Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

quarta-feira, outubro 31, 2007

thumbs up

Ontem quando me preparava para deixar tudo arrumadinho na minha secretária, comecei a receber telefonemas de colegas a pedir isto e aquilo. Eu olhava para o relogio mais do que uma vez por minuto e só me vinham à cabeca palavras feias em alemao. Até há bem pouco tempo, eu dizia asneiras na língua materna. Nao percebo. Cinco minutos antes das quatro, lá saí sem o casaco vestido, com tudo pela mao, a andar quase a correr, em direccao ao Bola que estava à minha espera para me levar a Regensburgo.
A segunda entrevista correu tao bem como a primeira, há que dizer. Como Minhoca prevenida que sou, levei o currículo do Bola na minha carteira, afinal nunca se sabe... e com algum jeitinho da minha parte, passados 20 minutos da entrevista em que eu já tinha a parte que me cabia, já estava o currículo dele em cima da mesa a ser analisado pelo meu interlocutor, o tal que quer muito que eu vá trabalhar para a empresa deles. Afinal ele já me disse tres vezes desde que nos conhecemos gostei muito de a conhecer, acho que tem o perfil perfeito para o lugar. Eu também quero ir, mas dava muito jeito que o Bola também tivesse trabalho na mesma cidade, nao sei se estao a perceber.
- Eu se pudesse, decidia já, mas sabe, há o meu marido e enquanto ele nao tiver emprego na mesma cidade, nao sei se estou disposta a percorrer tantos quilómetros diariamente.
Nisto, faco aquele esgar de quem tem mesmo muita pena e menciono que por acaso, o Bola até já se candidatou mas que ainda nao lhe tinham respondido.
Bom, daí até ele ter, de facto, mostrado algum interesse no currículo dele e a me ter prometido chamá-lo para entrevista foi mais rápido e nem falei mais nos números. Afinal, a possibilidade de o Bola ter uma entrevista para emprego representa para mim muito mais do que o dinheiro. Já lhe telefonou hoje a pediu-lhe um resumo do trabalho dele de agora. O Bola ficou contente, mas infelizmente ainda é muito orgulhoso para admitir perante terceiros que é a sua self-confident Frau que pela segunda vez comete o atrevimento de lhe arranjar emprego. Nao vou dizer que nao me chateia ver que ele tem problemas em admitir isso, mas vou fingindo que nao conta. Deve ser coisas de macho, além disso isto é tudo Europa, mas esta terra nem é a minha. Mas dava jeito poder dizer ao meu actual chefe que a culpa é do Bola, quando me for despedir. Que ele é que decidiu irmos embora. Assim eu já podia dormir de noite por estes dias. E nao sonhar com coisas estúpidas, como por exemplo o Bola a pedir-me tampoes por estar com o período. Juro. Foi horrível.

segunda-feira, outubro 29, 2007

momento da verdade aproxima-se e minhoca só procura um buraco na areia

Sexta-feira depois das quatro da tarde, diz-me o meu chefe que gostava que nos reuníssemos na segunda-feira às cinco da tarde, única hora a que lhe dá jeito, para discutir uns assuntos relacionados com o site da empresa, que eu fiquei de abrilhantar. Como explico eu ao meu chefe que na segunda-feira, exactamente a essa hora, tenciono estar em Regensburgo, na segunda entrevista para a empresa para onde poderei eventualmente dar de frosques? Pois, nao explico. Portanto, meto o rabinho entre as pernas e digo com o meu sorriso profissional e ciente do dever, que sim, que lá estarei. Desmarco a entrevista e hoje às cinco da tarde, lá estou, sentada na minha secretária à espera que ele me diga que fica para outro dia. E assim foi. Eu mordi a língua várias vezes e procurei uma almofada para abafar os meus gritos de frustracao, pois eu já sabia que isto ia acontecer. Em vez disso, fui à casa-de-banho e improvisei a minha própria almofada com 4 rolos de papel higinénico. Ainda bem que nao havia laminas por perto. Já foi bom nao ter enfiado o piacaba pela garganta abaixo. Em momentos de frustracao, muitas vezes a auto-flagelacao é a unica resposta.
Amanha espero nao me lixarem os planos, pois até dá jeito desmarcar uma vez para mostrar que até nao estou muito interessada, mas fazer isto duas vezes pode nao ser boa ideia. Até porque depois da primeira entrevista em que me disseram ligamos-lhe daqui a duas semanas, e me ligaram 16 horas depois, convém aproveitar, pois o meu horóscopo anunciou que 2007 era um ano de mudancas. Pelos vistos que se prolongam até 2008.
Tomar uma decisao destas nao vai ser simples. E pensar que fico meia hora numa drogaria indecisa a pensar qual o sabonete líquido para as maos que vou levar. Alguém que me de dois pares de estalos, por favor.

