Relatos de uma Minhoca de sandália e meia branca

quinta-feira, janeiro 31, 2008

agridoce

Eu ainda nao caí em mim de tanta tristeza nem de tanta surpresa. Nem de tanta nao sei que. Já há muito que nao tinha estas demonstracoes de apreco por partes de terceiros. Alias, eu nunca tive uma demonstracao destas com tanta gente envolvida. Nem sei como nao chorei. Andei lá perto, o saco lacrimal estava prestes a rebentar, mas limitei-me às expressoes estúpidas que a minha cara insiste em fazer quando estou à beira das lágrimas, sendo que a minha disciplina fala mais alto. Eu andei a semana toda a preparar-me para nao chorar. Nao queria chorar. Mas apetecia-me, ainda antes de me despedir. Da mesma forma quando me despedi do Bola no ano em que o conheci e achei que nao o voltava a ver, tambem me impus nao chorar. E nao chorei. Pelo menos até ele desaparecer ao fundo da rua. Porque depois disso, a minha figura é muito fiel àquela do Ben stiller no filme Doidos por mary, na parte em que ele diz à mary pra ela ficar com o outro. Ou seja, pela rua fora de boca aberta num berreiro, com baba e ranho.
Hoje comecei a arrumar as minhas coisas à uma da tarde. Assim que os meus colegas me viram a limpar a mesa de esfregao e tudo, foi estranho, só me fazia lembrar aquele reclame da Optimus em que as pessoas comecam todas a correr na mesma direccao. Dou conta que todos os meus colegas se comecam a dirigir devagar e com ar sério na direccao da minha secretária. Ficaram ali em meu redor, a segurar numa série de coisas, todos com ar de quem está num funeral e eu sou, bom.... o caixao, pronto. Com os bracos cruzados ou as maos simplesmente estendidas em frente ao corpo, cruzando. Uma colega minha, comeca a falar e diz que eles estao todos ali para se despedirem de mim, porque me desejam tudo de bom e vao todos sentir muito a minha falta. Que desde que eu comecei a trabalhar ali, sentiram que eu levei comigo uma lufada de ar fresco e que nunca se vao esquecer de mim. Porque nao é possível alguem se esquecer de mim. Estamos a falar de trinta pessoas. Duas colegas minhas choram. Ou pestanejam assim a imitar o Bambi. Fiquei petrificada. Cada um se dirige a mim para me dar um abraco ou me apertar a mao, como se me estivessem a dar as condolencias! Depois deram-me umas prendas para aliviar a tensao. Uma torradeira florescente com sapos, já que eu andava a fazer torradas la no trabalho com a torradeira que eu levei, entretanto ferrugenta. Uma foto A4 com eles todos sentados ao pé do aquário, uma caneca com a mesma foto para eu levar para o meu novo emprego. Ainda me deram um ramo enorme de flores, um cacto e uma caixinha com dinheiro para a primeira gasolina. Fiquei sem saber o que dizer. Pouco disse. Mas ensinaram-me que a frieza dos alemaes é um rótulo. O que os meus colegas me fizeram hoje foi algo que eu acho que nunca mais me vai acontecer. Nao sei explicar como me senti. Foi... agridoce. Mais para o agri do que para o doce. Só me apetece chorar. Vou ver se choro tudo hoje, para arrumar com o assunto de vez.

6 comentários:

Meow disse...

Mas que atenciosos, hein? Tens de pensar no motivo que te fez procurar algo mais. Vais ver que essa tristeza passa.

gralha disse...

Cara Minhoca: obrigada pelo teu contributo para a boa imagem dos Portugueses na Alemanha. Para que vejam que nem todos são como os que batem palmas quando o avião aterra ou discutem aos berros com a mulher no super-mercado.

E agora vai lá fazer chorar mais uns colegas na nova empresa, vá!

Anónimo disse...

Que amorosos...
Espero que os recompenses com alguma coisa.
Sugestões:
1. Deixares mensagens tuas espalhdas em sítios que a propabilidade de eles a encontrarem seja só daqui a umas semanas ou meses.
2. Promoveres o dia da minhoca em que todos nesse dia tenham de comer as tuas couves de bruxelas esquecidas no frigorífico.
3. (...)
Se calhar é suficiente só chorares.

Boa sorte - deve ser muito bom ter--te como colega. Eu ía gostar.

Cromossoma X disse...

"Mas ensinaram-me que a frieza dos alemaes é um rótulo"
Gostei minhoca!!
Ja agora, partilho um pouco a opiniao do comentario anterior. Deve ser bom ter-te como colega!! Eu ia gostar... :)

S.A. disse...

Qdo tinha 20 anos fui fazer um estágio na alemanha. Estive lá 3 meses. Durante os primeiros 2 meses cada dia que passava riscava um dia no calendário. No início do 3º mês joguei o calendário fora. Qdo me vim embora foram todos levar-me ao aeroporto de Frankfurt (eu vivia em Eltville perto de Wiesbaden... ainda é um bocadinho) deramn-me balões, fotos deles com montagens, Um cartão ENORME cheio de dedicatórias e um peluche...
Nunca mais esquecerei aquilo... e é mesmo isso. Rótulos há muitos!

:)

(vai correr tudo bem vais ver!!)

Rita Maria disse...

São uns lamechas, estes daqui. E sabem falar sobre sentimentos, o quem em Portugal não sei se é tão verdade...mas esses hão-de ter tido as suas razões!