Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

sexta-feira, junho 01, 2007

a long way down

Nao é facil trabalhar numa empresa dominada por homens. Há poucas mulheres. Quando vou almocar, tem dias em que entro e só vejo machame. E sinto que me observam e pensam mas que é aquilo, afinal também há coisas destas por aqui? Mas elas nao foram educadas pra ter filhos e ficar em casa?, ou é disso ou é da brasa que eu sou, porque toda a gente sabe que é só eu passar, que o transito pára. Normalmente, porque fiz qualquer coisa estupida, como deixar o carro ir abaixo. Outra vez. É do carro. É do carro. Também ja aconteceu eu estar sentada na cantina de nariz empinado a comer enquanto me fitavam com um olhar lascivo, que eu orgulhosamente fingia ignorar. Quando olhei para dois botoes da minha camisa desapertados, percebi que nao é a brasa que eu sou, é a parte do oferecida. Coitados dos metaleiros de mecacao azul.

Mas como eu estava a dizer, ter de fazer orcamentos para pecas de máquinas monstruosas da industria do papel, nao é pera doce nesta fase inicial, especialmente quando leio rolo, porca, roda de dentes ou tubagem e nao consigo bem ver a diferenca. E aí, faco um orcamento para despachar por aviao quando muitas vezes, sao pecas gigantes que teem de ser enviadas por barco. Eu tenho tanta experiencia de eléctrica e mecanica como de cabeleireira.

A parte mais engracada do meu trabalho é receber mails dos meus colegas do Brasil Oi Minhoca, tou precisando da sua ajuda. Voce sabe bla bla bla... pode passar pra mim? É que eu nao tou achando e o meu programa aqui é um saco. Brigada! Como foi seu final de semana?
Coisas assim. E vai daí, refastelo-me na minha cadeira, imagino que estou em Copacabana a beber um suco de mamao (tenho de fazer mesmo muita forca, mas imaginacao fértil é um dom que nao me foi negado) , com musica de fundo de Tom Jobim e comeco a escrever os meus fantásticos mails brasileiros do dia. Oi Arnaldo, já foi jogar volei na praia hoje? E mais tarde que tal a gente ir na lanchonete comer um pao de queijo?

Isto sem nunca deixar de ter em mente aquela imagem que idealizei dum ganda pao do outro lado do oceano, bronzeado, o tal brasileiro que eu vou referindo quando digo tanto brasileiro a passear-se de tanga bla bla bla e eu fui casar com o alemao... conhecem a deixa? É que eu sou repetitiva e tal, né? Todas temos o direito a sonhar com o nosso Alejandro Sanz imaginario! (mas nao na versao original: anao) Alejandro, se tiveres a ler isto, eres tan guapo que por ti pasaria la noche comendo gofres de chocolate untándote con chocolate por tu cuerpito de gnomo... e mais nao digo, porque qualquer dia o Bola apanha-me aqui em flagrante, é que ele acha que sabe falar portugues, mas o que sai daquela boquinha linda, é nada mais nada menos do que esse belo idioma que é o castelhano. Deve ter andado a ver os episodios da Dama de Rosa às escondidas. Ou da Floricienta.

Emigrante de caca que eu sou. Mudo de país e quase que mudo de língua. Mas voces nunca ouviram o meu brasileiro. É genial. Por isso é que ver a novela para mim é obrigatório. É quase estudo.

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