Depois das oito


O abrir de uma caixa de after-eight é para mim um ritual, assim como é para o Bola agarrar numa manga, fazer-lhe festinhas, cheirá-la etc, até ao momento em que a corta. Eu só como after-eights vindos do frigorífico. Quando abro a caixa, levanto aquela folhinha de cima e cheiro-os todos, como se o meu nariz estivesse a tocar uma escala nas saquetas individuais, como se estas fossem as teclas dum piano. Duma ponta a outra. Depois, retiro o primeiro, partindo-o muito devagar ao meio, para ver como o recheio de menta se separa no meio. O primeiro como-o sempre assim, uma metade depois da outra. Os seguintes como inteiros, em silencio, para poder ouvir o som do chocolate a partir-se na minha boca. E como devagar. Normalmente, sou do tipo alarve que nao mantem doces muito tempo. Quando um chocolate se abre, há que acabá-lo o mais rápido possível. Com os after-eights nao há pressa, passo uma semana a ir aos saltinhos buscar ao tres ao frigorífico depois do jantar, comendo-os muito devagar. É um momento tao especial para mim que até já pensei em colocar uma roupa própria só para esse momento. Algo em verde. O facto de os comer depois das oito da noite é coincidencia. Obrigado, Pai e Mae por me ensinarem a apreciar tudo o que esta vida tem de bom.
Na próxima semana falar-vos-ei do drama dos Maltesers, que cá nao há.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Para a Sónia

dona do blog Cromossoma X, que é uma das minhas leitoras mais assiduas, tem um sorriso encantador e apresentou-me a este tune fabuloso da amy, que já está no ipod, no radio do carro, cozinha, em todo o lado:

um dia vou pra lá morar

Se me deixassem, eu dava de frosques para o Brasil. Às vezes, a sonhar acordada, imagino que um dia vou para lá viver uns tempos. Depois vou visitar Cuba, a Argentina, a Venezuela e o Chile. Gosto dos sul americanos. Especialmente do Brasil. Gosto do temperamento. E como nunca lá fui, acho que isto tudo pode ser um grande misto de curiosidade e o facto de nao me conseguir habituar muito ao tempo gélido aqui das salsichas.
Mas, acima de tudo, gosto muito do facto de o meu grupo de países no trabalho ser a América Latina. Às vezes, até me esqueco que eles sao todos nossos clientes e nao colegas. O meu colega do Brasil pergunta-me várias vezes se eu nao quero trocar. Se pudesse, acho que trocava mesmo por alguns meses. Entretanto vou comprando os serenata do amor em Portugal quando la for e saboreando as mangas brasileiras de olhos fechados.

the only one who could ever teach me

...was a son of a preacher man. Tenho de confessar que a tema do Chris de Burgh Lady in Red me fez suspirar imenso quando eu era teen. Há pouco estava a ver o seu videoclip, em que ele canta de franjinha, com fumo a aparecer por de trás dele e confesso que apesar disso tudo, ele tinha a sua pinta. E eu vibrava, especialmente com a parte do never seen so many men ask you if you wanted to dance, romance, chance... Dánse, como dizem os brits.
Hoje estou a ter um fim de tarde musical. Será mau gostar do novo tema da Sarah Connor, o remake do Son of a Preacher man? O Bola diz que devia ser proibido destruirem os classicos, mas eu confesso que gosto mais da versao dela. Apesar de ela ser nariguda.
Bom, a verdade é que neste momento da minha vida preciso da musica para me ajudar a lidar com este dilema, que se assemelha àquela situacao quando temos 8 anos e temos de escolher UM gelado. Super maxi? Perna de pau?
A entrevista para o outro emprego correu bem. Muito até.
Resumindo: menos horas de trabalho, mais 30% do que ganho agora, trabalho é quando 1 por 1, só mudando o produto. Uma cantina maior com comida sem risco de causar acidentes cardio-vascular a médio prazo. E uma empresa com classe. Que me transferem para a conta os gastos da ida lá. Muito professional.
Portanto, ando a tentar ver o que é que vou fazer à minha vida. Pois é CLARO que o pessoal que me entrevistou me adorou, porque eu sei fingir que sou amorosa. Uma artista. Mandei uma piadinha aqui e outra ali e eles viram logo que era preciso uma pessoa como eu, de sangue latino, para integrar a equipa South america. Além disso, tive sorte, é tudo gente a favor da diversidade cultural.
Como em momentos destes, só me dá pra pensar nos dias em que me encantava a ver o Tom Sawyer e os meus problemas nao iam além de conseguir ser eu a rapar o tacho dos bolos que a minha mae fazia. Nao há nada como ser crianca.

