive de carregar muito tempo a fio, apenas transportando-o por breves minutos, do hotel para o carro, do carro para o aeroporto, etc. Mas estou cansada, fecho os olhos, enrolo-me no meu casaco para nao deixar que o nevoeiro se entranhe pelos meus ossos adentro e abraco a mochila mais pequena que trago à frente do corpo. E penso que há umas horas atrás tinha o sol de Kerala a bronzear-me o corpo e vários indianos a contemplar as suas/minhas curvas.
Quando abro os olhos, abro-os para uma indiana à minha frente, também ela enrolada no casaco dela, mas com os olhos a transbordar de água e o queixo trémulo. Nao deve ter mais de vinte anos, mas mesmo assim, nao ponho a mao no fogo pela idade de nenhum indiano, pois adivinhar-lhes a idade nao é muito fácil, especialmente a deles, que me enganam com os bigodes e brilhantina do cabelo. Ela olha para trás por cima do ombro, olhando quase através de mim, para trás de mim e da multidao atrás de nós, e quando os olhos dela páram de procurar e ela tenta sem sucesso esbocar um sorriso, vejo eu um rapazinho indiano também ele de olhos inundados. Ele levanta a mao, como a que dizer, está tudo bem, nao fiques assim, e ela desata aos solucos, limpando as lágrimas com as costas das maos. Quando entrega o passaporte para controlo, está toda desconcertada e aquele queixo já treme por todos os lados, sem qualquer espaco para o sorriso que ela queria tanto deixar na memória do coitado. Antes de ela passar para o lado de dentro do aeroporto, ele empurra o povao para os lados e vem-lhe dar mais um abraco, daqueles abracos que só os homens com agá grande sabem dar. Aliás, até eu lhe queria dar um abraco, de tao emocionante que a coisa estava. Queria envolver-me naquele abraco carregado de tanta emocao e tanta docura, mas a única coisa que continuei a abracar foi a minha mochila com cheiro a caril, nao há nada que me atraia mais do que emocoes fortes.
Sou uma piegas. Porque é que nao havia nenhum indiano de olhos negros ali para me dar um abraco e ali ficar longe, a dizer-me adeus, até eu desaparecer completamente sem que ele parásse de acenar?

Isto para dizer, que odeio as despedidas de aeroporto, mas tanto, que até me doem as despedidas dos outros.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

as tipicas secas de aeroporto

Estou neste momento sentada no aeroporto de Trivandrum, onde encontrei UM computador que me permite acesso a internet por 30 rupias cada meia hora. E o unico, portanto sou uma felizarda. Na verdade, tenho tanto sono que se estiver com a cabeca no ar sem a apoiar, corro o risco de cair, ma se este e o unico pc e passa aqui tanta gente gulosa, a querer usa-lo, entao nao saio assim tao depressa.
Alem do mais, o nosso voo esta atrasado. Tivemos poucas experiencias com a Kingfisher Airlines que correram dentro do previsto. Ou houve atrasos, ou foram antipaticos, ou mais atrasos em cima de atrasos. Da proxima vez que vier para estes lados, vou optar por outra companhia, pois as outras alem de ser mais baratas, parecem cumprir melhor os horarios.
Estao 32 graus la fora daqui a 5 horas espera-me um banco no aeroporto de Deli, onde ficarei a secar algumas horas a espera do voo para o Pais das Salsichas, onde ai me espera um frio desgracado e neve em todas as direcoes onde se olha. Mal por mal, aterramos primeiro no frio de Deli que tambem nao e nada suportavel, aliado a sujidade e poluicao caracteristicas da cidade, onde nao pretendo voltar, a nao ser que seja de passagem. Deli nao vale a pena.
Todas as outras cidades por onde andamos foram excelentes destinos, comecando por Amritsar, passando por Jaipur, Jodhpur, Agra (so o Taj Mahal, a cidade e muito feia) e terminando no Sul, no estado de Kerela, que em termos e praia e um verdadeiro paraiso, com a agua do mar quase quente demais.
Todas as pessoas que temos encontrado, com quem metemos conversa, estao ha mais de um mes por aqui e ainda vao ficar outros dois ou tres. Nao conhecemos ninguem que viesse 'apenas' por tres semanas. Que maravilha... onde se vendem vidas destas?
Tenho de me mentalizar que nos proximos dias nao convem abordar elementos do sexo oposto na rua, perguntando-lhes se sao casados e se nao sao, porque...
Acho que estou a dormir em pe... zzzzzhhhh...

