Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

quinta-feira, abril 10, 2008

tragedias que se abatem sobre comuns mortais

Hoje estou em dia nao. Ando há vários dias a espumar de raiva com um assunto que me conseguiu tirar do sério. Agora que a minha relacao com a Tv cabo atingiu um nível de suavidade autentica, depois de esta me oferecer a anuidade dos canais de cinema, o nosso futuro senhorio informa-me que eu nao posso levar o prato do satélite para a casa nova. Chuif. A desgraca abateu-se sobre mim. Com que direito me dizem que eu nao posso manter os lacos com a terra-mae? Só me apetece barricar-me, até que abram uma excepcao ao meu caso, por eu ser uma pessoa especial.
O senhorio nao tem nada contra. O condomínio é que é feito por uma empresa, na qual existe aparentemente uma legislacao. Nessa legislacao, deve estar escrito o tipo de grafitti que se pode fazer nas paredes e deve incluir tambem uma lista negra dos miúdos que nao podem andar de baloico na praceta. Os alemaes sao bons em muitas coisas. Tecnologia, pontualidade, amigo do seu amigo e a fazer regras. Ah, e cumpri-las. Ou pensam que aquela história de um alemao às tres da manha no meio duma tempestade de neve, numa estrada com uma largura de 3 metros, parado no sinal em vermelho (onde nao se veem carros ate 300 metros), é invencao minha?

Fui-me informar na net e descobri alguns veredictos publicados de turcos e outros que tais, que se indignaram contra tal legislacao e levaram o caso para tribunal, acabando por ganhar o mesmo e, com isso, o direito à parabólica. Parece que existe uma lei, ou melhor, um direito à informacao, que estará a ser violado perante tal proibicao. Um estrangeiro tem no país das salsichas, o direito de montar uma antena parabólica no telhado do prédio em que vive, desde que seja claro que atraves do cabo nao receba pelo menos dois canais na língua materna. Foi isto que consegui encontrar na net, mas infelizmente sem documento oficial.
Escrevi um email muito sentimental à empresa que gere o condomínio, explicando que sem os telejornais da Tvi e dos morangos com acucar (isso ainda passa?) eu nao sobrevivo. Que dou aulas de portugues e preciso da televisao para manter a língua viva em mim. Que acordo com suores nocturnos e pesadelos de que me esqueci de como se fala portugues. Invoquei que as minhoquinhas que ainda nao existem mas existirao, terao que ser educadas pela mae com a língua e cultura em causa e que sem a televisao, esse processo nao pode ser assegurado. Depois terminei de uma forma um pouco brusca mas cheia de sentimento, em que escrevi, mais coisa menos coisa, que sou conhecedora dos meus direitos e que se se metem no meu caminho, hmmm.... escrevi coisas que acho que em portugues se traduz com palavras com alguns p's, tipo 'pariu'.
A ver vamos se ganho esta guerra. Estou no bom caminho, nao estou?
Agora só preciso de mandar uma adenda, na qual acrescento que desde que trabalho com brasileiros, que o risco de eu perder o contacto com o portugues original é muito maior. E que depois vao ter de ser os meus amigos (quais amigos?) e família a mandar-me umas chapadas, quando eu disser coisas tipo 'qui barato', 'qui legau', 'voce viajou na maionese' ou 'isso é o ó do borogodó'. Para que conste.

3 comentários:

Rita Maria disse...

Mas minhoca maria, ainda não nos contaste nada sobre uma casa nova. Já em Regensburg?

snowgaze disse...

Quando comecei a ler ia para te falar nessa tal lei... um estrangeiro tem que ter direito a ver a televisão na sua língua, pá! Esta história das parabólicas serem "proibidas" é das coisas mais irritantes que há por aqui (que os alemães à espera para atravessar no semáforo vermelho às 3 da manha quando não vem absolutamente ninguém não irritam, só fazem rir).

Joana disse...

hoje de manhã lembrei-me de ti e das regras dos alemães, quando ouvi no rádio um estudo sobre a pirataria informática na UE: a Alemanha é o país que mais a pratica e um dos países a nível mundial (no primeiro lugar estão, claro, os EUA!) mais "pirateiro". e depois vêm falar em regras, humpf!