quarta-feira, outubro 24, 2007

a fresh start

Sao dez e meia da manha e já estou acordada desde as seis, quando o aquecimento despertou (entre a uma da manha e as seis permanece adormecido) e, como acho que é preciso despressurizar aquilo, ultimamente faz um barulhinho que me acorda. Além disso, o meu sono é sempre instável quando sei que no dia seguinte, tenho de fazer um brilharete, especialmente no que toca a fazer uso da expressao alema, que apesar de me ser familiar, ainda me coloca certos entraves. Hoje vou ter entrevista para um emprego que nao sei se quero muito. Quero, simplesmente nao sei o quanto. Há dias em que penso que sim, como hoje, por exemplo, mas ontem achava que nao. O Bola diz-me se tu mesma, mas de forma moderada, o que pressupoe que nao posso ser muito de MIM mesma. Ele também acha que quando me perguntarem o porque de eu me interessar pela industria de maquinaria, eu nao devo dizer que é por serem funcoes onde há muita testosterona. Vai daí, achei que devia vir pra net ler a história e os factos da empresa, para estar preparada. E que fique registado que cortei as unhas dos pés de propósito. Costumo deixar que elas atinjam um centímetro.
En confio no meu charme de Minhoca, mas nao é fácil querer mostrar interesse e argumentar as razoes duma mudanca quando eu no fundo, gosto do que faco,dos meus colegas,do meu trabalho. Só nao gosto da zona onde moro. Apetecia-me um fresh start, numa cidade nova, com flair internacional e certamente uma populacao mais interessante do que esta aqui neste fim do mundo.
Algo me diz que antes da entrevistal, ainda vou parar à casa-de-banho com as calcas na mao. Os meus intestinos nestas alturas nunca se compadecem de mim.

sábado, outubro 20, 2007

Ei-la!

Eu juro que isto já me andava a deixar preocupada. Desde há vários anos que volta e meia, penso...ah, e aquela série tao fixe da Superavozinha que dava no canal 1 quando eu era pequena... quando perguntava a alguem, NINGUEM sabia do que eu estava a falar. Chegada à Alemanha, tentei que algum alemao me ajudasse, pensa lá, deves-te lembrar, a série era alema e devia ter um nome tipo Superoma ou qualquer coisa, tinha uma boina e voava de bicicleta... eu devia ter uns 8, 9 anos, portanto foi nos anos 80. Nada. Ninguém se lembrava. Até que ontem descobri porque. Nao, nao é fruto da minha imaginacao. Ela existia mesmo e com a a boina. Mas aos 8 anos, nao nos podemos culpar por nao saber que alemao e holandes nao sao a mesma língua. Já agora, quando quiserem insultar um holandes, digam-lhes que o holandes surge da mescla do ingles com o alemao. Isso é quase tao forte como nos chamarem a nós espanhois.


Foto tirada daqui.

há que ser espontaneo

Ao fim de quase seis meses, acho que ja me posso a atrever a escrever um post daqui da minha secretária. Sao cinco e meia da tarde de sexta-feira e sou a unica no escritório, o que na Alemanha nao é nada de anormal. A sexta-feira à tarde é um mau dia para quem quer resolver questoes de carácter burocrático. Mesmo esta empresa, há uns anos atras, tinha horario flexivel à sexta, ou seja, a malta à uma da tarde dava de frosques. Mas depois os alemaes devem ter percebido que estamos na Uniao europeia e se a siesta nao é um fenómeno europeu, eles tambem nao podiam impor o sistema da balda da sexta-feira. Além disso, nunca se sabe quando é necessário outro Wirtschaftswunder e para isso há que estarmos preparados! Viva a identidade nacional, que até já falo dos alemaes na primeira pessoa do plural. Como eu ia a dizer...E vai daí, pronto, acabou-se a mama e passaram-se às 40 horas semanais de agora em vez das maravilhosas 35. Estava a pensar em fazer uma to-do list para o fim-de-semana. Normalmente nunca cumpro, mas dá-me um certo conforto saber que tenho uma to-do list, que posso sacar a qualquer momento do bolso, quando estiver por exemplo a pensar no que me aptece fazer.
--> procurar o edredon de Inverno para substituir pelo de Verao;
--> comparar precos para uma nova máquina digital, a actual já nao funciona;
--> arejar e lavar cobertores bolorentos do Invero passado.
--> fazer doce de manga;
--> mandar um mail à Universidade de Göttingen a perguntar porque é que logo agoro que eu ja nao estudo lá é que passaram a universidade de Elite. Aha, eu sou importante.
--> mandar um mail è Telekom a insultá-los e a dizer que vou passar para a Kabel Deutschland.
--> comprar uma daquelas cenas fixes que há nas bombas de gasolina para lavar os vidros. Daquelas que teem esponja dum lado e uma barra de borracha na outra para puxar a água.
--> lavar camisolas à mao e para isso comprar sabao em pó para lavar à mao. Ou procurar o pedaco de Clarim (lava mais branco) que trouxe de PT depois do Natal.
--> dar início à declaracao do IRS.
--> dar um ponto nas meias pretas para distinguir as minhas das do Jo, nao tem sido fácil.
--> tentar fazer um Streuselkuchen (bolo alemao com fruta em cima e Streusel, que é nada mais nada menos do que manteiga e acucar)

É melhor desistir. Um fim-de-semana nunca chega e como eu nao sei escolher, acho melhor virar-me para a espontaneidade.

quinta-feira, outubro 18, 2007

gomas... alguém?