domingo, janeiro 10, 2010

Namaskar de Jodhpur

Quatro da tarde em Jodhpur. Estou sentada num indanet cafe, evitando o minimo dos contactos com qualquer superficie a minha volta, uma vez que o meu teclado e praticamente preto de tao sujo que esta. Estou, portanto, a escrever a braille. Mas pronto, aqui teem banda larga, o que nao e de esperar em todo o lado. Aqui tambem dao puns bem alto, daqueles com aroma de caril, mas isso sim, e de esperar em todo o lado. Da mesma forma que e de esperar que todo o homem vai cocar os seus testiculos como quiser, quando quiser e quantas vezes quiser. Da mesma forma que mexem nos pes onde quer qu estejam, mas depois agem com repulsa, se por engano, lhes tocamos com a nossa mao esquerda, quando por acaso eu ate me lavo com as duas. As escarradelas para o chao no inicio chocavam-me, pois vou a circular calmamente e tras, e menos de um metro escarra alguem para o chao, com o meu pe quase a assentar em cima.
Jodhpur tem um forte fantastico, sendo esse o unico detalhe de encanto na cidade. De resto, e mais uma cidade suja, louca, com a particularidade de aqui as vacas proliferarem em muito maior numero de que em qualquer outra cidade por onde ja estivemos. Ver vacas aos magotes comodamente instaladas no meio da rua, sendo que todos os veiculos motorizadas se veem obrigados a passar-lhes grandes tangentes, e um espectaculo interessante e imperdivel. Elas ruminam e la abanam uma orelha, na tentativa infrutifera de se livrarem de mais algumas das centenas de moscas que esvoacam a volta das trombas delas.
Ando ha dois dias com a boca a saber a alho, mas esta comida e tao boa, tao boa que vale o sacrificio. Alem do mais, entre o cheiro a gente mal lavada, a condimentos ou a fritos, o cheiro a alho que provem da minha boca nao me parece assim tao mau. Mas no que toca a cheiros, deixem-me daqui a uns dias relatar de VARANASI.
Hoje esta calorzinho e ja da para andar de manga curta. Nao estamos longe do deserto. A paisagem aqui ja e diferente, menos verde, desertificada, arida, so com pedregulhos. Ficou de lado, para grande pena nossa, a visita a Jaisalmer e a noite que iamos passar no deserto.
Entretanto, ja sei falar indian english, que acho uma verdadeira sensacao! Gosto tanto de ser madam e ver os olhos dos indianos esbugalhados, quando adivinham que por tras da minha t-shirt existem dois seios, como aqueles retratados nas suas esculturas, que acho que toda a mulher ocidental merece ter este ego boost, pelo menos uma vez por ano. Deixem-me acrescentar que me visto de forma bastante conservadora, ja para evitar que as minhas curvas atraiam os olhares destes desgracados, muitos deles ignorando a verdadeira forma do corpo feminimo.
Por falar em corpos e formas, tambem ja vimos um pouco de tudo. Desde queimaduras, a lepra, passando por malformacoes.
Ratazanas tambem as centenas, especialmente aqui na estacao de comboios. Quem me ler, pode pensar que me concentro nos aspectos negativos ou que nao estou a gostar. Muito pelo contrario, apenas ha tantas coisas que me encantam aqui e me fazem tanto querer voltar, que nem sei por onde comecar. Uma coisa vos digo, na India tudo e possivel. E se nao e, indians make it possible for you.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

indanet costs thirty rupees ONLY

Sentei-me aqui num computador do hotel onde estou, em Jaipur na India, para escrever sobre a India. Mas nao sei como, nem por onde comecar. A India nao se pode explicar por palavras. E um pais cheio de contrastes, mas se for por aqui, vou comecar a repetir-me e a dizer tudo aquilo que o lonely planet diz. E algo me diz que o lonely staff nao gosta de plagio.
Acho que ja perdi um kilo ou dois. Adoro a comida indiana. Mesmo quando traz um ou outro pelo de brinde. Mesmo quando me manda para a casa-de-banho e so de la saio depois de muito sofrimento e um anus em brasa.
Nao posso estar aqui e esperar que ajam comigo de forma ocidental, ao fim de 4 dias consigo ver isso claramente. A forma de pensar ocidental aqui nao existe. E sim, os indianos quando olham para os europeus veem um euro gigante com pernas e comeca a caca as rupias. Abre a boca para dar uma informacao e estende a mao, dizendo com a maior cara de pau: twenty rupees please.
E um pais fascinante, onde a miseria nos passa a frente dos olhos o tempo todo. Acho que ainda nao da para escrever sobre a India, talvez apenas quando regressar. Se quiserem que ensine a abanar a cabeca como so os indianos sabem fazer (nao mexendo os ombros) ou cocar os testiculos indian style, isso sim posso explicar. Para mais, ainda preciso de tempo. Estou a gostar muito.
E nao vou contar a ninguem que quando hoje do meio da neblina, o Taj Mahal brilhou no meu plano de visao, me emocionei. Tao lindo.