No fim-de-semana passado fui com o Bola para Garmisch-Partenkirchen, a sul de Munique, pois os pais dele estavam lá de passagem. Quem conhece, sabe que é uma zona bem bonita, até mesmo para pessoas nada amantes de montanha como eu. A época alta em Garmisch é quando há neve, pois para quem quer fazer ski, é do melhor que a Alemanha tem para oferecer. Portanto, camaradas, se o ski for a vossa onda, deixem-se de Franca ou Áustria e vao até Garmisch.
Mas o episódio que marcou esse fim-de-semana foi o meu ataque de claustrofobia, dentro de um teleférico no qual sofri dez longos minutos. Ora, eu entro no teleférico alienada do que me esperava, a gerir pensamentos assim será que com esta idade também já tenho medo de alturas? Quando o teleférico comecou a subir, comecei a ficar com calor, o sol a bater-me na cara e o teleférico todo fechado, com apenas um palmo aberto no tecto do qual mal entrava ar e que segundo os meus cálculos de pessoa extremamente fora de si, nao chegava para o meu nariz e boca simultaneamente no caso de me me comecar a faltar o ar. Enquanto os meus sogros e o Bola olhavam para baixo e diziam que lindo, que maravilha, que lindas que sao as montanhas, e os prados e as vaquinhas, nós devíamos era ter uma casa na montanha, olha ali ainda uma pontinha de neve..., eu tentava controlar a minha respiracao, de forma a que nenhum deles se apercebesse que eu estava no estado que normalmente, no meu caso, se antecede à hiperventilacao. Nao comecei a rezar, porque imagino que Deus tenha de facto que se preocupar com outros casos mais dramáticos do que o meu. Mas fixei um ponto lá num vale e aí concentrei os meus pensamentos, repetindo numa vozinha que só eu podia ouvir, que se for para morrer, que me mandem para uma camara de gás, mas nao assim. Até que mais ou menos a meio da viagem, decido olhar para cima para tentar descobrir quanto tempo mais ia durar o horror, e aí só me faltou saltar para o pescoco do meu sogro e gritar-lhe para ele fazer alguma coisa. O teleférico comecou a andar devagarinho, muito devagar e o sol a derreter a minha cara com a mesma rapidez com que derreteria um gelado. O controlo do nosso corpo está na mente, sim, tudo bem. Foi isso que me obrigou a recuperar algo que eu nao definiria como calma, mas o mais parecido possível. Entao, a respirar a um ritmo que já nao mais se assemelhava a uma mulher em trabalho de parto, mas talvez a uma mulher autista, perguntei ao Bola se o telemóvel dele tinha rede. Ele respondeu que nao e perguntou-me se eu estava com medo. A minha boca diz que nao, o meu corpo colado à parede do teleférico e os bracos a tocar naquele buraco minúsculo, o único buraco em contacto com o lado de fora. Entretanto chegámos e eu fiz o resto do passeio muito calada, à procura de uma forma de regressar lá baixo de outra forma, uma que nao pusesse em risco a minha ainda bem conservada sanidade mental. A pé. Com o meu pé já tao danificado. Nao tive outra opcao, desci novamente no teleférico a comer uma maçã e na palma da minha mao escrevinhei um numero de telefone para emergencias, que encontrei la assinalado na parede de um palheiro. E sorri várias vezes para as duas pessoas estranhas extra que fizeram connosco a viagem para baixo, já a imaginar que poderia ter de precisar do telemóvel delas.
E acho que um dia vou querer ser cremada, porque este sonho constante de que sou enterrada viva quase acaba comigo. Chuif. Só costumo acordar o chorar quando chega aquela parte em que o Bola diz,já de mao dada com outra lambisgóia: aaaah, eu achava que ela já nao respirava.
Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca
quarta-feira, setembro 10, 2008
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1 comentário:
Não deve ser nada do tipo "Agatha Christie" mas então espera lá a que tipo de obra se assemelha este pequeno extracto de terror?! :)
Pai
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