Comi uma sopa instantanea e apesar de nao ser maravilhosa, era mesmo o que me estava a apetecer hoje. O dia de hoje fica marcado pelo facto de ter visto um dos meus alunos de ingles a segurar na sua mangueira, enquanto urinava na casa-de-banho. Eu ia a subir as escadas e por acaso alguém entrou na casa-de-banho. Como eu estava a olhar nessa direccao, pois fica mesmo à frente de quem vai a subir as escadas, reparei que quando o outro tipo abriu a porta, por detrás dele estava o meu aluno virado para o urinol e com as maos na posicao certa, foi aí que os nossos olhares se cruzaram. Agora digam-me, como vou eu tirar da minha cabeca esta imagem do meu aluno Andreas virado para o urinol - aqui docemente apelidado de pissoir - a agarrar no seu pénis e com a sua mochila azul pequenina às costas, com um urso amarelo das gomas haribo? Alguem me diga, pois eu acho que nunca mais me atrevo a recolher os TPC dele. Nem a comer gomas Haribo.
Haribo macht Kinder froh und Erwachsene ebenso...

quarta-feira, outubro 17, 2007

should i stay or should i go?

No fim de semana estive no aniversário duma tia do Bola. Cheguei à conclusao que o maior problema da moda dos alemaes se concentra na faixa etária a partir do final dos cinquenta. Estas pessoas desafiam as leis da moda, sao atrevidas mesmo. Há uma grande tendencia para uma obscenidade de cores, que eu nem sei por onde comecar a explicar. Fico com a boca aberta e só me sai aaaah....ahhhhh....aaaahhhh. A mistura verde-alface/turquesa/laranja pode nao ferir o vosso sentido de estética, mas fere o meu. A meia branca é um clássico e nos dias que correm quase que nos podemos referir a isso como CULTO. É o cunho, a marca deles, é a identidade cultural quando vao de férias, por exemplo. E como eles estao por todo o lado, haverá momentos em que nos podemos referir à conspiracao da meia branca.
Outra tendencia dos alemaes nesta faixa etária é a paixao pelo vinho, aaaah o líquido mágico que faz tao bem ao coracao, que liberta neles aquelas piadas tao secas que até já viraram pó, mas com a particularidade de se perderem de riso. E nós rimos também, pois claro. Afinal somos os únicos ainda a rondar os trinta. Nao nos rirmos duma piada dum idoso além de cruel, faz-nos sentir snobes.
Portanto, foi um fim-de-semana enriquecedor, por exemplo no que toca a padroes de gravatas visto-ninguem-acredita.
Mas nao foi a pensar na moda (cof cof) por cá que eu dei início a mais um post. Foi para vos contar que tenho uma entrevista para emprego em Regensburgo na próxima semana. Como preciso de saber até que ponto quero um emprego novo, há que pesar muito bem as vantagens e desvantagens.
Vantagens:
- mudarmo-nos para uma cidade fixe (eventualmente);
- emprego semelhante ao que tenho agora (parece);
- mais bem pago;
Desvantagens:
- gosto muito do meu emprego de agora e dos meus colegas;
- tenho uma secretária enorme, com um pc high tech À JANELA;
- já me habituei às pessoas e elas a mim ---> temo que se me for embora vai tudo desatar aos gritos e a chorar a implorarem-me para eu nao partir.
- ainda nem há seis meses estou ali.
- trabalhar num ambiente marcadamente masculino e deixar de ter as atencoes sobre mim quando entro em ambientes onde sou a unica com maminhas.

De maneiras que é isto. Ando em introspeccao e tal. Calada, pensativa mas a borbulhar por dentro. O Bola tambem anda calada e introspectivo, mas eu pu-lo à vontade, querida que só eu: Bola, hoje nao podes comigo, se eu voltar a falar na minha entrevista fechas-me no sotao e só me abres a porta para eu amanha ir trabalhar. Mas eu entendo-te. Eu tambem me iria sentir, se tu tivesses arranjado dois empregos fixes num espaco de 6 meses e eu nenhum. Pronto. Nao te sintas culpado por hoje nao gostares tanto de mim, dá cá uma beijoca.

ah pois neva

Diz que sexta-feira chega a primeira neve. Se eu fosse um urso hibernava, juro que hibernava. Detesto estes tres meses de neve. No mínimo. Se tivesse muito dinheiro e um marido com o seu que de aventureiro, nesta altura fugia para as Caraíbas. E a neve estraga os meus planos de ir de carro trabalhar. Sem ABS, com imensa neblina de manha e com pouco tempo de reaccao. Acho que se os palhacos dos maquinistas se deixarem desta treta da greve que nunca mais acaba, vou passar a ser malta do passe. A estacao do comboio fica a 5 minutos de minha casa e a viagem sao 5 minutos e 46 segundos exactamente. Depois chegada à estacao da localidade de sonho onde eu trabalho, tenho mais uns 5 minutos a pé até ao trabalho. Ora, estas caminhadas pelo ar fresco da manha só me podem fazer bem, nao é? E assim acaba-e o medo de assassinar a fauna que me pode atravessar a estrada um dia destes e cujos pedacos de corpinho vou encontrando um ou outro dia na estrada. Esquilos, coelhos, ouricos cacheiros ou mesmo uma gazela. Eles andam aí e só nos aparecem no meio da estrada quando menos contamos. Nao há manha em que eu nao pense nos animais. Nao me ia perdoar.
Portanto a partir da semana que vem temos MINHOCA PENDULAR ON THE BLOCK!

and so it is

Hoje passei a noite a ouvir aquelas músicas deprimentes do Damien Rice. Mas quando precisamos de sentimentos fortes, porque nao ouvir o Blower's Daughter com os baixos bem fortes? É bom! Eu acho que o Damien deve ser um gajo triste. Como é que ele arranca estas musicas lá do fundo da garganta e da guitarra sem ser um gajo triste? É que a páginas tantas de ouvir o Sleep don't Weep (que é aliás, a minha divisa), achei que era uma boa altura para saltar da varanda. (ia a passar um gajo aqui da minha rua lá em baixo de quem nao gosto muito)
Fui interrompida pelo Bola:
- Está a falar o árbitro de quem tu tanto gostas!
- O Urs? (Urs Meier, goglem isso e vejam)
E pronto, volto a por as pernas do lado de fora da varanda, desligo o Damien no ipod e passo para o Urs, que fala com sotaque suíco, que eu adoro.
O Bola é um marido moderno, chama a minha atencao para olhar para os outros, que potencialmente lhe podem fazer concorrencia. Um árbitro, vejamos. Qualquer dia, nao me vou espantar se formos na rua e ele me disser Olha ali, um rapaz com um rabo tao giro, saca daí a tua máquina e tira uma foto para pores no teu blog. A gente deve esperar tudo, estamos constantemente a ser surpreendidos. Por exemplo, há muitas pessoas que ficam surpreendidas pela negativa quando eu digo que acho o David Bisbal sexy. (porque é que ele já nao namora com a Chenoa, eram tao perfeitos?) Há pessoas que ficam surpreendidas quando eu faco o pino. Adiante. Alguém que diga ao Bola que vá dormir que eu quero ver a Betty Feia. Nos dias que correm só mesmo a telly para me animar.

segunda-feira, outubro 15, 2007

ventos de mudanca, parte 2

Depois de um fds prolongado, eis-me de volta. Depois de ter estado numa das cidades mais bonitas da Alemanha - Heidelberg - é de esperar que se eu nos próximos dias nao der o ar da minha graca, é porque caí numa depressao profunda, só tratável com químicos ou fui encontrada na casa-de-banho a cortar os pulsos com a minha Vénus cor-de-rosa Vibrance (com pilhas) por nao querer aceitar que estou condenada a passar o resto dos meus dias nesta parvónia que é Weiden. De modos que é isto. Ando a tentar entreter-me e a passar o mais tempo possível em casa. Pois os nativos aqui da Oberpfalz deprimem-me. Eu estive em Estugarda, Heidelberg e Nurembega. Como lidar com o regresso? Enfiando a cabeca na areia como as avestruzes (o o Bola quando o mando ao lixo)?
Bom, ando a desenvolver um plano secreto para sair daqui. Escrevi uma carta de candidatura brilhante e enviei-a à unica empresa nos arredores que me pode salvar daqui e deixar-me ir morar para Regensburgo. Já fiz vários esquemas, com a complexidade dos esquemas que o Kevin fez no Sozinho em Casa 1, para apanhar os assaltantes. Acho que já dá para ficarem com uma ideia. Por isso, quando o Bola pensa que eu vou para a casa-de-banho ler, engana-se pois eu estou é a preparar a minha escapadela daqui, alias, a nossa. Precisamos de ar fresco e de pessoas à nossa volta para além de atrasados mentais. Acho muito bem que na Alemanha se testem os fármacos e aceito que só em ratazanas nao chega. Agora que mandem os resultados falhados dessas experiencias todos para a cidade onde eu moro, isso é que nao! Quem está mal muda-se e eu podia estar pior, mas acho que tres anos e meio aqui já chegam.

terça-feira, outubro 09, 2007

nao como mais cheeseburgers

Fomos comprar um cheesebuger para cada um ao mcdonalds para nos aquecer a mao e o estomago, enquanto passearíamos pela rua já quase vazia, mas cheia de encanto outonal. Este cheiro fresco das folhas no chao é maravilhoso, tenho andado sempre na rua.
Saídos do Mcdonalds, peco-lhe algum dinheiro do troco, pois estava com o porta-moedas vazio. Ele havia pago com uma nota de 50€ e quando me abre a mao para eu tirar uma nota de 20€, vejo o troco com duas notas de 20, uma de 5 e , grande surpresa, uma de 50. Olho para o Bola com ar de caso e também ele fica baralhado por uns segundos.
- Vamos voltar atrás, anda lá.
- Podes crer que nao vou. É a primeira vez que me acontece uma coisa destas! (cara de véspera de Natal)
- Bola, vai-lhe sair do salário. Vao descontar-lhe e ela ja ganha tao pouco.
- Nao lhe vao descontar nada. Isto nunca me acontece. Ainda pra mais num franchise americano.

Calo-me. Vamos pela rua fora e depois de falarmos de outras trivialidades...sem deixar de pensar no mesmo.
- Bola, tu ainda nao sabes mas quando devolveres a nota, vais-te sentir tao contente por teres feito alguem feliz hoje... diz-me lá, qual é a probabilidade de uma coisa destas acontecer hoje em dia?
- Lá está, ninguem espera que isso aconteca. Garanto-te que nao lhe vai sair do bolso.
- Bolinhaaaaa, anda lá, vamos devolver a nota. O meu Pai quando fazia caixa e lhe faltava dinheiro ao fim do dia, tinha de por. É uma frustracao enorme.

O que é certo é que a certa altura me calei e aceitei que ele nao quisesse ir devolver a nota. Talvez eu me sentisse frustrada se fosse lá eu devolver depois, pois estas pequenas alegrias de nos vir parar dinheiro à mao assim sem estarmos a contar nao acontecem muitas vezes. Mas se isso representar prejudicar terceiros, já nao me interessa. Acima de tudo, hoje em dia já ninguem espera que estas coisas acontecam e isso foi o que me deixou hesitante hoje. Eu quero acreditar na honestidade, em pessoas que devolvem o excesso no troco. Como os meus pais me ensinaram. Nunca me vou esquecer do dia em que fui almocar à cantina e quando ia a chegar ao edificio, um carro pára ao meu lado e alguém me diz Olhe que deixou cair uma nota de 5€ lá atrás, mais ou menos a 200 metros daqui. Ainda la deve estar. E estava mesmo, embrulhada em tres, como eu faco sempre que enfio uma nota no bolso das calcas. O facto de alguem me ter vindo dizer que a 200 metros estava dinheiro meu, intocado, proporcionou-me uma alegria imenso, inexplicável. Estas coisas nao acontecem muito nos dias que correm.Por causa de pessoas como eu. Eu nao sou melhor que o Bola. Podia-o ter convencido mais. Num dia bom, eu consigo que ele faca quase tudo o que eu quero. Hoje optei por nao insistir. E agora estou triste.
Fomos comprar um cheesebuger para cada um ao mcdonalds para nos aquecer a mao e o estomago, mas quente só ficou mesmo a carteira. Ah. E a consciencia.
Aditamento: Prometo já já fazer-vos rir outra vez. É a nostalgia do Outono que me está a deixar lamechas. Isto trata-se já com um par de estalos, pois nao ha nada que a auto-flagelacao nao resolva.

compostos por aglutinacao

Quando os nossos pais adoecem, a sensacao deve ser parecida com aquela quando um filho pequeno adoece. Os pais porque nao vao ficando mais novos nem mais resistentes. Os filhos pequenos porque ainda nao sao grandes q.b. para fazer frente a complicacoes com a saude. Por isso é que me deprimo quando os meus pais ficam doentes. Deprimo-me pelos dois, independentemente de qual for o debilitado, pois no meu mundo pequenino e cor-de-rosa, os meus pais nao existem um sem o outro. Sao sempre um agregado de dois, compostos por aglutinacao. Como couveflor. A certa altura, quando eles me contam se os exames correram bem ou nao, etc. rematam com um nao te preocupes, denunciando quase que quem está doente pareco ser eu.
Pais nao deviam ficar doentes nunca. Diz que é a natureza. Eu cá nao acho. Desde que me conheco que os tenho cá e só a ideia de uma vida sem a presenca deles recria em mim a sensacao de nao ser a minha vida. Por isso, vou assinar e passar ao próximo o abaixo assinado para acabar com as doencas nos pais. Desta vez o governo vai ter de ceder.

quinta-feira, outubro 04, 2007

forca belenenses...

Se o Bayern joga hoje contra o Belenenses, é mais do que claro que a entrada na sala nos próximos noventa minutos (mais meia hora de comentários) ser-me-á barrada. Nao propositadamente, mas quando nao me posso esticar no sofa a fazer zapping pelos programas que eu gosto e em vez disso, tenho de partilhar a sala com dois fanáticos do futebol, sendo que um acha que futebol se diz soccer, entao é mesmo melhor afastar-me e só voltar depois da tempestade passar. Além disso, vou provando os doces novos que se passeiam pela gaveta das guloseimas. Para acabar adormecida abracada aos novos reeses.

quarta-feira, outubro 03, 2007

partilhas

Quando se partilha a vida com alguém, deve-se partilhar quase tudo, por essa razao é que nao percebo como se pode criar uma situacao de nojo, só por mencionar a palavra cocó, que é tao natural como aquilo que representa. As palavras sao signos, assim nos ensinam. O Bola fica furioso quando eu digo para ele esperar, porque vou à casinha. Mas eu gosto de especificar, que é para ele saber quantos minutos vou demorar. É que uma ida à casinha pode ter mil e um significados. Posso ir chorar, por as lentes, tirar as lentes, lavar os dentes, (tirar os dentes, ainda nao) ver-me ao espelho, ligar a maquina da roupa, carregar a máquina da roupa, lavar roupa à mao, falar ao telefone, ler, etc. Por isso é que acho mal fundamentado quando ele faz aquele esgar de nojo e quase me proibe de lhe dar informacao extra sobre o que lá vou fazer. É que, quer dizer... nós partilhamos, a vida, a casa, os lencóis. E, claro está, os rolos de papel higiénico. Se nao lhe posso dizer a ele estas coisas, vou dizer a quem? A alguém tem de ser.Mas ainda bem que hoje é feriado e fiquei em casa. Pois o gratinado de batata, couveflor e bróculos está a mostrar-se um desafio para os meus intestinos. Por isso é que convem ter papel higiénico...., chamemos-lhe de entretenimento.
Os feriados a meio da semana sabem, eu até diria, melhor do que aqueles colados ao fim-de-semana. Faz-se uma pausa mesmo a meio e quando regressamos ao trabalho, falta pouco para já ser fim-de-semana outra vez. Sábado vamos a Munique ao concerto de Feist e à festa da cerveja. Depois de ler que nos relatórios de higiene, foram encontradas repetidamente bactérias - estreptococos - nas canecas de cerveja, claro que fico um bocado de pé atrás. Mas na verdade, acho que se muitos restaurantes fossem intensivamente verificados no que toca a higiene, também nao sei se nao se passaria algo parecido. E de qualquer forma, numa volksfest que depois de uma semana registava 3.5 milhoes de visitantes, também nao se pode esperar que seja tudo esterilizado. Bom, como podem ver, estou a arranjar desculpas para mim mesma, para combater a nojice que me deixou hesitante. É isso e os 8 euros pela Maß, vulgo caneca de litro. Mas como é uma vez por ano, a malta até se esquece e tenta beber mais um bocado para nao pensar no preco. Inteligente, huh?

Ora, hoje é aquela tarde clássica em que arrumo as blusas, saias e toda a parafernalia de linho, para substituituir pela família das las, fleeces e afins. As minhas botas ainda nao as encontrei e estou a tentar afastar os pensamentos tentadores de que mais uma vez o Bola deu à cruz vermelha os sacos errados. Porque a mim? Já nao bastou daquela vez em que ele deitou no lixo todas as coisas que eu tinha no armário da casa-de-banho? E depois sao as gajas que nao ouvem...
Vou ali ver aquele filme trágico Sweet November e chorar um bocado, já que preciso de me livrar de tanto ranho.

segunda-feira, outubro 01, 2007

assim se motiva o pessoal

Hoje ao actualizar a minha caixa de emails, reparo num mail vindo do responsável dos recursos humanos, que ignorei ou li e esqueci (pouco provável) ou simplesmente acabei por passar sem ler.
Avisam-se todos os trabalhadores que a partir do dia 1 de Outubro, a venda de cerveja na cantina passará a ser feita em quantidades moderadas.

O Bola foi falar com o chefe dele sobre a desmotivacao do pessoal que trabalha com ele, por cujo trabalho/prestacao ele se responsabiliza. A páginas tantas, diz o chefe:
- Também nao podemos ser pessimistas, todos temos maus dias. Amanha compras-lhes uma bola de Berlim a cada um ou um ovo kinder e vais ver que já comecam o dia de outra maneira.
(nao era uma piada)
O Bola agora sabe que tem de sair daquela empresa. Eu já saí, agora estou à espera que ele se faca à vidinha.

o 5 de outubro era capaz de dar mais jeito

entretanto, como fiz um bolo, estava a pensar levar uma fatia aos colegas com quem me dou melhor e com quem partilho a mesa. Quer dizer, cada um tem a sua mesa mas temos as 4 todas juntas, que formam uma grande mesa. E pensei tambem no meu amigo checo.

- Bola, estava a pensar levar tambem uma fatia ao Checo, mas nao sei se ele vai gostar.

- Nao acho boa ideia. Sabes, para quem nao está habituado, é um pouco estranho receber assim bolo sem mais nem menos. A tua intencao é boa, mas ainda o vais baralhar. Ele pode-te interpretar mal.

(minhoca com o queixo para baixo e a tentar, atraves da associacao de ideias, chegar à conclusao)

- Interpretar mal? Tipo... toma lá uma fatia de bolo, olha...e já agora, se quiseres aparecer na casa-de-banho dentro de dez minutos, estarei lá a ajeitar o meu cinto de ligas e o chicote? É isso que queres dizer, Bola?

Bom, nao era isto que ele queria dizer. O Bola é exímio na arte de me dar as mais variadas respostas atraves do silencio. Agora percebem o país estranho onde eu moro. Nao convem oferecer uma fatia de bolo aos colegas. Para nao desencadear problemas. Ou paixoes avassaladoras. É que é algo a que tive de me habituar com o passar dos anos. A cada semana que passa, lá tenho mais um gajo apaixonado por mim. A gravidade neste caso, é a falta de comunicacao. Eu já mencionei que sou casada, mas como ele nao entende a palavra married, eu passei para outras faces do léxico da língua inglesa, tao ou mais interessantes.

Mas o mais engracado é quando o Checo me encontra na cantina e me fala - esteja a que distancia estiver - no ingles mais fofinho, baralhando as pessoas com quem me encontro. Já houve alturas em que me ia engasgando quando oico alguem aos berros no fim da fila HELLO!YOU FORGET ME? - queria ele perguntar se eu ja me tinha esquecido dele. Interessante, nao? Do sixpack nao me esqueco eu de certeza.

É pena nao ser politicamente correcto oferecer-se bolo aos colegas, porque significa que eu e o Bolinha vamos andar a comer chiffon de laranja durante a semana toda. Até podíamos fazer um concurso e ver quem come mais. Devido à textura esponjosa, acredito em verdadeiros momentos de diversao. Mas só depois do jogo dos bróculos e da couveflor.

Quarta-feira é feriado aqui. Dia em que se comemora a reunificacao alema. Dava-me mais jeito o 5 de Outubro, mas tento nao me queixar muito, pois neste país há feriados para todo o gosto. Pelo menos, este ano nao tem sido nada mau. Quarta-feira festeja-se aquele momento, que na cabeca dos meus filhos será certamente longínquo, em que as duas partes da Alemanha se juntaram, voltando a ser uma só. Nao me esquecerei nunca das imagens que a televisao nao se cansa de repetir, das pessoas a saltar o muro e aos abracos, emocionadas.

couveflor para brincar ao debaixo-dos-cobertores

Hoje a noite comeca mais cedo, o que é de admirar pois passei hora e meia na cozinha, a fazer um bolo e um gratinado de batata, bróculos e couve-flor.
- Bola, guardei ali numa caixa de plastico no frigo o resto da couveflor, para amanha temperares. Depois, como na quarta é feriado, se andarmos à rasca dos intestinos, podemos ir pra debaixo dos cobertores fazer uma festa!
O Bola faz um tempero na couveflor inigualável... qualquer coisa avinagrada. Eu até lhe perguntava daqui aos berros, para ele ir ditando e eu escrevendo, mas está a dar a Lara Croft no Hollywood e ele já ficou com os olhos colados na televisao. E eu respeito, claro, pois se eu nao estivesse aqui, também estava a ver a Lara com o seu lábio sexy inferior a fazer fole.

Hoje esteve um bonito dia de Outono. Acho que já aqui expressei vezes sem conta a minha adoracao pela melhor estacao no país das Salsichas. Ainda hoje vinha do trabalho e a reparar nas tonalidades das árvores por que ia passando a caminho de casa. É que em Portugal acho que nao sao tantas as árvores a ganhar os tons de vermelho vivo como aqui. Será por termos menos árvores?
Ontem fui buscar o Bola à estacao e como vi que o comboio estava atrasado, entreti-me a ler os folhetos do supermercado. A luz era parca mas chegava para ver que o lombo de porco vai estar em promocao esta semana. Entretanto,a páginas tantas (do folheto, claro) vejo o Bola a iluminar-me o espelho retrovisor, aproximando-se do carro. Saio e dou-lhe um daqueles abracos apertados, como se já nao o visse há tres meses e nao tres dias. Até que ele me devolve ao chao docemente e depois grita tao alto que toda a estacao deve ter ouvido SCHEISSE!!, desatando a correr de seguida. As pessoas em redor olharam-me de lado e eu senti-me na obrigacao de dizer que era inocente. Pois. Esqueceu-se do seu casaco de 300 euros no comboio, que continuou caminho. Afinal, os comboios nao esperam por gente apaixonada que sai do comboio disparada atrás do seu amor moribundo, que já nao saía de casa há tres dias.
Felizmente, como este é um país ainda civilizado, bastou um telefonema para receber o saco de volta no comboio da meia-noite. É maldade dizer que se fosse em Portugal, ele já se podia ter despedido do casaco? É mal-dizer de emigrante? Pouco realista? Se for, desculpem, sim? A distancia torna-me desfasada da realidade do meu país.